domingo, 31 de maio de 2015

Santíssima Trindade, Romero, Filipe Néri e maçonaria

No comentário aos textos da liturgia católica deste domingo, dedicado à Santíssima Trindade, Vítor Gonçalves escreve sobre Entrar no mar:

Um só Deus em três pessoas parece inverosímil. Não se compreende com lógica, mas com amor. Com a surpresa e a disponibilidade de um mergulho confiante nos braços que nos amparam. Como dizia Madre Assunción Soler Gimeno, fundadora das Irmãs Carmelitas do Sagrado Coração de Jesus, na belíssima Málaga, banhada pelo Mediterrâneo: "Só com as vossas forças não confiem em nada, mas com Deus, valemos tudo, saberão tudo, poderão tudo." Como ser "com Deus" sem ser "por dentro"? Vivendo o dinamismo do Pai que é amor e doação de vida, aprendendo com Jesus a derrubar muros e encantarmo-nos em salvar o que parecia perdido, criando o que o Espírito inspira para uma vida mais plena? "Ensinar as nações" é mostrar que ninguém está fora da comunhão de Deus, que o perdão é chave de crescimento, e que as nossas vidas estão entrelaçadas. A trindade que Deus é revela-se na comunhão que fazemos, nos diálogos e laços que alimentamos, na diversidade que fazemos riqueza, no amor que não deixamos gastar-se. Não há felicidade na solidão!
(o texto completo pode ser lido aqui)


No Público, frei Bento Domingues evocava a figura do arcebispo Óscar Romero, que foi assassinado há 35 anos em El Salvador e foi beatificado há uma semana. Sob o título Assassinado no altar, escreve:

A homilia de Romero, a 21 de Janeiro de 1979, no funeral do padre Octávio Ortiz e de mais quatro jovens assassinados pelas forças de segurança salvadorenhas, numa casa de retiros, é mais realista: Este mundo passa; somente permanece a alegria de se ter vivido para implantar, nele, o reino de Deus. Passarão pela boca do mundo todos os boatos, todos os triunfos, os capitalismos egoístas, os falsos êxitos da vida. Tudo isso passa. O que não passa é o amor, a coragem de reverter o dinheiro, os bens e a profissão ao serviço dos outros, a felicidade de compartilhar e de sentir todos os seres humanos como irmãos. Ao entardecer da vida, julgar-te-ão pelo amor.
(o texto completo pode ser lido aqui)


No CM de sexta-feira, Fernando Calado Rodrigues fez uma outra evocação: a de São Filipe Néri, O santo da alegria, para se referir depois aos papas João Paulo I e Francisco:

“Diz-se que o sentido do humor – depois do breve pontificado de João Paulo I – ainda não regressou ao Vaticano. Não faltam sinais dessa demora. A alegria do papa Luciani era subversiva. Ao gostar de anedotas, de perder tempo com crianças, de gracejar em dialeto com a sua gente, destoava naquele cenário de sagradas solenidades” escrevia frei Bento Domingues, em 1998, numa crónica que pode agora ser lida no livro “O bom humor de Deus
(o texto completo pode ser lido aqui)


No DN de sábado, Anselmo Borges escreveu sobre Maçonaria, Igreja e segredo:

Todos os cidadãos têm, no quadro da lei, direito ao segredo. Mas ainda se justifica hoje o segredo maçónico? De qualquer modo, gostei de ler um bem conhecido maçon, Ricardo Sá Fernandes, quando recentemente disse ao i: "Não tenho a mais pequena dúvida: se eu detectasse situações de corrupção na maçonaria, obviamente que a denunciaria à justiça profana. Sou, primeiro, cidadão, e só depois maçon. E se tivesse uma varinha mágica, convenceria todos os meus irmãos a assumir que são maçons quando estão em cargos públicos e políticos."
(o texto completo pode ser lido aqui)

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Humor, teologia e fragmentos: um caminho espiritual

Nesta sexta-feira, às 18h30, Daniel Oliveira apresentará, na Igreja do Convento de São Domingos, de Lisboa (R. João Freitas Branco, 12), o livro O Bom Humor de Deus e Outras Histórias (ed. Temas e Debates/Círculo de Leitores). Este é o terceiro volume da antologia de crónicas do Público que frei Bento Domingues escreve no Público todos os domingos, há mais de 23 anos. No sábado, entre as 16h30 e as 17h30, Bento Domingues estará no espaço da Porto Editora, na Feira do Livro de Lisboa, para autografar os três volumes de antologias. Tal como os anteriores volumes, referidos no final deste texto, O Bom Humor de Deus tem uma introdução, escrita pelos organizadores da antologia, que aqui a seguir se reproduz, como aperitivo à leitura.



