Nova evangelização, expressão legítima numa sociedade aberta e consciente da importância dos valores espirituais
Guilherme d'Oliveira Martins, 58 anos, presidente do Centro de Reflexão Cristã
1. As transformações sociais têm uma influência indiscutível na experiência religiosa. Há pouco tempo, Gianni Vattimo chamava, por exemplo, a nossa atenção para o facto de os desafios europeus perante os quais se encontra a Igreja Católica serem diferentes dos que ocorrem na América do Sul ou em África - apesar das complementaridades. Há virtualidades que devem ser consideradas, como o diálogo, cada vez mais fecundo, entre a religião e a ciência ou entre a fé e a razão, não devendo esquecer-se a comunicação entre as diferentes culturas, num momento em que a cultura da paz exige um esforço acrescido de diálogo entre as religiões.
2. A secularização é um sinal dos tempos, como tem sido salientado pelo pensador canadiano Charles Taylor. Essa circunstância obriga a que haja novas respostas por parte da Igreja Católica e das diversas religiões, de modo a impedir o clericalismo e anti-clericalismo ou o laicismo dogmático como factores de empobrecimento espiritual e social. A laicidade, sem adjectivos, é um sinal de maturidade e de enriquecimento para as sociedades contemporâneas - envolvendo a liberdade religiosa e o respeito pelas convicções religiosas, como salientou o Concílio Vaticano II.
3. Nova evangelização é uma expressão legítima, que pode ser útil, desde que inserida numa sociedade aberta e consciente da importância dos valores espirituais. Pode ser uma estratégia de comunicação, mas mais do que isso deve corresponder fundamentalmente a uma tomada de consciência sobre a importância do fenómeno religioso (como tem sido salientado por personalidades tão diferentes como Umberto Eco e Regis Debray).
Para os cristãos, o Evangelho de Jesus Cristo deve corresponder à procura de compreensão e desenvolvimento numa sociedade assente na dignidade universal da pessoa humana. A complexidade actual obriga a agir em vários campos da sociedade. A pastoral do amor e do cuidado (caritas, caridade) deve orientar-se para a sociedade plural e diversa, segundo a especialização e a compreensão das diferentes vocações e serviços. Hoje o Ver, Julgar e Agir tem de se adequar a uma realidade heterogénea caracterizada pelos progressos alcançados na educação, na cultura e na ciência, na economia e na sociedade. Daí a necessidade de uma pastoral inteligente, diversificada, assente na sabedoria e na experiência do amor.
4.Uma decisão ética para os cristãos tem de se basear sempre na Pessoa de Jesus Cristo e na dignidade universal da pessoa humana. O que está em causa é a responsabilidade para com o outro, de que fala Lévinas, bem como a preservação do pluralismo e do respeito mútuo entre todos. Não podemos esquecer, assim, que a ética da convicção e a ética da responsabilidade, de Max Weber, se ligam intimamente, referindo-se também ao fenómeno religioso - mesmo que o mínimo ético seja na essência cívico.
5. Como já disse, não há (não pode haver) uma única fórmula de acção para as diferentes circunstâncias - disso não pode haver dúvidas. O melhor método terá de passar sempre pela lógica do fermento na massa ou do grão de mostarda. Como diz o Salmo 24: "Todos o caminhos do Senhor são graça e fidelidade para aqueles que guardam sua aliança e seus preceitos".
(Foto copiada daqui)
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