terça-feira, 31 de outubro de 2017

Nos 500 anos da Reforma protestante. alguns textos


A propósito desta data tão relevante para a história das religiões e para as sociedades, a editora Wiley abriu o acesso a um conjunto de artigos de revistas científicas que edita, alusivos à efeméride e à Reforma em geral.
Os artigos estão todos em inglês e podem ser consultados AQUI.
Eis alguns dos títulos:

Putting the Protest Back into Protestant
Christine Helmer
The Ecumenical Review

Reformation Revisited: Women's Voices in the Reformation
Kirsi Stjerna
The Ecumenical Review

What Kind of Reformation?: The 500th Anniversary of the Reformation and Today
Konrad Raiser
The Ecumenical Review

The World Mission Conference 2018: An Approach from Germany
Christoph Anders
International Review of Mission

Renaissance Catholicism and Contemporary Liberalism: Western Ideology on the Eve of the Reformation
David A. Hughes
Journal of Religious Ethics

Christendom Versus Empire
Peter Milward
The Heythrop Journal

Martin Luther on Preaching Christ Present
Allen G. Jorgenson
International Journal of Systematic Theology

Early Modern Protestant Virtuosos and Scientists: Some Comments
Kaspar von Greyerz
Zygon: Journal of Religion and Science.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Sobre os ventos franciscanos que sopram do Vaticano


      A propósito da recente correção do Cardeal Sarah, feita pelo Papa Francisco, relativamente ao papel do Vaticano acerca das traduções dos textos litúrgicos:
      "Francisco não é fã de esclerose. A visão que ele tem de uma Igreja engajada, a acompanhar o povo, um hospital de campanha, sujando-se nas ruas, é o contrário da mentalidade de “prisioneiro do Vaticano” que predominou na segunda metade do século XIX e que ainda predomina entre todos aqueles católicos doutrinários que se preocupam mais com a contaminação do que com a evangelização, aqueles que, involuntariamente, matam a tradição porque querem que ela seja estática e imóvel – irreformável, como gostam de dizer –, quando uma tradição, que é viva, está sempre se alargando, adaptando-se, estendendo a mão de volta às suas fontes mais profundas para ultrapassar as incrustações culturais que impedem o crescimento saudável.
      Não devemos zombar destas incrustações culturais, tampouco deveriam elas ser abandonadas, pois representam as tentativas das gerações anteriores de viver a fé que tiveram, e uma fé que não gera cultura é uma fé morta. Mas a fé também morre quando confundimos estes antecedentes culturais com exemplos completamente adequados de inculturação para a nossa época e nossas culturas. Não honramos os que vieram antes de nós pondo os pingos nos nossos i’s e cruzando os nossos t’s de forma servil. Nós os honramos certificando-nos de que a nossa fé antiga, em nosso tempo, está gerando cultura também".
      Michael Sean Winters, in National Catholic Reporter, 25-10-2017, com tradução de Isaque Gomes Correa. Texto completo AQUI. [Imagem: quadro de Ellsworth Kelly]

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Uma compreensão dinâmica da tradição da Igreja: o caso da pena de morte


O Papa Francisco pronunciou em 11 de setembro último um discurso curto mas de grande alcance, pelo seu significado. Foi a propósito dos 25 anos do Catecismo da Igreja Católica. O texto pode ser lido em Português aqui: http://bit.ly/2zhaYHg. Entretanto, já esta semana, o historiador italiano Massimo Faggioli, professor da Villanova University, nos Estados Unidos, publicou um artigo de comentário a esse discurso no sítio de La Croix International, que publicamos a seguir, recorrendo à tradução feita por Moisés Sbardelotto no site noticioso do Instituto Humanitas da Unisinos, Brasil. Eis o texto:

"O legado teológico de Joseph Ratzinger pode ser significativo, mas, provavelmente, não do modo como os seus fãs neotradicionalistas podem pensar.
Um importante estudo de caso que sugere isso está ligado ao recente discurso que o Papa Francisco proferiu no 25º aniversário do Catecismo da Igreja Católica. O discurso é significativo no modo como confirma vários componentes teológicos chave desse pontificado e do atual momento do catolicismo.