Texto de António Marujo e Maria Julieta Mendes Dias

A 4 de Outubro de 1998, frei Bento Domingues descrevia o seu labor como o de uma “teologia em fragmentos”. Nesse texto, intitulado “Nem fuga do mundo nem abandono ao mal do mundo”, identificava a necessidade de uma espiritualidade que não entenda o cristianismo como uma mística de “fuga do mundo” mas que não o reduza, tão pouco, a uma “mística de transformação do mundo”. E explicava: “É preciso recusar o império da lei do pêndulo. Prefiro o modelo do tear. Neste, o movimento entre extremos integra, num tecido, todos os fios da vida. Na apreciação do fenómeno religioso e das suas metamorfoses ainda continuamos a ser vítimas de uma visão pendular.”
Não há uma visão pendular na “teologia em fragmentos” de Bento Domingues. Nas suas diferentes intervenções cívicas, eclesiais e teológicas – e, de um modo especial, nas crónicas que, desde 3 de Maio de 1992, escreve, semana após semana, no Público – ele concretiza, de facto, o modelo do tear, que “integra todos os fios da vida”.
Aliás, já mais recentemente, frei Bento insistia naquele caminho. Na crónica de 14 de Setembro de 2014 (com o título “O desterro da teologia”), escrevia: “Não me sinto mal no caminho da ‘teologia do fragmento’, do provisório. Sou alérgico às declarações classificadas como definitivas, irreformáveis, de certo estilo de magistério eclesiástico. Em sentido contrário, não sou menos alérgico ao relativismo, ao vale tudo! Somos filhos do tempo, na escola de todas as épocas, lugares e culturas. O Verbo fez-se e continua a fazer-se ‘carne’, fragilidade humana no tecido dos múltiplos e contraditórios sinais dos tempos antigos e no mundo contemporâneo.”
Entre estas duas frases, apesar dos 16 anos de diferença, tece-se uma profunda relação e coerência na reflexão sobre a questão de Deus, pelo original caminho que propõe – e o catolicismo português só tem de estar grato ao diálogo do cristianismo com a cultura e à afirmação teológica que, na praça pública, frei Bento Domingues vem fazendo. (1) Ao mesmo tempo, essas duas frases condensam muito da intencionalidade da sua proposta espiritual – porque há uma proposta espiritual evidente nos textos de Bento Domingues.

* * *

Desde logo, estamos perante uma espiritualidade que se entende como imersa no mundo e com ele identificada. O que significa que assume a condição humana de que faz parte. Nem poderia ser de outro modo, tendo em conta a matriz cristã de frei Bento. Na sua expressão mais autêntica, o cristianismo entende que Deus, através da pessoa e da vida de Jesus, assumiu também a plena humanidade. Como escrevia em 5 de Março de 2000: “A complexidade do ser humano, enquanto processo permanente de personalização, não pode ser confundida com a “alma separada” nem com o corpo biológico. É constituída por um nó de relações com o mundo, com os outros, com a transcendência. São relações simbólicas. Não podem, por isso, ser vividas só dentro ou só fora de portas da vida interior.”

Maria e o Menino – um álbum iconográfico na internet


Virgem navajo e Menino, da autoria do padre John Giuliani, 
um dos postais do álbum de Manuel Pinto

Maio é, no catolicismo, mês consagrado à figura de Maria. Dizia Santa Teresa de Lisieux (do Menino Jesus). “Para que um sermão sobre a Santa Virgem dê frutos, é necessário que ele mostre a sua vida real, tal como o Evangelho a deixa entrever, e não a sua vida suposta.”
Ao longo de vinte séculos, construiu-se à volta de Maria de Nazaré uma vida suposta que não corresponde de facto à sua vida real. A exegese bíblica das últimas décadas tem, no entanto, ajudado também a reconstruir a sua vida e personalidade. Mesmo se sobre ela pouco ainda se sabe, como reconhece Jacques Duquesne, no início do livro Maria – A Verdadeira História da Mãe de Jesus (ed. Asa): “A mulher mais célebre de toda a História do mundo surgiu da noite, do desconhecido.”
Apesar disso, os poucos elementos da sua vida – nomeadamente, o facto de ter sido mãe de Jesus e de o ter acompanhado no momento da morte – fizeram dela alguém que muitas pessoas sentem próxima. Foi isso que, ao longo dos séculos, transformou Maria de Nazaré numa referência para milhões e milhões de cristãos.
A arte não ficou alheia a essa veneração e ela própria ajudou a construir imagens, venerações e proximidades. Na internet, é hoje possível descobrir muitos dos caminhos artísticos percorridos na representação de Maria, seja através da pintura ocidental, dos ícones orientais ou dos ex-votos e das representações populares.
Manuel Pinto, um dos autores deste blogue, criou no Pinterest um álbum com algumas dessas representações, que pode ser visto aqui (o álbum pode ser visto sem registo mas, se cada pessoa quiser tornar-se seguidora do álbum, terá de fazer um registo para esse efeito).

