O documento "Carta a los obispos de la Iglesia Católica sobre la colaboración del hombre y la mujer en la Iglesia y en el mundo" (recorro aqui à versão em castelhano), divulgado no sábado pela Congregação para a Doutrina da Fé, do Vaticano, não parece trazer nada de especialmente novo sobre o tema. Depois de o ler, ocorrem-me dois ou três comentários:
- Preocupado em desmontar contradições de algumas correntes feministas, o documento esquece o valor intrínseco inerente ao processo histórico da emancipação das mulheres. O que diz bastante da "mentalidade" que subjaz à reflexão.
- Isso mesmo se observa no destaque que a Congregação para a Doutrina da Fé confere ao lugar da mulher na família, omitindo um aspecto que se esperaria fosse pelo menos referido e valorizado: a participação do homem nas tarefas domésticas e na educação dos filhos. O documento contém argumentos para valorizar este aspecto do problema, mas os autores não foram por aí.
- Não se percebe de todo, a meu ver, a lógica da argumentação que leva, no ponto 16, a reafirmar que a ordenação sacerdotal seja exclusivamente reservada aos homens.
- O título do texto refere-se ao homem e à mulher. Os 17 pontos da reflexão apresentam-se centrados, de uma forma quase obsessiva, na mulher. Os especialistas da análise textual encontrarão aqui farta e interessante matéria de estudo.
- A conclusão, para mim, é esta: não pondo em causa a legitimidade e interesse da posição oficial do Vaticano sobre o tema, o documento propõe-se combater enviesamentos com posições elas próprias também enviesadas.