terça-feira, 31 de março de 2015

Naquele tempo... não! Hoje.

Crónica

Na sua crónica de domingo passado, no Público, frei Bento escreve sobre as expectativas dos discípulos de Jesus e os discursos do Papa em Nápoles:

Hoje, Domingo de Ramos, começa a Grande Semana – a da esperança invencível - e dedicada, pela liturgia católica, a evocar a condenação à morte, por crucifixão, de Jesus de Nazaré. Pelo que consta, isto aconteceu devido a interesses político-religiosos, provavelmente, no dia 7 de Abril do ano 30, véspera do grande dia da Páscoa judaica. 
Cristo não morre mais. Esta semana será santa se as vítimas da dominação económica, política, religiosa e de qualquer discriminação forem o nosso cuidado afectivo, orante, político. “Ao tocar nas feridas do mundo, tocamos em Deus” (T. Halík).
(texto na íntegra aqui)

domingo, 29 de março de 2015

Óscar Romero, 35 anos depois da morte: Se o grão de trigo morrer, dará muito fruto




A imagem de Óscar Romero no pórtico dos mártires na 
Abadia de Westminster, a catedral anglicana de Londres; 
a estátua de Romero está colocada entre as que representam Luther King e Dietrich Bonhoeffer


Antes da missa, o seu último acto tinha sido ir até junto ao mar, com um grupo de amigos, para “estudar” um recente texto do Papa João Paulo II sobre formação do clero.
Nesse dia, antes de celebrar a eucaristia na capela do Seminário Maior, em San Salvador, decide mudar o texto do Evangelho. Escolhe a passagem de São João, capítulo 12, quando Jesus diz: “Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas, se morrer, dará muito fruto.”
Antes de ser morto, o arcebispo Óscar Romero ainda tivera tempo de explicar, durante a homilia, que, apesar das ameaças de morte que lhe eram feitas, ele estava disposto a continuar a lutar contra a violência e a favor dos mais desprotegidos de El Salvador. “Outros continuarão, com mais sabedoria e santidade, os trabalhos da Igreja e do meu país”, dizia.
Nesse dia, o arcebispo de San Salvador (capital de El Salvador) seria morto, durante a celebração da missa, pelas balas dos esquadrões paramilitares.
A história das últimas horas de vida do arcebispo de San Salvador, que foi assassinado há 35 anos (que passaram dia 24) foi contada há dois anos, em Lisboa, por Gregorio Rosa, bispo auxiliar de San Salvador, que chegou a trabalhar, já nesse cargo, com Óscar Romero.
D. Gregorio esteve em Portugal em 2013 para apresentar o livro A Doce Violência do Amor (Consolata Editora), que recolhe excertos de textos e homilias de D. Óscar. Como este, que serve de epígrafe e justifica o título: “Nunca ensinamos a violência. Apenas a violência do amor, a violência que pregou Cristo numa cruz, a violência que faz cada um a si mesmo para vencer os seus egoísmos para que não haja desigualdades tão cruéis entre nós. Essa não é a violência da espada ou do ódio. É a violência do amor e da fraternidade; a violência que se propõe transformar as armas em foices de trabalho.”
Agora, e após 35 anos de hesitações, o Vaticano reconheceu finalmente o martírio de Óscar Romero, que abre caminho à sua beatificação – a 23 de Maio próximo, em San Salvador.
Esta decisão só foi possível graças à decisão do Papa Francisco, tomada pouco depois da sua eleição, em 2013. Até porque, como reconheceu há pouco o arcebispo italiano Vincenzo Paglia, presidente do Conselho Pontifício para a Família e postulador da causa de beatificação de Romero, houve muitos obstáculos a vencer dentro do próprio Vaticano.

sábado, 28 de março de 2015

Deus-mãe, sem-abrigo no museu e a maior intensidade

Na sua crónica deste sábado, no DN, Anselmo Borges pergunta: E se Deus fosse mãe?

