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O último acto do Juntos Pela Europa, em Munique, neste sábado à tarde
Comunidade de
Santo Egídio pede suspensão de artigo de Schengen para acolher refugiados em extrema vulnerabilidade
O Papa Francisco
quer que a Europa reflicta se o seu património é “parte de um museu” ou se
“ainda é capaz de inspirar a cultura e de doar os seus tesouros à humanidade
inteira”.
A pergunta foi
feita pelo Papa numa mensagem gravada e transmitida, em vídeo, na Karlsplatz,
no centro de Munique. Na capital da Baviera (Alemanha), terminou ontem, sábado,
o congresso Juntos Pela Europa, iniciativa que reúne cerca de 300 movimentos e
comunidades de diferentes igrejas cristãs – católicas, ortodoxas, protestantes,
anglicanas e igrejas livres.
Dirigindo-se a
umas quatro mil pessoas concentradas na praça – além dos participantes, também
outros que apareceram para a sessão final, incluindo mais de um milhar de
jovens –, o Papa afirmou que a Europa vive grandes problemas, que os cristãos
de diferentes igrejas devem saber enfrentar com o “acolhimento e a
solidariedade em relação aos mais débeis e desfavorecidos, construindo pontes e
ultrapassando conflitos”.
Aludindo aos
refugiados que buscam protecção no continente, Francisco insistiu na ideia de
uma Europa que coloque no centro a pessoa humana, através do acolhimento e da
cooperação económica, cultural e social.
O documento final
insiste numa ideia repetida por diferentes intervenientes e de muitos modos
durante os três dias de trabalho: a Europa, com uma profunda crise a
manifestar-se em vários aspectos – incapacidade de acolher os refugiados que
buscam protecção, o “brexit” da semana passada, a crise financeira que não se
ultrapassa –, não deve tornar-se “uma fortaleza e erigir novas fronteiras”.
Pelo contrário, afirmam, “não há alternativa ao viver juntos”.
As “experiências
terríveis de duas guerras mundiais” serve para mostrar onde pode acabar a
lógica dos egoísmos nacionais ou culturais, avisam os participantes.
Um apelo às Igrejas: já chega de separação
Também para os
responsáveis das igrejas cristãs vai um apelo, um ano antes de se assinalarem,
em 2017, os cinco séculos anos do início da Reforma protestante de Martinho
Lutero, e reconhecendo o contra-testemunho que é dado pela divisão das igrejas:
“Pedimos aos responsáveis das igrejas que ultrapassem as divisões. Enquanto
cristãos, queremos viver juntos, na reconciliação e em plena comunhão.”
“Quinhentos anos
de separação já são demais”, lembraram vários intervenientes no encontro.
Ambas as
mensagens – acolhimento à diversidade cultural, incluindo os refugiados; e
importância de um testemunho unido dos cristãos numa Europa que se esboroa –
foram repetidas sistematicamente pelos diferentes intervenientes na sessão
final, bem como nas músicas e danças executadas por bandas e grupos de jovens.
A questão dos
refugiados acabou por estar presente, implícita e explicitamente, em muitas
intervenções do congresso. E também em exemplos de iniciativas concretas.
O presidente da
Comunidade de Santo Egídio, Marco
Impagliazzo, contou como este grupo católico se envolveu com várias
igrejas evangélicas de modo a criar corredores humanitários para os refugiados
que buscam protecção na Europa.
Santo Egídio e as
igrejas evangélicas pediram ao governo italiano a suspensão de um artigo do
Acordo de Schengen por motivos humanitários, de modo a que o país possa
conceder um milhar de vistos a refugiados em situação de extrema
vulnerabilidade: doentes, deficientes, mães com crianças.
Estabelecendo corredores
humanitários seguros, com a viagem aérea paga por aquelas organizações e a
integração em comunidades locais, os refugiados escapam à morte no mediterrâneo
ou às redes mafiosas que ganham dinheiro com a tragédia.
Impagliazzo diz
que a ideia pode ser reproduzida em outros países. Na Polónia, a Conferência
Episcopal vai pedir ao Governo a mesma decisão. E, em França, está previsto,
para a próxima semana, um encontro de responsáveis da Comunidade com o ministro
dos Negócios Estrangeiros. “Espero que Portugal também” decida o mesmo, acrescenta.
Numa das suas
intervenções, o presidente da Comunidade de Santo Egídio referiu ainda que “a
Europa não pode esquecer África. Antes pelo contrário, tem por missão colaborar
com o seu desenvolvimento, na luta “pela democracia e contra pandemias como a sida
e a malária”.
Precisamente
nesta linha de ajuda, o fundador de Santo Egídio, o historiador Andrea
Riccardi, está nestes dias em Moçambique, para ajudar nas negociações
destinadas a preservar a paz no país – o que o impossibilitou de estar em Munique,
como previsto inicialmente.
Portugal: agir pela diversidade
Para Portugal, o
Juntos Pela Europa representa um “desafio enorme”, disse a presidente da
Conferência Nacional do Apostolado dos Leigos, Alexandra Viana Lopes.
“Somos chamados a
agir pela aprendizagem da diversidade dentro da Igreja Católica, entre cristãos
de diferentes confissões, na política ou em outras realidades sociais”, afirma.
Dando o exemplo
da política, a responsável da CNAL diz que os cristãos envolvidos na política
deveriam reflectir em conjunto sobre como encontrar caminhos de solução para a
economia e outros domínios de acção.
“Podemos receber
mais refugiados, mesmo se a Igreja e a sociedade civil já têm trabalho nesta
matéria. O bloqueio é a política europeia”, acrescenta, sobre a questão dos que
buscam protecção na Europa.
Acerca do diálogo
ecuménico, Alexandra Viana Lopes diz que já há trabalho comum com algumas
igrejas evangélicas, mas que é preciso alargar o campo de reflexão e de acção
conjunta.
(síntese dos textos publicados no DN e na agência Ecclesia;
texto anterior no blogue: Cristãos da Europa vão ao circo para defender integração dos muçulmanos - o primeiro dia do congresso Juntos Pela Europa, em Munique)
(síntese dos textos publicados no DN e na agência Ecclesia;
texto anterior no blogue: Cristãos da Europa vão ao circo para defender integração dos muçulmanos - o primeiro dia do congresso Juntos Pela Europa, em Munique)
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