quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Mudanças

Este blogue, com as características que teve até hoje, termina aqui. De espaço individual passará a ser um espaço colectivo, mantendo o mesmo nome, mas numa outra plataforma. E de um espaço de anotações ocasionais, passará a constituir, assim se espera, uma fonte regular de informação sobre o universo do religioso, nas suas múltiplas dimensões e expressões.
Queiram visitar o novo espaço em http://religionline.blogsome.com. Nestes tempos de arrranque, estamos ainda à procura do estilo e do ritmo. Lá chegaremos. Com as achegas e a participação dos leitores.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Religião e Media: equívocos e possibilidades

"1) O jornalismo português revela muita ignorância e preconceito em relação ao fenómeno religioso; 2) as instituições religiosas continuam a encarar os media com desconfiança e a não entender o fundamental da linguagem jornalística nem os desafios colocados pelos últimos avanços tecnológicos". Foram estas as duas premissas enunciadas e desenvolvidas pelo jornalista do Público António Marujo, na conferência que proferiu na passada segunda-feira, no Grémio Literário, em Lisboa, intitulada "Religião e Media: equívocos e possibilidades".
O jornalista, que falou na qualidade de galardoado com o Prémio John Templeton para o Jornalista Europeu de Assuntos Religiosos do ano 2005 (administrado pelo Departamento de Comunicações da Confêrencia das Igrejas Europeas e atribuído a este profissional pela segunda vez), apresentou um largo conjunto de casos e de experiências que lhe permitiram mostrar os preconceitos recíprocos que continuam a existir entre as Igrejas, designadamente a Católica, e os jornalistas.
A intervenção foi, na altura, comentada por Adelino Gomes, igualmente jornalista do Público, o qual recordou uma série de casos e de experiências ilustrativos do que era a relação entre a religião e os media até à altura do 25 de Abril de 1974.
O texto integral da conferência de António Marujo pode ser consultado no site da Conferência das Igrejas Europeias. A ele haveremos de voltar, pelas questões que coloca em debate.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

"De Deus ao nada"

"É ingénuo pensar que as religiões possam desaparecer" - considera o filósofo espanhol Javier Sádaba, numa entrevista ao jornal Comunidad Escolar, a propósito do seu mais recente livro, "De Dios a la nada - Las Creencias religiosas".
"Resulta difícil entender la historia de nuestra cultura sin saber qué ha sido y cómo ha sido la religión en sus muchas variantes, y, lo que resulta más significativo, la religión constituye el mejor salvoconducto para conocer las fantasías e imágenes de las que nos hemos dotado" - nota ainda Sádaba.
Javier Sábada é Catedrático de Ética e Filosofía da Religião da Universidade Autónoma de Madrid.
O texto completo do artigo: aqui.

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Diálogos sobre Jesus no CRC

O Centro de Reflexão Cristã promove até Janeiro, em Lisboa, um ciclo de colóquios intitulado "Diálogos sobre Jesus", participados por pessoas de várias religiões para quem a figura de Jesus constitui referência. O Ciclo decorrerá, com entrada livre, no Centro Nacional de Cultura (Largo do Picadeiro, nº 10-1º. Lisboa), às terças -feiras, às 18.30, com o seguinte programa:

Jesus judeu da Palestina
24 de Outubro 2006
Isaac Assor
Pe. José Tolentino de Mendonça

Jesus profeta do Islão
28 de Novembro 2006
António Dias Farinha
Faranaz Keshavjee

Jesus nos Evangelhos apócrifos
19 de Dezembro 2006
Pe. João Lourenço
Pe. Joaquim Carreira das Neves
José Augusto Ramos

Jesus Cristo História e Fé
23 de Janeiro 2007
Maria Julieta, rscm
D. Manuel Clemente

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Onde está o teu irmão?

"El Kremlin desencadena una campaña de acoso y expulsión de georgianos. La diversidad étnica del Reino Unido es mayor que en 2001. Corea del Norte está lista para probar su primera bomba nuclear. Los enfrentamientos entre dos grupos de mineros bolivianos causan 16 muertos. China sigue en el podio de la represión. Interior ha expulsado en menos de un mes a 2.178 senegaleses. Un juez censura al Gobierno por repatriar a un menor marroquí sin garantías legales. Siete imputados por la muerte de cinco obreros en Barcelona. 180 niños han sido desalojados de un colegio ante el riesgo de derrumbe. Despedida por ser madre. Un barco gemelo al que contaminó en África lleva meses operando en el Estrecho. El estigma social del VIH. El Papa cierra las puertas del limbo; el niño que muera sin bautizar queda en manos de 'la misericordia de Dios', dice el Vaticano... sin comentarios".
(in Eclesalia, a partir de títulos de El País, de 7.10.2006)

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Sobre a polémica suscitada por palavras de Bento XVI

Todo o discurso de Bento XVI feito na Universidade de Regensburg, na Alemanha, centrado nas "Três etapas do programa de des-helenização", merece ser lido com atenção.
É curioso observar como uma referência histórica que nem sequer é central ao argumento das palavras do papa pode suscitar tanto ruído. Mas isto é precisamente um sinal dos tempos que vivemos. Qualquer facto secundário pode converter-se em fósforo que ateia um incêndio. E, a esta hora, o papa já deve ter-se arrependido da referência que fez.
De resto, há uma ponto que não ficava mal na sem dúvida brilhante argumentação de Ratzinger: a referência ao facto de que também em nome da Cristandade - e porventura no preciso e polémico escrito referenciado no discurso - se quis recorrer à espada para fazer fieis, esquecendo que "to convince a reasonable soul, one does not need a strong arm, or weapons of any kind, or any other means of threatening a person with death...."