Não há dúvida de que Jesus contribuiu decisivamente para a emancipação feminina. Também São Paulo reconheceu a radical dignidade de homens e mulheres e refere nomes de apóstolas - na Carta aos Romanos, por exemplo, escreve: “Saudai Andrónico e Júnia que tão notáveis são entre os apóstolos.” No entanto, a Igreja Católica é hoje a última grande instituição machista no Ocidente. Sem uma rápida conversão, ela, que, sucessivamente, desde o século XVIII, foi perdendo os intelectuais, os operários e os cientistas, os jovens, acabará por perder as mulheres.


Ontem, no CM, sob o título Os sem-abrigo no museu, Fernando Calado Rodrigues comentava a distribuição de exemplares dos Quatro Evangelhos aos peregrinos na Praça de São Pedro, com a ajuda de pessoas sem-abrigo, bem como a visita gratuita aos Museus do Vaticano oferecida pelo Papa a 150 pessoas sem-abrigo:

“Os mais necessitados são os que nos dão a Palavra de Deus”, disse o Papa. (...) Desta forma “os mais carenciados, que geralmente apenas têm acesso à escadaria exterior à colunata da Praça de São Pedro” tiveram a oportunidade de “apreciar o património artístico do Vaticano”, de acordo com uma nota divulgada pela Santa Sé.


Na Voz da Verdade, no comentário aos textos bíblicos da liturgia católica deste Domingo de Ramos, Vítor Gonçalves toma a frase do Evangelho de São Marcos, “Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus” (Mc 15, 39) para escrever sob o título A maior intensidade:
                
Entramos na Semana Santa com a promessa de muito calor! E tudo se conjuga para umas pequenas férias vividas com intensidade, no calor primaveril, depois da chuva, neve e vento que pareciam prolongar o inverno. Estes são também os dias de maior intensidade da liturgia cristã ao celebrar a Páscoa de Jesus na nossa vida. Na força dos gestos e das palavras que se escutam, reviver os passos de Cristo, do sofrimento à explosão da vida ressuscitada, não é uma simples memória, nem a reprodução gasta de ritos ancestrais. É confrontar-nos de novo com o que é importante e decisivo em ser cristão. A Páscoa, mais do que uma data, é um dinamismo de vida nova, um princípio de mudança e de transformação do que está mal e pode ser bem e melhor. Se não nos comprometer com maior intensidade no crescimento das pessoas e do mundo, como Deus nos mostra em Jesus crucificado e ressuscitado, talvez o melhor seja mesmo aproveitar uns dias de sol e praia!


(ilustração reproduzida daqui)

quinta-feira, 26 de março de 2015

Entre o destino e a liberdade: o percurso histórico do problema da predestinação

Agenda


Começou esta manhã e vai até sábado o workshop sobre Entre o destino e a liberdade: o percurso histórico do problema da predestinação, organizado pelo Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR), da Universidade Católica Portuguesa (UCP).
Na apresentação da iniciativa, o CEHR diz: “(...) Enquanto dispositivo de legitimação da ordem social e da modelação de comportamentos, a predestinação consiste numa problemática que tem efeitos na esfera político-cultural. A relação entre as conceções deterministas e as sociedades não é estática mas recíproca, na medida em que as primeiras podem ser influenciadas por condicionantes geopolíticas, pela natureza do sistema religioso e pelas dinâmicas sociais e culturais. Os universos religiosos desenvolveram padrões de gestão desta relação dialética, muitas vezes tensional, entre o determinado ou determinável pelo divino e a autonomia do humano, organizados em torno da rejeição da existência da predestinação, da negociação com o sagrado, ou da resignação à sua vontade.
Extravasando o universo judaico-cristão, o destino é um conteúdo nevrálgico e, por isso, transversal às várias religiões. (...)”
Os objectivos e programa do encontro podem ser consultados aquiOs trabalhos decorrem no auditório 2 do edifício antigo e na Sala de Exposições(piso 2) do edifício da Biblioteca.