São postais sobre o tema de Maria com o Menino, ou grávida, nas figuras de Senhora do Ó ou Senhora da Esperança. Nestas representações, procura-se um valor estético que ultrapasse o mau gosto com que tantas vezes estas representações são feitas, mas que dê também uma ideia da diversidade de olhares e da perspectiva do tempo. Fica, por isso, o convite à contemplação artística.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Pentecostes, um mundo de irmãos, ecologia e combate à pobreza

Não desistir do Espírito do Pentecostes era a proposta de frei Bento Domingues, na sua crónica do último domingo, no Público:

No começo dos Actos dos Apóstolos, Jesus Cristo manifestou-se um bocado desesperado. Tinha passado a vida a tentar convencer os Doze de que foram chamados, não para ocupar lugares de chefia, mas para dar a vida por um mundo novo, no qual as pessoas são apreciadas pelo serviço que prestam. Ele próprio veio para servir, não para dominar. No entanto, a única pergunta que lhe fazem depois da ressurreição é miserável: Senhor, será agora que vais restaurar a realeza em Israel? O Mestre é muito firme: só vos pertence ser minhas testemunhas até aos confins da Terra e da única coisa que precisais é do Espírito de Deus. Foi ele que animou a minha vida.
Não celebramos a festa de Pentecostes por nostalgia. A Terra nunca foi um paraíso. Precisamos do espírito do Pentecostes para que nenhuma geração desista de um mundo onde não haja indigentes, mas irmãos.
(o texto pode ser lido na íntegra aqui)


Também Vítor Gonçalves escreveu sobre a mesma festa cristã, propondo uma Litania de Pentecostes:

Vem, Espírito Santo! Vem com o dom do Temor de Deus,
responsabilizar toda a humanidade no cuidado da vida e dos dons recebidos e adquiridos. Aquele temor que não é medo, mas atenção e fidelidade ao essencial, confiado na salvação oferecida em Jesus; aquele nos faz viver em mais amor e verdade, na comunhão com Deus – Trindade.
(o texto pode ser lido na íntegra aqui)


No DN de sábado, Anselmo Borges continuava a reflexão sobre Ecologia e religião, iniciada na semana anterior:

 “Dominai a Terra”, disse Deus aos primeiros homens, segundo o Génesis. Há quem acuse essa ordem divina da presente situação. Má interpretação, pois o que Deus mandou foi cuidar da Terra como quem cuida de um jardim. E aí está outra razão para o Papa Francisco publicar em breve uma encíclica sobre a preservação do meio ambiente: é preciso cuidar da natureza, porque é criação, dom e presente de Deus.
(o texto pode ser lido na íntegra aqui)


Já Fernando Calado Rodrigues escreveu acerca da pobreza e a falta de vontade política para combater o flagelo, sob o título Os pobres não votam:

Nos tempos de crise, não são os ricos os mais afetados, são os pobres os que mais sofrem. E muitos dos que antes não o eram acabam por ser lançados para níveis próximos do limiar da pobreza. Nesta última crise, que o país atravessa, resvalaram para essa situação mais duzentos mil portugueses.
É por isso urgente um envolvimento de todos – a começar pelos partidos políticos – na implementação de uma estratégia nacional para a erradicação da pobreza.
(o texto pode ser lido na íntegra aqui)

domingo, 24 de maio de 2015

São Romero de América: “A Igreja não pode ficar calada diante de tanta abominação”