Aqui fica a transcrição da parte que está a levantar poeira em alguns sectores do islamismo:

"(...)
In this lecture I would like to discuss only one point -- itself
rather marginal to the dialogue itself -- which, in the context of the issue of
"faith and reason," I found interesting and which can serve as the starting
point for my reflections on this issue. In the seventh conversation ("diálesis"
-- controversy) edited by professor Khoury, the emperor touches on the theme of
the jihad (holy war). The emperor must have known that sura 2:256 reads: "There
is no compulsion in religion." It is one of the suras of the early period, when
Mohammed was still powerless and under [threat]. But naturally the emperor also
knew the instructions, developed later and recorded in the Koran, concerning
holy war. Without descending to details, such as the difference in treatment
accorded to those who have the "Book" and the "infidels," he turns to his
interlocutor somewhat brusquely with the central question on the relationship
between religion and violence in general, in these words: "Show me just what
Mohammed brought that was new, and there you will find things only evil and
inhuman, such as his command to spread by the sword the faith he preached." The
emperor goes on to explain in detail the reasons why spreading the faith through
violence is something unreasonable. Violence is incompatible with the nature of
God and the nature of the soul. "God is not pleased by blood, and not acting
reasonably ("syn logo") is contrary to God's nature. Faith is born of the soul,
not the body. Whoever would lead someone to faith needs the ability to speak
well and to reason properly, without violence and threats.... To convince a
reasonable soul, one does not need a strong arm, or weapons of any kind, or any
other means of threatening a person with death...."

Actualizações e complementos:

- Texto do discurso em espanhol

- Do editorial de El País, de 16.9:

"(...) Benedicto XVI es tan gran intelectual como su antecesor, Juan Pablo II,
era un gran político. Pero hay ocasiones en las que a un intelectual, en su afán
por exponer sus ideas, especialmente en un terreno tan complejo y tan
susceptible a malentendidos y manipulaciones como es la manifestación teológica
en la comparación entre dos religiones, le falla el instinto del político y
genera un conflicto allí donde no debiera haberlo ni le interesa a él mismo que
lo haya. Y no sólo lo hay, sino que es probablemente, desde el 11 de septiembre
de 2001, origen de inmensas tensiones entre concepciones de vida identificadas
con Occidente y el mundo musulmán. Es evidente así que, al ignorar el efecto que
sus palabras podían tener sobre una sociedad islámica, recelosa y por principio
hoy hiperrreactiva, ha sembrado una discordia que probablemente no
pretendía.(...)"

- Do editorial de hoje do DN, assinado por António José Teixeira:

"(...) A citação histórica presta-se a interpretações ambíguas. Desde logo
porque identifica islão com violência, o que não é desajustado de alguns
capítulos da História, mas não é exclusivo de nenhuma religião. O catolicismo
deu os seus contributos para a infâmia e nem por isso terá de ser identificado
como uma instituição delinquente.(...)".

Actualização: Palavras de desculpa de Bento XVI, na oração do Angelus, hoje, dia 17:

"Dear Brothers and Sisters,
(...)

At this time, I wish also to add that I am deeply sorry for the reactions in some countries to a few passages of my address at the University of Regensburg, which were considered offensive to the sensibility of Muslims.
These in fact were a quotation from a Medieval text, which do not in any way express my personal thought.
Yesterday, the Cardinal Secretary of State published a statement in this regard in which he explained the true meaning of my words. I hope that this serves to appease hearts and to clarify the true meaning of my address, which in its totality was and is an invitation to frank and sincere dialogue, with great mutual respect. "

domingo, 3 de setembro de 2006

Questões ao catolicismo espanhol
(uma entrevista do abade de Monserrate)

Josep Maria Soler, abade do mosteiro de Monserrate, na Catalunha, deu há dias uma desassombrada entrevista ao diário El País. Vale a pena ler, mesmo discordando. Porque o que mais sobressai, nas palavras do monge, é precisamente a capacidade de, com serenidade, colocar questões centrais da relação entre a Igreja (espanhola) e a sociedade [as perguntas da jornalista é que denotam um enviesamento e um primarismo verdadeiramente notáveis!].

Dois extractos, com a sugestão de uma leitura do texto integral:

"Pienso que es fácil percibir que un sector de la jerarquía católica tiene nostalgia del nacionalcatolicismo, sobre todo en ciertos círculos de la Conferencia Episcopal y, sin duda, en muchos de sus documentos y en muchas homilías. Y lo cierto es que ese nacionalcatolicismo añorado por ese sector de la jerarquía es algo del pasado. La Iglesia debe aprender a situarse en otro contexto social, y ese contexto, según la Constitución y desde la separación entre la Iglesia y el Estado, se define como un verdadero Estado laico que supone eso: una separación real entre lo que es el Estado y su lógico derecho a promulgar leyes, y lo que es la Iglesia y la misión de la Iglesia, que no tiene esa capacidad legislativa. Eso no quiere decir que la Iglesia deje de decir lo que crea que debe decir en relación con la dimensión trascendente de la persona, porque eso es enriquecedor para sociedad, pero teniendo siempre presente que en un Estado aconfesional o laico, la voz de la Iglesia es una voz que no puede imponer sus criterios a los legisladores".

" [...] hay un proceso que a ellos, a la jerarquía católica más conservadora, les preocupa muchísimo, yo diría que les desborda realmente, que es el proceso de secularización de la sociedad española. La cuestión sobre la que se debe interrogar la Iglesia no debe estar en relación con lo que ellos identifican como crisis de fe, sino en responder con honestidad a la pregunta de por qué no hemos sabido conectar el mensaje del Evangelio con las inquietudes de la gente. Eso es lo que debería preocuparles, lo que debería preocuparnos a todos. Desde mi punto de vista, ha fracasado el lenguaje, el planteamiento demasiado intransigente de ciertos temas que angustian al mundo moderno, y, sin duda, el no aceptar que, al final, el hombre decide libremente sobre su vida, diga lo que diga la Iglesia. Hoy, la Iglesia no está presente en la sociedad y, lo que es peor, cuando está presente, lo está de modo inadecuado, cuando no ridículo".

