quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Duas notas e uma questão de fundo acerca de um encontro

Esta quinta-feira realizou-se em Lisboa o encontro "Entre a Vertigem e o Silêncio - Porque (não) há espaço nos media para o religioso". Três notas breves de um dia rico em participação:

1 - A ignorância parece ser um dos problemas graves com que nos confrontamos na hora de tratar informação religiosa: ignorância nas redacções, muitas vezes incapazes de avaliar a real importância de um acontecimento; ignorância nas instituições, sobre a forma como se devem relacionar com os profissionais dos media; ignorância dos jornalistas, que nem sempre descobrem o ângulo criativo que um acontecimento religioso pode ter.

2 - O que se passa nas redacções é apenas um indicador da incapacidade da sociedade portuguesa pensar o fenómeno religioso; e nas redacções nem sempre valorizamos as perguntas que as pessoas fazem e as experiências que vivem, privilegiando antes o institucional, o factor de conflito e os fait-divers.

3 - Uma questão de fundo: é verdadeiramente um problema cultural aquele que vivemos - a difícil relação dos media com as religiões (e vice-versa) é apenas um factor, entre outros. As universidades e o debate público, por exemplo, esvaziaram-se da reflexão sobre a dimensão religiosa - quando não traduzem ignorância na hora de a abordar.

No final do debate (no qual surgiram outras ideias importantes), apareceram propostas para continuar esta reflexão. A seu tempo, este blogue servirá de plataforma de encontro para esse efeito.





6 comentários:

  1. Saudações, companheiro(s).
    Mais do que a ignorância, preocupa-me a tal "descapitalização", o preconceito e, acima de tudo, a suposta irrelevância que alguns atribuem a estes temas. Se a resposta não pode ser feita no plano do debate cultural/histórico, pode ser feita com números, audiências, tiragens.
    De facto, um ângulo criativo vale mais que mil discursos e cativará mais leitores/ouvintes/telespectadores do que possamos imaginar.
    Seja como for, não podemos julgar que temos apenas respostas para dar, mas também muito para aprender.
    Abraço

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  2. Além de perceber como melhorar, temos de perceber onde estão as barreiras que nos impedem de abordar o fenómeno religioso da mesma forma que é abordada a política, a economia e o desporto. Mesmo se tivermos jornalistas formados e criativos a tratar do assunto, mesmo se as instituições religiosas funcionarem bem, mesmo se houver conteúdos interessantes, tudo continuará sempre dependente de haver espaço nos órgãos para que elas surjam. E isso, neste momento, e vendo as estatísticas e os testemunhos apresentados ontem, parece difícil.
    Com isto não digo que é inútil os jornalistas serem preparados ou as instituições religosas melhorarem as suas formas de comunicação. É só que, mesmo com tudo isso, continuará sempre a faltar "mais um bocadinho assim"...

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  3. Olá, gostava de deixar apenas um pequeno comentário. Mais do que religião, gostaria fosse abordado o assunto, espiritualidade. A ideia que tenho, é a de que as pessoas têm, lentamente, começado a despertar novamente para a sua espiritualidade, independentemente da religião que praticam, ou que não praticam. A religião pode ser considerada uma instituição e isso tem afastado as pessoas, enquanto que a espiritualidade é algo que carregamos dentro de nós naturalmente, com a qual nascemos e morremos, algo que apenas precisamos de aceitar como parte integrante de nós próprios e a consciência da sua importância nas nossas vidas.

    Cumprimentos

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  4. Três comentários interessantes, com contributos relevantes para esta conversa a continuar. Permitam-me que retenha a sugestão da Filipa, porque ela traduz uma das preocupações deste blogue. É que ele quer estar aberto a todas as dimensões da busca de sentido, que hoje se exprimem de muitos modos, com diferentes linguagens, viajando por diferentes caminhos.

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  5. Eu só tenho uma coisa a dizer sobre a discussão da religião...: como é que é possível que após 150 anos da publicação da "Origem das Espécies", com a quantidade de desenvolvimentos cientificos nas áreas da genética, sociologia, psicologia, física, etc.... ainda existe gente que acredita mesmo que existe um ser "lá em cima"....
    Fico estupefacto... só espero é que a discussão mude para: "o papel que a religião já não tem, e como a tornar apenas mais uma nota na história".
    Para a Filipa Simões: a "espiritualidade" não existe! Se conseguir provar que sim, tem direito a um prémio de 1 milhão de dólares (é mesmo verdade). Pense mas é nisto: O ser humano é apenas um acaso no universo.(ponto final).

    Muito obrigado, e viva ao Darwin

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  6. O mesmo milhão de dólares para si, Thule, se conseguir provar que não existe :) A fé não é uma questão de prova, a fé é acreditar em algo que não se consegue provar.

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