segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O risco de salvar, a voz e a escuta

No comentário aos textos da liturgia católica deste domingo, Vítor Gonçalves escreve sobre O risco de salvar:

(Ilustração: Bernadette Lopez (Berna), reproduzida daqui)

Vencer o mal e cuidar de quem sofre é o trabalho arriscado de nos darmos mais abundantemente, de não nos fecharmos em desculpas estéreis ou mortes antecipadas, de salvar o que parecia perdido. “Tudo o que arriscas, sempre se multiplica” está escrito numa folha dada aos peregrinos de Santiago, no acolhimento de Arudy, nos Pirinéus franceses. Como se Deus no-lo dissesse ao coração!
(Texto na íntegra aqui)


Na semana passada, comentando o episódio da Transfiguração, escrevia sobre A voz e a escuta:

O único pedido do Pai aos discípulos do Filho, no deslumbramento do Tabor, é que escutemos Jesus. Depois de afirmar o seu amor, diz-nos que Ele é a sua voz, e as suas palavras terão força de vida eterna. Abrir os ouvidos e o coração a Jesus é acolher as palavras sempre renovadoras do Evangelho. Deixamos de escutar Jesus quando o esquecemos e nos enredamos em discursos de palavras ocas, quando o que dizemos não se vê no que fazemos, quando pelo poder e pelo medo queremos dominar os outros e o mundo. E neste serviço de escutar, que só pode ser humilde como é a terra onde se lançam as sementes, é preciso escutarmo-nos e escutar todos. Escutar para dialogar, escutar para procurar caminhos mais humanos e divinos, escutar para iluminar.
(Texto na íntegra aqui)

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Quem dizeis vós que eu sou? - Visões e imagens contemporâneas de Cristo - uma proposta em Braga, sobre Jesus na arte contemporânea

“Quem dizeis vós que Eu sou?” – Visões e Imagens contemporâneas de Cristo

Braga - O calvinista Jérôme Cottin abre o ciclo, o jesuíta Llyod Baugh encerra


Paul Gauguin, Calvário Bretão - O Cristo Verde, 1889  
(Musées Royales des Beaux-Arts de Belgique)

O ciclo de conferências “Quem dizeis vós que Eu sou?” – Visões e Imagens contemporâneas de Cristo inicia-se na próxima quinta-feira, em Braga (Auditório Vita, junto ao Seminário Nossa Senhora da Conceição, 18h-22h) com uma intervenção do teólogo calvinista francófono Jérôme Cottin, que falará sobre Imagens contemporâneas de Jesus na arte dos séculos XX-XXI: reflexão estético-cristológica.
A iniciativa pretende reflectir sobre os rostos de Cristo na arte contemporânea. A propósito, diz o texto de apresentação do ciclo: “A verdadeira arte é sempre expressão de uma visão do mundo e da história e do desejo espiritual do ser humano. Estas sessões públicas de cristologia pretendem ser uma oportunidade para a teologia académica entrar em diálogo profícuo com a arte contemporânea, mais especificamente com a pintura e o cinema, enquanto lugares intersticiais de sentido e de transfiguração existencial. Este ciclo será certamente uma oportunidade para os estudantes, docentes de religião e o público em geral acederem a outras fontes e fronteiras de reflexão nem sempre frequentadas e habitadas.” (Aqui pode ler-se um texto mais longo sobre as razões da iniciativa)
Professor na Universidade Protestante de Estrasburgo e de Paris e docente associado no Instituto Superior de Teologia das Artes do Theologicum do Instituto Católico de Paris, Jérôme Cottin irá abordar, quinta-feira próxima, “os pressupostos bíblico-teológicos, históricos-iconográficos, relacionados com a figura de Cristo ao longo dos tempos, para depois apresentar pedagogicamente as diversas imagens de Cristo presentes na arte dos séculos XX-XXI”. O seu objectivo será o de formular uma reflexão estético-cristológica a partir das imagens contemporâneas de Cristo e estabelecer as vias de um diálogo questionador entre teologia e a cristologia, de um lado, e a cultura contemporânea, do outro.
Diz Jérôme Cottin, sobre o tema da sua conferência, que a “arte tem, por vezes, ultrapassado a teologia” e que a liberdade de criação artística tem sido recebida de formas diferentes pelos cristãos. “Certos Cristos ‘chocantes’, que tiveram problemas na sua época, tornaram-se de seguida modelos normativos: Caravaggio, Leonardo da Vinci… O século XX mostra-nos que os Cristos ‘inculturados’, ou muito personalizados, são em geral teologicamente mais verdadeiros que os Cristos saídos de uma tradição iconográfica que se pretendia normativa ou fiel à ‘verdadeira imagem’, ao ‘verdadeiro Cristo’”.
Autor de uma vasta bibliografia (entre cujos títulos se contam La mystique de l’art. Art et christianisme de 1900 à nos jours, Dieu et la pub e Jésus-Christ en écriture d’images. Premières représentations chrétiennes, Cottin é ainda membro do comité científico da conhecida revista Arts Sacrés, membro do conselho científico da colecção Estética e espiritualidade, das Editions modulaires européenes (Bélgica) e membro da rede internacional Art and Christianity Enquiry.
A 22 de Abril, a segunda conferência deste ciclo (organizado em conjunto pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica – pólo de Braga, e o Auditório Vita), terá como interveniente o padre jesuíta canadiano Llyod Baugh, que falará sobre a figura de Cristo no cinema contemporâneo, antecedido pela exibição inédita do filme Su Re (Rei), de Giovanni Columbu.