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

A vida normal
Carla Machado
PUBLICO, 24.8.2006

Todos passamos a vida a desejar a vida que não temos. Queixamo-nos do emprego, dos colegas que são chatos, do chefe que não nos dá valor, do muito que trabalhamos e do ordenado que é fraco.Reclamamos do tempo, que chove e não se pode ir à praia, que não chove e faz mal à agricultura, do sol que é pouco ou demasiado, do suor, do frio e do vento, do calor que nunca mais se vai embora e do Verão que nunca mais chega.A família cansa-nos, mas odiamos quando esta nos ignora; dizemos mal do amigos sem os quais não sabemos passar; suspiramos pelo fim do serão em que as visitas se vão embora, mas despedimo-nos combinando um novo jantar.Estamos fartos dos filhos, mas passamos o tempo a falar deles e a mostrar as suas fotografias aos amigos. O barulho que fazem enlouquece-nos, mas o silêncio da sua ausência é insuportável.Queixamo-nos do marido ou da mulher, que não são como dantes, que nos irritam, que não nos surpreendem, mas suspiramos quando nos faltam e reclamamos quando fazem alguma coisa com a qual não contávamos.Estamos no Algarve a suspirar pela frescura do Minho, no Minho damos por nós desejosos da brisa costeira, na cidade irrita-nos o artificialismo e em Trás-os-Montes formigamos com a ânsia de fugir à ruralidade.E do país, todos nos queixamos do país até ao momento em que "lá fora" concluímos com um orgulho disfarçado que realmente "comer, comer bem, só mesmo em Portugal".De queixume em queixume, passamos pela vida muitas vezes sem deixar verdadeiramente que a vida nos atravesse. E só quando somos roubados ao quotidiano que tanto maldissemos damos conta do tempo que perdemos nos lamentos sobre o tempo que os outros nos fazem perder.Há pouco mais de um mês, numa consulta que era suposto ser de rotina, foi-me diagnosticado um tumor. Felizmente benigno, como soube após 24 horas de espera. E, tal como seria de prever, naquele momento inicial em que o espectro de algo mais grave ainda não tinha sido afastado, o meu pensamento imediato foi: "Mas afinal porque é que eu estou aqui, afundada em Braga a trabalhar, em vez de ter já há muito tempo fugido para Bora-Bora?" Passado contudo tal instante, e nas 23 horas que se seguiram, foi da vida normal que tive saudades antecipadas. A vida normal: trabalhar, ir ao cinema, abraçar quem amo, rir-me das pequenas parvoíces do quotidiano, ver a minha filha a dormir e sentir o seu cheiro.A vida normal está aqui mesmo ao lado. E aposto que Bora-Bora tem imensos mosquitos.

terça-feira, 4 de julho de 2006

Constituído Fórum Abraâmico de Portugal

O Fórum Abraâmico de Portugal, organização que congrega judeus, cristãos e muçulmanos com o objectivo de "quebrar preconceitos" e promover iniciativas no campo inter-religioso, é hoje apresentada ao fim da tarde em Lisboa.
A notícia vem hoje no Público, que acrescenta:
"Embora a ideia e a adesão à nova associação seja feita a título individual, ela será constituída por quatro responsáveis das diferentes comunidades: Abdool Vakil, da Comunidade Islâmica de Lisboa; José Oulman Carp e Esther Mucznik, presidente e vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa; e Peter Stilwell, padre católico e director da Faculdade de Teologia da UCP. A este núcleo inicial junta-se um outro grupo de fundadores, entre os quais o pastor protestante Dimas Almeida, o padre ortodoxo Alexandre Bonito e o professor universitário Luís Filipe Thomaz. "O objectivo é estimular o conhecimento das três religiões e respectivas comunidades, de modo a quebrar preconceitos", diz Peter Stilwell. "Trata-se de institucionalizar o que já existe", justifica ao PÚBLICO Abdool Vakil, a quem pertenceu a iniciativa de lançar a ideia. Envolvido há muito tempo no diálogo inter-religioso, Vakil considerou importante organizar uma associação que mostrasse que "na família abraâmica há muitas pontes". (...)
António Marujo recebe prémio
de jornalismo sobre temáticas religiosas

O jornalista do Público António Marujo recebe depois de amanhã, quinta-feira, em Lisboa, o prémio da Conferência das Igrejas Europeias para jornalistas da imprensa não-confessional que tratam informação religiosa.
Na cerimónia, que decorrerá às 18h30, na catedral da Igreja Lusitana (anglicana) de Lisboa, em Santos-o-Velho, conta com a participação do bispo D. Fernando Soares, Presidente do COPIC, Pamela Thompson, Vice-Presidente da Fundação John Templeton, Luca Negro, Secretário para as Comunicações da CEC, José Manuel Fernandes, Director do Público, e, claro, do jornalista premiado.
Na altura em que divulgou a notícia, o Público divulgou informações complementares que vale a pena relembrar:
"António Marujo venceu este prémio na edição de 1995, tornando-se agora no primeiro jornalista europeu a ser distinguido por duas vezes, refere o comunicado do gabinete de comunicação da CEC.
Entre os trabalhos que lhe valeram o prémio, com um valor monetário de cinco mil francos suíços (3227 euros), está uma entrevista ao padre, teólogo e poeta Tolentino Mendonça, intitulada "Jesus é um mistério fascinante, ainda em aberto" (26/02/05) e uma reportagem sobre o Congresso da Nova Evangelização, com o título "Bono Vox, bebedor de vinho e leitor da Bíblia" (11/09/2005)."Esta é a autêntica escrita sobre religião, mais do que a escrita ligada à Igreja, e é da melhor qualidade", afirmou um dos juízes do prémio, para quem o jornalista do PÚBLICO "não é fascinado pela Igreja, mas por algo mais profundo, que é o mistério da religião em si".