Agenda e evocação


A vida e mensagem de Óscar Arnulfo Romero, arcebispo de San Salvador, assassinado há 35 anos e ontem beatificado na cidade onde morreu, serão evocadas nesta segunda-feira à noite, a partir das 21h, no Convento de São Domingos, de Lisboa. Na véspera da sua morte, Romero dizia: A Igreja, defensora dos direitos de Deus, da lei de Deus, da dignidade humana, da pessoa, não pode ficar calada diante de tanta abominação.
A sessão, com o título Monsenhor Oscar Romero – Profeta e Mártir de um mundo novo, é organizada pela comunidade do Convento de São Domingos e tem a colaboração da editorial Apostolado da Oração, dos jesuítas, que acaba de publicar uma biografia de Óscar Romero. O encontro contará com a participação do dominicano fr. Rui Grácio e da irmã Mariana Vilar, das Escravas do Sagrado Coração de Jesus. Na ocasião, farei uma curta apresentação da biografia editada na última semana pela AO (deve corrigir-se que a beatificação foi feita ontem, em San Salvador, pelo cardeal Angelo Amato).
Romero, de quem a Consolata Editora editou A Doce Violência do Amor, que recolhe excertos de homilias e textos, foi um incansável defensor dos mais pobres e do povo sofrido de El Salvador, que acabou por ser vítima de uma guerra civil que custou milhares de vidas.
O seu martírio foi reconhecido pelos Papas João Paulo II e Bento XVI, mas as teias burocráticas do Vaticano e a oposição declarada de alguns bispos e cardeais fizeram com que tardassem 35 anos até ao reconhecimento institucional, pela Igreja Católica, de que São Romero da América, como já há muito era chamado pelo povo, foi morto por causa da fé, como aqui já se recordou.
Na homilia que fez na véspera da sua morte, Óscar Arnulfo Romero fez um apelo especial aos militares, terminando quase com um grito: “Parem a repressão!” As suas palavras, nessa homilia, interrompida várias vezes por aplausos dos fiéis, transcrevem-se a seguir:

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Diálogo inter-religioso fora de portas

Agenda

Música, espaços de oração, debates, conferências, feiras do livro e outras actividades são os ingredientes da iniciativa ACM Fora de Portas, sobre o diálogo inter-religioso, que o Alto Comissariado para as Migrações promove neste fim-de-semana na Alameda Afonso Henriques, em Lisboa.
A iniciativa, segundo informação daquele instituto governamental, pretende dar visibilidade a comunidades religiosas, bem como ao diálogo inter-religioso e ao próprio fenómeno religioso “espaço de vivência de cidadania, paz, tolerância e mútuo entendimento”.
Sábado e domingo, haverá actividades promovidas pelo patriarcado católico de Lisboa, por comunidades anglicanas e protestantes, por muçulmanos, bahá’ís, budistas, hindus e sikhs.
A iniciativa decorre entre as 15h00 e as 21h00, e tem a parceria da Câmara Municipal de Lisboa e o apoio das juntas de freguesia de Arroios e Areeiro.
O programa completo pode ser consultado aqui.



terça-feira, 19 de maio de 2015

Lluís Duch, monge de Montserrat, antropólogo da vida quotidiana: duas intervenções em Lisboa

Agenda

O catalão Lluís Duch, monge de Montserrat e professor da Universidade Autónoma de Barcelona, está nesta quarta-feira em Lisboa, para participar num colóquio sobre Desporto, Ética e Transcendência, que começa às 9h e se prolonga até cerca das 18h30.
A intervenção de Lluís Duch, sobre Sacralidades desportivas, símbolos, mitos e rituais, decorre na Universidade Católica a partir das 9h30 (e não às 14h30, como estava previsto, por impossibilidade de última hora de Pablo d’Ors, que deveria intervir no início da manhã; a intervenção de Pablo d’Ors, autor da Biografia do Silêncio e de Sendino Está a Morrer será lida às 14h30; o restante programa pode ser consultado aqui).
Duch, monge de Montserrat desde 1961, é autor de mais de meia centena de títulos, entre os quais Religión y PolíticaReligión y Comunicación e de uma Antropologia de la Vida Quotidiana (cujo segundo volume tem o título Ambigüedades del Amor).
Numa entrevista a ReligionDigital, sobre Religión y Política (disponível aqui), Duch afirmava que o religioso e político cobrem, muitas vezes, o mesmo campo, “que é o campo do humano”. O que desmente essa ideia tão comum que religião e política podem ser duas realidades separadas. Pelo contrário: “No religioso há implicações políticas e no político há implicações religiosas.”
Lluís Duch é igualmente tradutor, para o catalão, de autores como Lutero, Angelus Silesius ou Dietrich Bonhoeffer e a sua importância no pensamento e na cultura catalães já foi objecto de um livro-homenagem com o título Empalabrar el mundo –

Conversa livre na Capela do Rato


Também nesta quarta-feira, às 21h30, Lluís Duch estará na Capela do Rato, em Lisboa, para uma conversa livre precisamente sobre os temas maiores da sua investigação: religião, antropologia do quotidiano, política e comunicação.