domingo, 8 de outubro de 2017

José Maria Cabral Ferreira sj: comunicar com todo o afecto


In Memoriam (Porto, 10/02/1933 – Lisboa, 15/09/2017)




As últimas semanas ficaram marcadas pela partida de pessoas que se tinham tornado referências em diversos âmbitos e para diferentes gerações. Depois do bispo do Porto, D. António Franciscoe antes de D. Manuel Martinsprimeiro bispo de Setúbal, e de Jorge Listopadencenador e escritor, morreu, no dia 15 de Setembro, o padre José Maria Cabral Ferreira. Natural do Porto, onde viveu e trabalhou durante as últimas décadas, estava em Lisboa quando morreu, pois para ali tinha sido encaminhado para receber cuidados de saúde.
 Jesuíta há 65 anos, padre há 54 anos, sociólogo de formação e profissão, o padre José Maria era uma pessoa que marcava todos os que com ele se cruzavam. Um deles, companheiro na Ordem e amigo de muitos anos, foi o padre Vasco Pinto de Magalhães, que publicou esta semana, na página dos Jesuítas de Portugal, o testemunho que a seguir se reproduz (o título e subtítulos são aqui acrescentados ao texto).


Vida e morte do P. José Maria Cabral Ferreira sj
(texto do padre Vasco Pinto de Magalhães sj)

Falar do padre Zé Maria, na hora da sua morte?… Sinto um turbilhão de imagens e de conversas que se atropelam no meu espírito. Uma amizade espontânea e construída, sobretudo nestes últimos 30 anos, dezoito deles a viver na mesma comunidade jesuíta do Porto, não se resume facilmente. Uma das suas características era a de fazer e deixar amigos por todo o lado. Como se nada fosse! 
Posso partilhar algumas coisas que fizemos juntos e foram marcantes, recorrendo ao meu “Álbum de memórias”. Abro à sorte, aqui, por exemplo, estamos na Sicília. Percorremo-la, nesse verão, de uma ponta à outra, contemplativamente… Ele sempre se distraiu com as horas! Mas sempre havia onde ficar, pois em todo o lado (e isto também no resto da Itália) encontrava um casal amigo, um arquiteto seu conhecido, um padre de paróquia aonde, antes, teria vindo ajudar na Páscoa, etc. Agora, aqui, esta foto é no Centro Pedro Arrupe (Istituto di formazione politica), que ele tanto queria visitar em Palermo: conversando sobre os grandes desafios impostos pela Máfia e as questões sociais graves da região. Mas, no dia seguinte, sem horas marcadas, em Agrigento, no Vale dos Templos, mergulhámos num grande silêncio só interrompido quando, de repente, ele começava a recitar algum texto dos clássicos ou uma poesia que parecia responder a alguma observação minha sobre a paz ou a estética do lugar, mas ele ia muito mais além.
Torno a abrir o Álbum e, agora, estamos em Exercícios Espirituais, nada mais, nada menos do que no grande Mosteiro cisterciense de Santa Maria la Real de Oseira. Oito dias, bem inacianos, dando pontos de meditação um ao outro, e participando nas horas canónicas cantadas no coro dos monges. Largos passeios silenciosos; uma paragem debaixo de um grande castanheiro e lá vinha a sua reflexão a partir das saborosas bolachas que os monges fabricavam e nos ofereciam e dali nos levava o pensamento até S. Bento e à construção da Europa (em Ora et Labora), e daí saltava para o seu Douro vinhateiro ou para as pequenas aldeias de Trás-os-Montes onde tinha trabalhado e deixado grande parte da sua alma social. 