quinta-feira, 8 de junho de 2006

Visita de Bento XVI a Auschwitz: ideias para debate

O diário El País traz hoje um texto de opinião de Daniel Jonah Goldhagen, intitulado El histórico fracaso de Benedicto XVI en Auschwitz, no qual defende as seguintes posições:
  • Lo que tuvo de bueno [la visita del papa] a Auschwitz quedó anulado por el discurso que pronunció, que no mostró nada parecido ni a la sincera emoción de Brandt ni a la humildad de Juan Pablo, y que se apartó escandalosamente de lo que el propio Benedicto XVI ha llamado su obligación de decir la verdad. Por el contrario, el Papa emborronó la interpretación histórica, eludió la responsabilidad moral y rehuyó el deber político.
  • Benedicto exoneró injustamente a los alemanes de su responsabilidad en el Holocausto y atribuyó la culpa exclusivamente a "una banda de criminales" que "usaron y abusaron" del pueblo alemán, engañado y presionado, como "instrumento" de destrucción. Lo cierto es que los alemanes, en general, apoyaron la persecución de los judíos, y muchos de los cientos de miles que la llevaron a cabo eran ciudadanos corrientes que actuaban de buen grado. No se puede atribuir la culpa del Holocausto, por completo o incluso principalmente, a una "banda criminal". Ningún especialista alemán, ningún político alemán, se atrevería hoy a proponer el relato mitológico que hace Benedicto XVI del pasado.
  • Benedicto exoneró injustamente a los alemanes de su responsabilidad en el Holocausto y atribuyó la culpa exclusivamente a "una banda de criminales" que "usaron y abusaron" del pueblo alemán, engañado y presionado, como "instrumento" de destrucción. Lo cierto es que los alemanes, en general, apoyaron la persecución de los judíos, y muchos de los cientos de miles que la llevaron a cabo eran ciudadanos corrientes que actuaban de buen grado. No se puede atribuir la culpa del Holocausto, por completo o incluso principalmente, a una "banda criminal". Ningún especialista alemán, ningún político alemán, se atrevería hoy a proponer el relato mitológico que hace Benedicto XVI del pasado.

Está aberto o debate.

Complementos:

- Texto integral do discurso de Bento XVI em Auschwitz (em inglês)

- Leitura de John L. Allen Jr, jornalista do National Catholic Reporter. correspondente em Roma: Attempting to slay God was Auschwitz's greatest evil, pope says Benedict prayed that love would prevail over 'a spurious and godless reason' .

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Conferências de Maio, 2006, do CRC
IMAGEM DO SAGRADO, IMAGENS DO MUNDO

O Centro de Reflexão Cristã promove, no próximo mês, as suas já conhecidas "Conferências de Maio", desta vez com o tema geral "Imagem do sagrado, imagens do Mundo". As sessões terão lugar no Centro de Estudos da Ordem do Carmo, na Rua de Santa Isabel, 128-130, Lisboa (Metro: Rato).

É o seguinte o calendário:

3 de Maio, 4ª feira, 18:30
A REPRESENTAÇÃO DO SAGRADO NO MUNDO DA IMAGEM
· Clara Menéres
· João Bénard da Costa
· Pe. Peter Stilwell
Moderador: Guilherme d?Oliveira Martins

10 de Maio, 4ª feira,18:30
PATRIMÓNIO DA FÉ E LIBERDADE CRIADORA
· Faranaz Keshavjee
· José Luís de Matos
· Nuno Teotónio Pereira
Moderador: José Leitão

17 de Maio, 4ª feira, 18:30
IMAGENS DO RELIGIOSO NA COMUNICAÇÃO SOCIAL
· Abdool Karim Vakil
· Esther Mucznik
· Pe. José Manuel Pereira de Almeida
Moderador: Fr. Bento Domingues

24 de Maio, 4ª feira,18:30
A LIBERDADE RELIGIOSA NUM MUNDO PLURAL
. Pastora Idalina Sitanela
. José Vera Jardim
. D. Manuel Clemente
Moderador: Maria Cristina Clímaco

domingo, 9 de abril de 2006

Obras de misericórdia

O Governo de Bush pretende restringir os direitos dos imigrantes ilegais a ponto de criminalizar quem os ajude. Se uma lei que está neste momento em apreciação (Sensenbrenner Bill 4437)fosse aprovada, poderia ser castigado quem desse uma sanduíche a um desses estrangeiros.
O cardeal Roger Mahony, de Los Angeles, que já tinha alertado para a possibilidade da desobediência civil, caso a lei avançasse, acaba de explicar melhor a sua posição, em entrevista dada ao correspondente em Roma da revista National Catholic Reporter. Um podcast da conversa com o jornalista John L. Allen Jr está também disponível.
Mahoney concretiza, neste seu combate, uma pastoral sobre a imigração, elaborada pelo episcopado norteamericano, que se resume em cinco pontos: 1) Global Anti-Poverty Efforts, 2) Reunifying Families, 3) A Temporary Worker Program, 4) Broad-Based Legalization, and 5) Restoring Due Process.
O enigma do mal

"(...) O mal físico talvez seja explicável; mas como compreender o mal moral? Porque é que não somos sempre bons e, pelo contrário, criamos infernos de desumanidade? Há aquele enigma que amargurava São Paulo: "Ai de mim, que sou um homem desgraçado, pois faço o mal que não quero e não faço o bem que quero!"(...)"
Anselmo Borges, in Diário de Notícias, 9.4.2006

quarta-feira, 22 de março de 2006

"Pray-as-you-go"
Joaquim Fidalgo

Na sua coluna semanal "Crer para Ver", no Público (acesso para assinantes), escreve hoje o autor:

