Carlos de Foucauld (foto reproduzida daqui)
A propósito do 15º aniversário dos atentados de 11 de Setembro, uma
iniciativa de várias comunidades muçulmanas em Itália pretende abrir as
mesquitas do país, no próximo domingo, aos cristãos que as queiram visitar,
como forma de mostrar a recusa do terrorismo e a possibilidade da convivência
conjunta. A notícia pode ser lida aqui.
A iniciativa pretende assinalar também a festa do dia seguinte, quando
os muçulmanos assinalam o Eid al-Adha (Sacrifício de Abraão), uma das datas
mais importantes do calendário islâmico. Ao mesmo tempo, durante esta semana
(entre os dias 9 e 16), os muçulmanos peregrinam a Meca.
Sobre o diálogo inter-religioso, em especial entre cristianismo e
islão, o Igreja Viva, publica um texto de fr. Oswaldo Cruz, sobre Carlos de Foucauld, que viveu em
terras tuaregues e acabou assassinado por um grupo de salteadores. Foucauld, que viveu e morreu em
Tamanrasset, considerava ter aprendido muito com o islão, que lhe produzira uma
“profunda inquietude”:
No próximo 1 de Dezembro ocorre o
centenário da morte de Charles de Foucauld, o “monge missionário” francês
assassinado em Tamanrasset, no deserto saariano, por um grupo de saqueadores no
contexto da primeira guerra mundial.
Mas, apesar de ter sido
assassinado em terra muçulmana e por homens do Islão, o beato Charles não é um
mártir da Igreja no sentido clássico do termo, nem a responsabilidade da sua
morte pode ser atribuída diretamente ao Islão como religião. À distância de um
século ainda é lícito perguntarmo-nos: o que é que levou o visconde de Foucauld
a dar a vida pelos Tuareg e pelas tribos do Saara que ele amava como amigos?
Este tempo no qual vivemos é
considerado pelos observadores de muitos modos: era do caos, da ansiedade, do
medo, da psicose. E nenhum escapa à sensação de temor que o Islão incute no
mundo ocidental. Esta grande religião monoteísta é hoje sem dúvida a mais
contestada, a mais condenada, a mais “caricaturada”; todavia, é necessário ter
presente e repetir que geralmente temos uma imagem distorcida do Islão. Uma
coisa, no entanto, é partilhada pela grande maioria: nos quinze anos que nos
separam do 11 de Setembro vimos mudar profundamente as nossas vidas e
esfumarem-se muitas das nossas esperanças. Diante dos nossos olhos – afirma
Mario Calabresi – mudou drasticamente o mundo do trabalho, a economia e as
finanças, a ideia de relações internacionais, os ideais europeus e o modo como
vivemos. Um papel fundamental teve o terrorismo de matriz islâmica, as formas
sempre novas de jihadismo e as vagas de refugiados e migrantes que chegaram às
nossas Costas. Enquanto antigamente o encontro com o Islão dizia respeito
sobretudo aos cristãos do Médio Oriente ou aos apaixonados pelo mundo árabe,
hoje, querendo ou não, todos somos chamados a reflectir sobre esse encontro,
porque a todos nos diz respeito.
(o texto pode ser lido na íntegra aqui, em pdf)
Este blogue estará com publicações intermitentes durante as próximas
semanas
Publicação anterior:
Uma agenda não laicista, antes pela não-discriminação, para a liberdadereligiosa – o programa do novo presidente da Comissão de Liberdade Religiosa, José
Vera Jardim
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