Aulas que marcaram gerações

O padre Zé Maria não era um sociólogo de cátedra. As suas aulas, quer na Faculdade de Arquitetura quer no Instituto de Serviço Social do Porto, marcaram fortemente várias gerações. Mas onde se sentia mesmo bem era no trabalho de campo, ou melhor, comunicando com as “gentes” de todo o tipo e com todo o afecto. O tempo e cuidado que dedicava à JARC, aos grupos que vinham das suas terras reunir com ele ao Porto, a alegria com que participava nas celebrações da Comunidade da Serra do Pilar e a admiração pelos seus amigos “padres operários”, a presença no Banco Alimentar do Porto, a importância que dava aos encontros e às pessoas ligadas ao Metanoia, à CNIS (Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade) de que foi um dos fundadores e, como ele próprio dizia, a sua “quase-obsessão” pelo “Bairro Português de Malaca” onde trabalhou, viveu e escreveu, mostram bem a sua inquietação pela justiça e pelos “esquecidos”, juntamente com seu sentido crítico e ao mesmo tempo apaixonado, fazem o seu retrato. 

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Jorge Listopad (1921-2017): aproximar o mundo visível do invisível

In Memoriam

Texto de Júlio Martín da Fonseca

(foto: Listopad em viagem; direitos reservados)

No passado dia 1 de Outubro faleceu, com a idade de 95 anos, o escritor, professor e encenador Jorge Listopad. De origem checa, este “português nascido em Praga” foi uma referência na cultura e particularmente no teatro, ao longo dos últimos cinquenta anos.
Nas suas criações manifestava-se naturalmente o desejo de aproximar o mundo visível do invisível, de criar relações, fossem elas claras ou misteriosas, entre o mundo da natureza e o mundo da graça. Fazia-o através de um exercício vivencial e artístico de querer reler e religar um universo ferido e fragmentado, como parece acontecer com todos aqueles que procuram através do teatro e da vida, decifrar a linguagem de Deus, incarnada até nas coisas mais pequenas e aparentemente insignificantes, onde se mistura o trivial e o sublime.
Em 1983 encenou O Anúncio Feito a Maria, de Paul Claudel, no Teatro Nacional D. Maria II, com a participação, entre outros, de Manuela de Freitas, Eunice Muñoz e João Perry, tendo a colaboração do grupo de Teatro da Universidade Técnica, de Lisboa. O espectáculo teve como cenário natural o vizinho Palácio da Independência e esteve em cena durante o mês de Julho com sessões esgotadas.
   Entre outros trabalhos de Jorge Listopad onde se pôde sentir igualmente, com particular intensidade, esta profunda sensibilidade, podemos destacar o encontro com as obras de Calderón de la Barca, José Régio, António Patrício e Václav Havel. Em 1988, Segismundo na Torre de Belém segundo A Vida é Sonho de Calderón de la Barca, com o TUT – Teatro da Universidade Técnica, na Torre de Belém; em 1990, Cenas da Vida de Benilde segundo Benilde ou a Virgem Mãe, de José Régio, e Judas, de António Patrício, com o Grupo Teatro Hoje – Teatro da Graça; em 2000, O Príncipe Constante, de Calderón da la Barca, com a Companhia de Teatro de Almada, que esteve presente no Festival de Teatro de Cáceres e no Festival de Teatro Clássico de Almagro; e, em 2003, Audiência/Vernissage/Havel, de Václav Havel, no Teatro Nacional D. Maria II, com a presença do autor na estreia.
O velório de Jorge Listopad será na Capela Mortuária do Mosteiro dos Jerónimos, hoje, dia 4 de Outubro, das 18h às 22h30.
No dia 5 de Outubro, às 14h, haverá missa na Igreja dos Jerónimos, saindo o cortejo fúnebre, às 14h45, para o Cemitério dos Prazeres.
No dia 6 de Outubro, dia de São Venceslau, padroeiro do Estado checo, a Embaixada da República Checa em Portugal recorda o aniversário do nascimento do primeiro presidente checo Václav Havel e homenageia o seu amigo, o poeta Jorge Listopad, numa cerimónia a realizar às 17h30 no Espaço Václav Havel, no Jardim do Príncipe Real, em Lisboa.



(Um outro perfil de Jorge Listopad pode também ser lido aqui)