"A aplicação pode ser moderna, mas o princípio é antigo: se Moisés não vai à montanha, vai a montanha a Moisés... Dito de outro modo: se quem reza não vai à casa da oração, pois vai a oração à casa de quem reza. E quem diz à casa, diz aos bocadinhos de "casa" que cada vez mais levamos connosco para qualquer lado, assim a modos de caracol.
A coisa chama-se "pray-as-you-go". Para consultar na Net, basta acrescentar o ".com" da praxe e já está. É um sítio onde ir buscar downloads, ou peças para, mais portuguesmente falando, descarregarmos nos nossos computadores e afins. E afins, sim, que aqui trata-se de descarregar para os aparelhinhos portáteis de Mp3, aqueles minileitores de pôr à cinta, com dois minúsculos auscultadores de meter no ouvido. Sabem decerto do que falo: quem tem tem; quem não tem tem-se fartado de ver por aí tanto quem já tem.
Mas não se trata de descarregar músicas; trata-se de descarregar orações. Daí o nome, "pray-as-you-go". É do mais fácil que há. Vai-se ao sítio, clica-se no dia da semana e descarrega-se. Sim, que há orações diferentes para cada um dos dias da semana, para variar. E, sendo no essencial orações, não são só orações: é um pacote completo, com a duração aproximada de dez minutos ("Nunca mais de 12 minutos", prometem os promotores), composto de som de sinos a abrir ("chamada à oração"), depois uma musiquinha de abertura para criar o ambiente, a seguir uma passagem das Escrituras, adiante algumas "questões para reflexão pessoal", depois a repetição da passagem das Escrituras para uma melhor apreciação, ainda uma "reflexão final" e, a fechar, um "Glória". Um pacote inteiro, dez a 12 minutos, para descarregar no leitor de Mp3 e ouvir / rezar no meio das músicas com que a gente se vai fazendo acompanhar nas lides diárias, na viagem para o trabalho, no passeio de ginástica ou lazer, no estudo, enfim, por aí, por onde e como se ande.
A produção é de uma entidade chamada "Jesuit Media Initiatives", que se afirma empenhada em nos ajudar a "perceber a presença de Deus nas nossas vidas", a "reflectir nas palavras de Deus", a "crescer na nossa relação com Deus". Se isso se pode fazer em qualquer lado e de tantos diferentes modos, por que não no meio dos sons preferidos do nosso leitor de Mp3, enquanto caminhamos por aí a caminho de algum sítio - ou de nenhum?
"Pray-as-you-go". Reza enquanto andas. Por um lado, não está mal visto: já chega de enfiarmos Deus num compartimento apartado da vida real, rezando quando é de rezar, mas não permitindo que a oração se misture com o que somos e fazemos no nosso quotidiano. Por outro lado, soa meio estranho ver Deus assim descarregado para o nosso leitor de Mp3, entre dois boleros, um adagio e um standard, e o valor da sua mensagem - que nos convida a parar, a parar mesmo - apreciado numa fila confusa de autocarro ou numa corrida musculada para perder gorduras. Não sei... Mas os jesuítas, esses, sabem bem da outra velha máxima: se não podes vencê-los (por exemplo, aos leitores de Mp3...), então junta-te a eles.

quarta-feira, 15 de março de 2006

Em Leiria, neste fim de semana

JUCmailing1

Tendo como tema "Redescobrir a Cidadania ? contributos para a mudança", realizam-se em Leiria, neste fim de semana, as IX Jornadas de Universitários Católicos, promovidas pelo Movimento Católico de Estudantes (MCE) em parceria com o Serviço Nacional de Pastoral do Ensino Superior. O programa engloba diversos paineis que desdobram o debate por vasto leque de áreas nas quais se coloca o problema da redescoberta da cidadania.

domingo, 5 de março de 2006

Por causa da lei sobre imigração
Arcebispo dos EUA admite desobediência civil

O arcebispo de Los Angeles, Roger Mahony, deixou aberta a possibilidade de um apelo à desobediência civil relativamente a uma lei de imigração já apresentada na Câmara dos representantes dos EUA, que exige que as confissões religiosas façam depender a assistência aos imigrantes da apresentação de provas de que eles se encontram legalmente no país. A posição deste bispo americano foi já apoiada pelo diário The New York Times, num editorial publicado sexta-feira.
Calcula-se em perto de 11 milhões o número de imigrantes, grande parte deles vindos de países da América Latina.
O arcebispo Mahony pronunciou-se sobre o assunto na celebração de Arata-Feira de Cinzas, altura em que apresentou uma mensagem quaresmal centrada no problema da imigração.
"Diria aos sacerdotes, diáconos e membros da igreja que não iremos cumprir esta lei" - avisou Mahony, ao mesmo tempo que apelou a todos os católicos a que acolham os imigrantes.
Sublinha ainda o arcebispo, na sua mensagem de Qauresma:
"Our Lenten practices, whatever they may be, are much more than pious devotions. Whether our practice takes the form of 'giving up' dessert during Lent, redoubling our efforts at prayer, increasing our contribution to help those in need, fasting, or abstaining from meat, they are all to be understood as a Spirit-assisted effort to empty ourselves of all that would stand in the way of being filled to overflowing with the light and life and love of God. Do we really have room enough for God? So many of us live amid so much clutter, so much noise. We travel through life at breakneck speed. Lent is the time to empty ourselves not only of the seemingly never-ending stuff, sound and speed in our lives, but also of our pettiness, our prejudice, our anxiety, our fear. It is an opportunity to make room, not only for God, but for those who come our way. How open is our door to those who come to us? Is there room enough in our hearts and our homes for those in need?"