terça-feira, 24 de março de 2015

A crise da Europa e a Igreja

Agenda


O Rapto de Europa. Pompeia, Casa de Giasone

Um debate sobre A Crise da Europa e a Igreja que juntará Viriato Soromenho-Marques e Luís Salgado de Matos decorre esta quinta-feira, no Centro de Reflexão Cristã, a partir das 18h30.
Na sessão de Fevereiro da iniciativa Escutar a Cidadeo professor universitário e ensaísta Soromenho-Marques apelou a que “a Igreja Católica utilize todas as suas estruturas para dinamizar uma discussão livre sobre as grandes questões europeias – modelo de construção, assimetria Norte-Sul, dívida – num ambiente de fraternidade”. E recordou a ideia do perdão como dimensão política, proposta por Hannah Arendt, “não como uma atitude de desobrigação do outro, mas como um vínculo entre aquele que ofende e aquele que foi ofendido”, na perspectiva da inclusão de todos.

Com entrada livre, o debate decorre na sede do CRC (R. Castilho, 61 – 2º Dto), em Lisboa.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Mulheres, Família e Igreja – um debate em crescendo

O Movimento Internacional Nós Somos Igreja promove, nesta quarta-feira, um encontro de debate sobre Mulheres, Família e Igreja. Será a partir das 21h, na Capela do Rato (Calçada Bento da Rocha Cabral, 1-B), em Lisboa, e nele participam Maria do Rosário Carneiro, ex-deputada e professora universitária, e Anália Torres, socióloga.


Ferdinand Hodler, The Sacred Hour, 1907, Kunsthaus, Zurich
(ilustração reproduzida daqui)

Esta iniciativa acontece no contexto de preparação para o segundo Sínodo dos Bispos sobre a família, e também num momento em que surgem cada vez mais leituras, comentários  e interpretações sobre as tomadas de posição do Papa acerca da questão das mulheres na Igreja.
Há mesmo quem pergunte se o Papa será feminista. Num texto publicado em Le Monde des Religions, Bénédicte Lutaud recorda diversas declarações e gestos do Papa sobre a questão: “As mulheres devem ser mais consideradas na Igreja”, disse já o Papa Francisco, que também lavou os pés a mulheres em Quinta-Feira Santa (acto não permitido pelas regras litúrgicas), gesto que aliás repetirá na mesma cerimónia do Lava-Pés deste ano, de novo numa prisão. 
O Papa insistiu já em diferentes ocasiões no “papel particular” das mulheres em abrir o caminho para Jesus e convidou a Igreja a reflectir sobre o papel da mulher nas instâncias onde se tomam decisões importantes (como faz na Evangelii Gaudium – EG 104). E, depois de colocar homens e mulheres em paridade na Comissão Pontifícia para a Protecção de Menores, convidou cinco teólogas para a Comissão Teológica Internacional, dizendo que elas não podem ser apenas “a cereja em cima do bolo”.

Teólogos a cheirar a povo e a rua

Crónica

Na crónica de domingo, no Público, frei Bento escreveu sobre Teólogos a cheirar a povo e a rua, a partir de uma carta do Papa à Faculdade de Teologia da Universidade Católica Argentina, já aqui referida:

Tudo somado, quem é o estudante de teologia que a UCA está chamada a formar? Não é um teólogo de museu, que acumula dados e informações sobre a Revelação sem saber o que fazer deles, nem um mirone da história, mas uma pessoa capaz de construir humanidade à sua volta, transmitir a verdade cristã em dimensão humana. Não o intelectual sem talento, o éticista sem bondade, o burocrata do sagrado.
O Papa escreveu à UCA, mas o que disse deveria interrogar as faculdades de teologia de todo o mundo. Sentem-se os teólogos das universidades europeias interrogados pela crise que afectou, sobretudo, os países do sul? Que misericórdia manifestou a Alemanha, pátria da teologia?
(texto integral aqui)

sábado, 21 de março de 2015

Cruzes, eleições e Concílio

Crónicas

No comentário à liturgia católica deste domingo, sob o título Atraídos por quem?, escreve Vítor Gonçalves:

