José Manuel Pureza, 52 anos, professor universitário
1 – Creio que seria importante distinguir dois níveis de “experiência religiosa” (e referir-me-ei apenas ao cristianismo) para efeitos desta resposta. O primeiro é o da experiência pessoal. Aí, as grandes transformações sociais das últimas décadas terão provocado a evidência de fragilidades na cultura teológica e no relacionamento entre fé, ciência e sociedade. A condição crente tem vindo a ser desafiada a sacudir de si a carga de filiação num colectivo de verdades apodícticas e a assumir-se cada vez mais como imitação da vida de Jesus. O segundo nível de avaliação refere-se à experiência comunitária. E aí creio que se regista uma polarização entre uma reacção conservadora, que ensaia um regresso a uma visão “forte” da linguagem religiosa contra um suposto "deserto interior"- e daí o discurso d'"A verdade contra o relativismo" - e uma reacção de abertura aos diálogos difíceis no pressuposto de que a laicidade é um pilar de emancipação inultrapassável.
2 – Só pode fazer essa leitura através de uma observação participante plural e nunca a partir de uma posição de exterioridade ou de superioridade catedrática. Quem joga à defesa dificilmente vê marcas de Deus porque está mais preocupado/a em identificar contra-sinais. Há na Igreja uma nostalgia incompreensível dos "gloriosos tempos" da Acção Católica e de outros movimentos de massas como se este tempo de pós-cristandade estivesse despido de canais de detecção do fluir da realidade e da sua mutação permanente.
3 – A expressão “nova evangelização” é pastoralmente datada e tributária de um espírito de “reconquista” de uma hegemonia cultural perdida. Nesse sentido, acho que é uma lógica carregada de equívocos. As dinâmicas de secularização convocam, em termos definitivos, a um espírito de despojamento dos cristãos relativamente ao mundo e de estima pelo pluralismo a todos os níveis. Evangelizar no sentido de marcar as realidades a acontecer com o espírito libertador de Jesus é uma tarefa que dispensa bem todo o saudosismo de uma Igreja a marcar institucionalmente (e ideologicamente) a agenda do debate público.
4 – Em boa parte do seu discurso público, tem. A redução do espaço da decisão ética pessoal e colectiva é, aliás, uma das marcas de desajustamento da Igreja relativamente aos nossos tempos plurais. Isto dito, não pode deixar de se sublinhar a importância (positiva) que dou ao pronunciamento público de vozes da Igreja a respeito de questões como a guerra e a paz ou a assimetria de oportunidades em escala planetária ou o universo do trabalho e dos direitos sociais - aí, o questionamento ético de orientações sociais e políticas dominantes tem tido um papel muito relevante.
5 – Toda a prioridade à “desadministrativização” da organização das comunidades. Todo o apoio às pequenas comunidades de referência e de testemunho. E todo o investimento no serviço desinteressado aos mais pobres. Com a linguagem do mundo, para que o mundo a possa entender.
1 – Creio que seria importante distinguir dois níveis de “experiência religiosa” (e referir-me-ei apenas ao cristianismo) para efeitos desta resposta. O primeiro é o da experiência pessoal. Aí, as grandes transformações sociais das últimas décadas terão provocado a evidência de fragilidades na cultura teológica e no relacionamento entre fé, ciência e sociedade. A condição crente tem vindo a ser desafiada a sacudir de si a carga de filiação num colectivo de verdades apodícticas e a assumir-se cada vez mais como imitação da vida de Jesus. O segundo nível de avaliação refere-se à experiência comunitária. E aí creio que se regista uma polarização entre uma reacção conservadora, que ensaia um regresso a uma visão “forte” da linguagem religiosa contra um suposto "deserto interior"- e daí o discurso d'"A verdade contra o relativismo" - e uma reacção de abertura aos diálogos difíceis no pressuposto de que a laicidade é um pilar de emancipação inultrapassável.
2 – Só pode fazer essa leitura através de uma observação participante plural e nunca a partir de uma posição de exterioridade ou de superioridade catedrática. Quem joga à defesa dificilmente vê marcas de Deus porque está mais preocupado/a em identificar contra-sinais. Há na Igreja uma nostalgia incompreensível dos "gloriosos tempos" da Acção Católica e de outros movimentos de massas como se este tempo de pós-cristandade estivesse despido de canais de detecção do fluir da realidade e da sua mutação permanente.
3 – A expressão “nova evangelização” é pastoralmente datada e tributária de um espírito de “reconquista” de uma hegemonia cultural perdida. Nesse sentido, acho que é uma lógica carregada de equívocos. As dinâmicas de secularização convocam, em termos definitivos, a um espírito de despojamento dos cristãos relativamente ao mundo e de estima pelo pluralismo a todos os níveis. Evangelizar no sentido de marcar as realidades a acontecer com o espírito libertador de Jesus é uma tarefa que dispensa bem todo o saudosismo de uma Igreja a marcar institucionalmente (e ideologicamente) a agenda do debate público.
4 – Em boa parte do seu discurso público, tem. A redução do espaço da decisão ética pessoal e colectiva é, aliás, uma das marcas de desajustamento da Igreja relativamente aos nossos tempos plurais. Isto dito, não pode deixar de se sublinhar a importância (positiva) que dou ao pronunciamento público de vozes da Igreja a respeito de questões como a guerra e a paz ou a assimetria de oportunidades em escala planetária ou o universo do trabalho e dos direitos sociais - aí, o questionamento ético de orientações sociais e políticas dominantes tem tido um papel muito relevante.
5 – Toda a prioridade à “desadministrativização” da organização das comunidades. Todo o apoio às pequenas comunidades de referência e de testemunho. E todo o investimento no serviço desinteressado aos mais pobres. Com a linguagem do mundo, para que o mundo a possa entender.
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