O dever moral de acolher os imigrantes não levanta problemas apenas nos Estados Unidos da América. Recentemente, elementos dos episcopados francês e belga insurgiram-se também contra declarações de autoridades dos respctivos países, que consideraram ser criminoso dar assistência a imigrantes ilegais.

domingo, 12 de fevereiro de 2006

Dios se siente solo
SAMIR GHARBI - 12/02/2006
JEUNE AFRIQUE L´INTELLIGENT, París, 11 / II / 2006
La Vanguardia

Según dos sondeos realizados en 65 países por el acreditado Instituto Gallup Internacional, el número de personas que afirman estar vinculados a una religión, sea cual sea, o afirman creer en cualquier Dios no cesa de disminuir: eran el 87% en el 2000, y sólo un 66% en el 2005. En todas partes, salvo en África, la práctica religiosa ha retrocedido: menos de un 21% en cinco años. Más de 50.000 personas han sido encuestadas. Según Gallup, son representativas de la opinión de 1.300 millones de habitantes. Pero el instituto no da ninguna explicación que pruebe el fenómeno y se limita a avanzar que el cambio de milenio ha suscitado un efímero empujón de fervor religioso... La regresión es casi general. El número de los que se vinculan a una religión ha pasado del 88% al 60% en Europa Occidental; del 84% al 65% en Europa del Este; del 77% al 50% en Asia-Pacífico; del 91% al 71% en América del Norte, y del 96% al 82% en Sudamérica. Sólo en África la situación prácticamente no ha evolucionado. Este continente sigue siendo el más religioso, con una tasa de creyentes del 91%, contra el 1% de ateos y el 8% sin religión. En Asia, que, desde este punto de vista, cierra la marcha, las cifras son respectivamente de 50%, de creyentes, 12% de ateos y 38% sin religión. Los resultados por países colocan a Ghana en primer lugar mundial por el número de creyentes (96%), seguido de otro país africano, Nigeria (94%). El jefe de filas de los ateos es Hong Kong (54%). Y los de sin religión, Tailandia (65%) ante Japón (59%). El sondeo de 2005 hace aparecer una relación de causa efecto entre el hecho religioso y la situación socioeconómica de la gente: a más nivel de educación, menos fenómeno religioso. Igualmente, el porcentaje de los creyentes baja a medida que los ingresos de un país aumentan... El único consuelo para los prosélitos de toda índole es que el envejecimiento se acompaña con una progresiva vuelta a Dios.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Signis: Declaração sobre a controvérsia acerca das caricaturas de Maomé

SIGNIS (World Catholic Association for Communication)
Brussels, February 10th 2006

As a worldwide association of Catholic media professionals we join with all those who have strongly criticised the decision to publish the cartoons depicting the Prophet Muhammad which were published recently in the Danish newspaper, Jyllands Posten.
We wish, however, also to reiterate our unswerving commitment to the principles of freedom of speech and expression. Freedom of speech is a fundamental human right and the basis of free and democratic societies.
Freedom of speech, of course, is a responsibility as well as a right and in this instance the publication of the cartoons was deeply irresponsible. The cartoons were nothing more than stereotypical smears which were neither insightful nor effective.
But the provocation of the cartoons does not justify the violence and fanaticism of some of those who have protested against them. We support those Muslims who have condemned the violence and urged the protestors to rely solely on peaceful means. Furthermore, we condemn all forms of incitement to hatred on the grounds of religion, race or other characteristics. The antidote to extremism is dialogue and understanding between communities, whether religious or secular.
At our recent World Congress in Lyon we committed ourselves to joining with all those who are contributing to a Culture of Peace through the media. We reiterate that commitment and pledge ourselves anew to communicate through the media in ways that contribute to peace, build inter-religious and intercultural dialogue and foster democratic debate based on mutual respect and tolerance.
Marc Aellen, Secretary General
Augustine Loorthusamy, President

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Cartoons sobre Maomé

O que mais me tem impressionado, no debate suscitado pela publicação das caricaturas de Maomé, é a afirmação de que a consideração da sensibilidade do outro, no exercício da liberdade de expressão, constitui uma fraqueza e uma ameaça a essa liberdade.
Sâo condenáveis as violências várias que a este propósito, os sectores radicais islâmicos desencadearam em diversas partes do mundo árabe, como são condenáveis os aproveitamentos do caso das caricaturas para outras "guerras". Mas, ao mesmo tempo, também não pode ser aceitável uma concepção da liberdade erigida em princípio supremo, sem cuidar dos efeitos do seu exercício, sem cuidar da existência de outras formas de ver o mundo e a vida. A existência individual e colectiva decorre de uma procura de equilíbrio entre vários valores fundadores dessa mesma existência, e não da sobreposição de um deles sobre todos os outros.
Custou ver, no debate de há dias do programa Prós e Contras, o especialista de relações internacionais Vasco Rato dizer com toda a clareza que, se para exercer a liberdade de expresão, tivesse de se preocupar com o que outros pensam ou sentem, a consequência seria ficar mudo e quedo, isto é, seria a anulação da liberdade.

sábado, 28 de janeiro de 2006

Jesuíta Juan Masiá destituído da cátedra da Universidade de Comillas

Uma informação da revsita espanhola "Vida Nueva" que não vi referenciada nos media portugueses:

"Vida Nueva, Nº 504, 28/01/06.- Las presiones ejercidas por una parte de la jerarquía eclesiástica estarían detrás del cese del jesuita Juan Masiá Clavel como director de la Cátedra de Bioética de la Universidad Pontificia Comillas de Madrid la pasada semana.
La destitución le fue notificada por el rector, José Ramón Busto Saiz, tras mantener conversaciones con el propio Masiá y con el Provincial de Castilla y Vice Gran Canciller de la universidad jesuita, según ha sabido ?Vida Nueva?.
El jesuita murciano, que este mes de marzo cumplirá 65 años, también dejará completamente de desarrollar su labor docente en Comillas al finalizar el presente curso académico. Su sustituto al frente de la Cátedra podría darse a conocer el 15 de febrero.
Juan Masiá, que ocupaba la dirección desde febrero de 2004, rechazó la posibilidad planteada por sus superiores de flexibilizar sus opiniones, orales y escritas, sobre cuestiones bioéticas y de renunciar a divulgarlas a través de los medios de comunicación, lo que ha precipitado su cese.
Aunque las presiones a la Compañía de Jesús a propósito de los escritos de Masiá se remontan a hace más de un año, habrían arreciado tras la reciente publicación del libro Tertulias de Bioética (ver Vida Nueva, nº (ver Vida Nueva, nº 2.500, p. 44), en donde aborda, con un tono coloquial y desenfadado, las consecuencias bioéticas que para la vida y la sexualidad se derivan de la evolución social y de la fe.
Previendo la polémica que este escrito podría suscitar, el religioso hacía constar en esas páginas que ?por fidelidad a la Iglesia, por sentirnos Iglesia y sentirnos en la Iglesia, nos vemos obligados, no sólo a sentir con la Iglesia sino, en algunas ocasiones, a disentir en la Iglesia, a disentir razonable y responsablemente dentro de la Iglesia?.
La Cátedra de Bioética, creada en 1987, y de la que fue buque insignia hasta su muerte el también jesuita Javier Gafo, tiene, entre sus principales objetivos, ?contribuir a iluminar los dilemas morales suscitados por los espectaculares avances de las ciencias biomédicas?.
José Lorenzo "