Não é a propagação de cruzes que significa crescimento do cristianismo (infelizmente, em nome de Jesus e das ideias de muitas épocas, continuaram a ser lugar de suplício!) mas a vida entregue, em cada dia, por um mundo mais fraterno e humano, que homens e mulheres cheios do amor de Cristo continuam a dar.
Não é a cruz que salva mas o amor que nela foi e é crucificado. Não nos especializemos em fazer cruzes, mas em viver do amor até ao fim, que é o de Jesus. Nas coisas simples e profundas de cada dia, na atenção ao essencial, no esforço e no trabalho que elevam, na dedicação e não na burocracia. Onde existem cruzes que merecem receber o amor que atrai!
(texto integral aqui)


No DN de hoje, Anselmo Borges escreve sobre Periferias, eleições e Portugal:

Deus ama o mundo: este é o núcleo da mensagem do Evangelho, o que significa que, ao contrário do que tem feito frequentemente, a condenação do mundo, concretamente, do mundo moderno, não pode constituir programa para a Igreja. Esta é a mensagem do Papa Francisco, que conquistou o coração das pessoas precisamente pelo amor. No meio deste nosso mundo perigoso e sem esperança, ele "constitui a única e a grande reserva moral global", escreveu o eurodeputado Paulo Rangel. (...)
E a Igreja? Paulo Rangel, depois de ter apresentado Francisco, que "tem sabido ser um profeta do exemplo", escreveu que "à Igreja portuguesa falta o sentido profético e a nós mingua-nos o exemplo".
(texto integral aqui)


Ontem, Fernando Calado Rodrigues escrevia no CM sobre Descongelar o concílio:

Seja através de um novo concílio ou pelo aprofundamento do caminho iniciado há cinquenta anos, o que parece evidente é que a Igreja precisa de continuar a abrir-se ao mundo, como desejava João XXIII e de sair de si como tem proposto o atual Papa. Que prefere “uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”, como escrevia na Evangelii Gaudium”. Este é mais um passo para ir ao encontro das “periferias geográficas e existenciais”.
(texto integral aqui)

segunda-feira, 16 de março de 2015

Frei Bento Domingues: Religião e condenação, e a missa como antidepressivo

Crónicas

Na sua crónica de domingo passado, no Público, frei Bento Domingues escreve sobre Uma religião que condena está condenada:

Os movimentos de leigos e, sobretudo os mais elitistas, que se julgam a verdadeira Igreja, a do futuro, não escapam às interpelações de Bergoglio. Ao caminho “Neocatecumenal” fez-lhe observações muito concretas para as correcções de rumo e de métodos, inscrevendo-o nas igrejas locais, de forma inculturada, vencendo as suas tentativas monopolistas. 
Foi, porém, no encontro de 7 de Março, com o movimento Comunhão e Libertação – que se julgava um modelo de fidelidade a Roma na luta contra todos os desvios do catolicismo pós-conciliar –, que o Papa aproveitou para marcar o primado na moral cristã e fazer a denúncia da substituição da centralidade de Cristo pelo meu método espiritual, o meu caminho espiritual e o meu modo de o implementar. É uma forma de sair do Caminho e ficar com o carisma petrificado numa garrafa de água destilada, de se tornar guias de museu e adoradores de cinzas.
(texto completo aqui; o texto do discurso do Papa a que se faz referência já pode ser lido em português aqui)


Na semana anterior, a crónica tinha sido sobre A missa como antidepressivo:

Não estou a defender missas engraçadas nem missas desgraçadas. São ambas depressivas. A graçola não é a melhor linguagem litúrgica, embora não caia o Carmo e a Trindade se, numa celebração, escorregar alguma expressão que não agrade a todos os ouvidos. As comunidades não podem nem devem adoptar todas o mesmo padrão. Seria negar as exigências da inculturação litúrgica. Não vejo mal nenhum em que os católicos, quando isso é possível, possam escolher as celebrações que sejam, para eles, as mais significativas e estimulantes. Todas, porém, devem ser suficientemente abertas para não negarem a sua essência cristã: serem família com quem não é da família. 
(texto completo aqui)