O Blogue de Eclesalia, que divulga esta informação, transcreve igualmente a última lição do Prof. Masiá:

?CAMINAR, TENDER PUENTES Y VIVIR EN LA FRONTERA?
Lección final, antes de la jubilación

JUAN MASIÁ CLAVEL, jesuita; profesor propio ordinario de Antropología filosófica en la Facultad de Ciencias humanas y sociales, y de Teología Moral en la Facultad de Teología de la Universidad Pontificia Comillas; Director de la Cátedra de Bioética de la misma Universidad.
MADRID.

ECLESALIA, 27/01/06.- Con la brevedad aconsejable para estas ocasiones, elijo los tres textos bíblicos siguientes:
- Ellos, por su parte, contaron lo que había pasado en el camino y cómo le habían conocido en la fracción del pan (Lc 24, 35).
- Según el Camino, que ellos llaman secta, doy culto al Dios de mis padres (Hechos 24, 14).
- Y he aquí que \nyo estoy con vosotros todos los días hasta el fin del mundo (Mt 28,
- Y he aquí que yo estoy con vosotros todos los días hasta el fin del mundo (Mt 28, 20).
El primer texto está tomado del camino de Emaús. Invita a encontrar a Jesús en el camino, en el pan y en la palabra; es decir, en la vida cotidiana, el compartir fraternal y el repartir justo, y en la comunicación alegre y esperanzadora de su Buena Noticia.
En el segundo texto, Pablo opta por el Camino y rechaza las estrecheces del grupo exclusivista (?secta?) y de la institución inmovilista (?ellos?).
En el tercer texto convergen los diversos lenguajes sobre la presencia del Crucificado Vivo para siempre. A la pregunta ?¿Dónde está?? se responde de cinco maneras:
A) Está arriba: es el lenguaje de la Ascensión en clave apocalíptica de victoria. (Lc 24, 51)
B) Está a la derecha del Dios Padre/Madre: es el lenguaje escatológico recapitulación definitiva. (cgf. Heb 10, 12-13).
C) Está delante: es el lenguaje de la praxis y la cotidianidad. (Mc 16, 15).
D) Está en todo: es el lenguaje místico-cósmico. (Ef 4, 10; Jn 20, 17).
E) Está al lado: es el lenguaje de la comunidad en misión ad extra para tender puentes y vivir en la frontera. En este lenguaje se concentran los otros cuatro, es paradigma para pensar la iglesia, la comunidad y la misión. (Mt 28, 20).
La comunidad que camina, practicando el mensaje de Emaús, confronta tres tentaciones:
A) Reducirse a ser una institución y vivir para mantener la institución.
B) Convertirse, en el extremo opuesto, en secta, rechazando lo de fuera con exclusivismo e idolatrando a fundadores con culto a la personalidad.
C) Mantener un equilibrio diplomático entre ambos extremos, mediante el recurso a dobles estándares o dobles vidas, callar lo que se piensa y silenciar a quien se atreva a destapar el fraude.
Estas tres tentaciones se superan mediante la ?cuarta vía?, mostrada en el citado texto de los Hechos: el Camino, la conversión, cambio y reforma continuos, la renuncia a instalarse en instituciones o encerrarse en sectas y el ánimo para conjugar mística y política, reconciliación y profecía.
Ignacio de Loyola captó esto muy bien. Quienes hemos heredado su pedagogía espiritual a través de los Ejercicios espirituales sentimos la vocación para vivir caminando, tendiendo puentes y haciendo equilibrios en la frontera. A veces habrá que hacer equilibrios de cuerda floja para estar en la frontera: entre la investigación y la divulgación, entre la investigación y la educación, entre estar presente en los medios y no dejarse manipular por ellos, entre la pastoral y la labor en tierras de marginación, entre la espiritualidad y la moral, entre Oriente y Occidente, entre Roma y Jerusalén, entre ciencias y creencias, entre la fidelidad y la creatividad, entre la pastoral ad intra, y la misión ad extra.
Para vivir con optimismo y alegría bailando en la cuerda floja nos anima la esperanza, ?segura y sólida ancla del alma? (Heb. 6, 19). (Eclesalia Informativo autoriza y recomienda la difusión de sus artículos, indicando su procedencia).
En Madrid, en la Cátedra de Bioética de la Universidad Pontificia Comillas, a 18 de enero, del 2006.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Olhar para as implicações

Manuela Silva, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), defende que é indispensável olhar para as implicações práticas da leitura da primeira encíclica de Bento XVI, que se mostra ?muito exigente?.?Na linha da tradição das primeiras comunidades, o Papa afirma que não é tolerável que continue a haver, nas nossas comunidades, pessoas a quem falta o indispensável para uma vida digna?, afirma à Agência Ecclesia. Se esta afirmação fosse levada às últimas consequências, precisa, ?isso implicaria um novo dinamismo nas comunidades cristãs, quer na sua organização, quer na busca de soluções mais justas para a sociedade humana?.Para esta responsável, é ?extremamente positivo e encorajador? que o Papa tenha escolhido um tema tão central como a ?revelação de Deus que é amor? para a sua primeira encíclica.?Este documento vem abrir caminho a uma reflexão, por parte das comunidades cristãs?, assinala. Após uma reflexão ?do tipo filosófico e antropológico? a respeito do amor, Bento XVI apresenta um convite a todas as comunidades cristãs a ?serem mais sensíveis às necessidades da justiça e da paz?.Por explorar, segundo Manuela Silva, ficaram os desafios levantados pelo processo de globalização que a sociedade moderna vive. ?O Papa optou por concentrar-se naquilo que chama de respostas de caridade das comunidades cristãs e, nesse sentido, ficou aquém de outras posições já assumidas pelos seus predecessores, que indicavam um conceito alargado de caridade, estendido até à transformação das estruturas económicas e sociais?, conclui.

domingo, 15 de janeiro de 2006

Cristianismo e dignidade
Anselmo Borges
in Diário de Notícias, 15.1.2006

(...) Agora, tudo isso [Natal] é passado. Regressou o quotidiano, prosaico, baço, exaltante. Já à distância, talvez possamos ir ao que é mais essencial daquela festa mágica, que nos mimou a infância e que alguns dizem que devia ser todos os dias - o Natal.
Mesmo que muitos já se não lembrem disso, o que é facto é que o Natal se refere ao nascimento de Jesus Cristo, figura determinante da história universal. Quer se seja crente quer não, é preciso reconhecer que a ideia de pessoa enquanto dignidade intangível e sujeito de direitos invioláveis, porque divinos, se impôs por causa dos debates à volta da tentativa de compreensão do mistério de Cristo.
Embora, historicamente, os Direitos Humanos tenham tido de abrir caminho contra a Igreja oficial, há quem lembre, não sem razão, que eles têm na sua raiz também a mensagem bíblica, não sendo por acaso que "nasceram" em sociedades marcadas pelo cristianismo.
Pensadores da estatura de Hegel, Ernst Bloch e Jürgen Habermas reconheceram que foi pela fé no Deus feito homem em Jesus Cristo que se explicitou no mundo a consciência da dignidade infinita de ser homem.
Hegel afirmou expressamente que na religião cristã está o princípio de que "o homem tem valor absolutamente infinito".
E. Bloch, o ateu religioso, repetia que foi pelo cristianismo que veio ao mundo a consciência explícita do valor infinito de ser homem, de tal modo que nenhum ser humano pode ser tratado como "gado".
Mais recentemente, J. Habermas, agnóstico e um dos maiores filósofos vivos, escreveu que a democracia se não entende sem a compreensão judaico-cristã da igualdade radical de todos os homens, por causa da "igualdade de cada indivíduo perante Deus". O núcleo da mensagem de Jesus é este todo o ser humano tem uma dignidade que não pode ser violada, porque o seu fundamento é Deus.
O Deus que Jesus anuncia é aquele cuja causa é a causa do homem e a sua plena realização. Por isso, os Evangelhos proclamam que, logo no nascimento de Jesus, esta mensagem foi anunciada a todos os homens de boa vontade, a começar pelos mais pobres e fracos, concretamente pelos pastores, malvistos porque "impuros" e se encontravam à margem da prática da religião.
Mas esta boa nova é para todos, portanto, para lá do chamado povo eleito ela abrange os pagãos.
É inútil procurar possíveis acontecimentos astronómicos em ordem a esclarecer a estrela dos reis magos, que surge no Oriente, como não tem sentido investigar quantos eram e donde vinham.
De facto, aqui utiliza-se linguagem simbólica para transmitir o essencial do Evangelho Deus manifestou-se como favorável a todos os homens e está do seu lado, também dos pagãos, e sobretudo dos mais fracos, marginalizados e abandonados. Foi no quadro da influência cristã que Immanuel Kant apresentou como núcleo da moral o respeito para com a humanidade "Trata a humanidade na tua pessoa e na pessoa de todos os outros sempre como fim, nunca como simples meio."As coisas são meios e, por isso, compram-se e vendem-se e têm um preço. O homem, porém, não tem preço, porque é fim e não meio. Ele tem dignidade.Aí está a razão por que é discutível que Portugal seja um país católico.
De facto, a maioria da população declara-se católica nas estatísticas. Ora, talvez seja católica, mas cristã não é com certeza. Se o fosse, não haveria dois milhões de pobres e 200 mil pessoas que lutam com a fome.
Por outro lado, uma sociedade equilibrada e justa caminha para um tipo de figura que se aproxima da do ovo: a parte do meio é vasta e as pontas (os ricos e os pobres) são arredondadas. Entre nós, porém, cava-se cada vez mais fundo o abismo entre os muito ricos e os pobres e muito pobres: a ponta da pirâmide aguça-se e a base é cada vez mais ampla".

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Fazer férias de si próprio

"Detesto a mania pós-moderna das viagens e gente que não pode estar quieta. A meu ver, esta moda que tantos pensam ser sinal de sofisticação só revela almas inquietas, que não se suportam a si mesmas e mudam constantemente de sítio no desespero de fazerem férias de si próprias, que é afinal aquilo que sem saber procuram".

Luís Fernandes, in Público, 4.1.2006

terça-feira, 3 de janeiro de 2006

Casiano Florestán e Lorenzo Gomis

Acabo de saber da morte do teólogo Casiano Florestán. O seu amigo Juan Tamayo inicia assim um longo depoimento em que recorda a figura de Florestán:
"Al amanecer del 1 de enero de hoy fallecía en Pamplona mi entrañable amigo Casiano Floristán, que había nacido en Arguedas (Navarra) el 4 de noviembre de 1926. Ha sido una de las personalidades más relevantes del panorama teológico español de la segunda mitad del siglo XX. (...)". (Continuar a ler AQUI)
Outra figura que marcou o catolicismo aberto e interventivo, em Barcelona, que faleceu igualmente, mas no último dia de 2005, foi Lorenzo Gomis. Era conhecido sobretudo pela sua actividade como jornalista, como professor e investigador de jornalismo e como poeta. Mas foi igualmente o fundador, com sua mulher, da revista El Ciervo, fundada em 1951, perseguida pelo franquismo, e que ainda se publica.