Os encontros são de entrada livre e gratuita, sendo necessária apenas a inscrição para aqueles que desejam tomar um breve jantar, a servir no Auditório Vita, no intervalo da conferência. Mais informações: geral@auditoriovita.com ou secretaria.facteo@braga.ucp.pt.


Mark Wallinger, Eis o homem (1999), Hayward-Gallery-2014, 
foto de Linda Nylind


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sábado, 27 de fevereiro de 2016

O Bloco tem dois problemas

Sobre a polémica que ontem dominou comentários políticos e mediáticos, fui convidado a escrever um comentário no Diário de Notícias, que foi hoje publicado; aqui fica o texto:

A imagem do Bloco sobre Jesus tem um problema constitucional: pode um partido político fazer profissão de fé pública em Jesus Filho de Deus – aquilo em que acreditam os cristãos? Se, por exemplo, um primeiro-ministro se benzesse publicamente, quantos não o censurariam por ameaças à laicidade? António Guterres fê-lo uma vez e foi criticadíssimo (ou seja, um político perde o direito às convicções pessoais, mesmo se tal não ameaça em nada o Estado ou a laicidade).
O BE faz pelo menos duas profissões de fé: em Jesus como Filho de Deus e em Deus-Pai. E tem outro problema: ignora a figura da mãe e refere apenas o tradicional Deus-pai. O que, para muitos cristãos, hoje, é redutor, porque entendem Deus como pai e mãe. O Bloco alia-se, assim, ao cristianismo conservador (também na imagem usada).
A frase não é original, já vários grupos protestantes e católicos a publicaram – ver o BE a imitar cristãos tem graça... E, mais do que ofensiva (o que a frase diz é verdade cristã), a imagem é um desastre de comunicação. Como diz o grupo Rumos Novos, de homossexuais católicos: “Atitudes como [esta] terão sempre o efeito contrário ao pretendido e tornarão mais difícil a integração plena das pessoas de orientação homossexual, criando anticorpos...” E Marisa Matias, a eurodeputada do Bloco, escreveu no Facebook: “Acho que saiu ao lado da intenção que se pretendia. Que foi um erro.”
Seria interessante ver o Bloco preocupado também, por exemplo, em apoiar as crianças cristãs perseguidas só pelo facto de o serem (na Síria, Iraque, Palestina, Índia...). E também seria interessante ver a indignação de tantos católicos voltar-se não tanto contra cartazes com pouca graça mas contra a tirania financeira que despreza as pessoas – filhas de Deus e irmãs umas das outras, como afirma a fé cristã. É porque o Deus dos cristãos deve rir-se imenso com estas birras sem interesse. O que o afligirá mesmo é o sofrimento de tantas pessoas.
(Texto disponível também aqui)

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Perante as migrações, ultrapassemos o medo - texto do ir. Aloïs, de Taizé




quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Perante as migrações, ultrapassemos o medo!

Não permitamos que a rejeição do estrangeiro se introduza nas nossas mentalidades, pois recusar o outro é o germe da barbárie.


Refugiados sudaneses em Taizé 
(foto reproduzida daqui, onde se podem ler mais elementos sobre esta história)

No Público de hoje, o irmão Aloïs, de Taizé,  escreve sobre a questão dos refugiados:

Perante esta situação, o medo é compreensível. Resistir ao medo não significa que este deva desaparecer, mas sim que não devemos deixar que nos paralise. Não permitamos que a rejeição do estrangeiro se introduza nas nossas mentalidades, pois recusar o outro é o germe da barbárie. (...)
Assumindo juntos as responsabilidades exigidas pela vaga de migrações, em vez de brincarem com os medos, os responsáveis políticos poderiam ajudar a União Europeia a reencontrar uma dinâmica entorpecida. (...)
Há muitos jovens europeus que não conseguem compreender os seus Governos quando estes manifestam vontade de fechar as fronteiras. Pelo contrário, estes jovens pedem que a uma mundialização da economia seja associada uma mundialização da solidariedade e que esta se expresse em particular através de um acolhimento digno e responsável dos migrantes. Muitos destes jovens estão dispostos a contribuir para esse acolhimento. Ousemos acreditar que a generosidade também tem um papel importante a desempenhar na vida urbana.
(texto na íntegra aqui)

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Peter e Betty, misericórdia e aborrecimento, os livros e o viver - crónicas a propósito da viagem do Papa ao México, o ano da misericórdia, a Quaresma e o sentido da vida

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Peter e Betty, misericórdia e aborrecimento, os livros e o viver

Crónicas

No dia em que o Papa Francisco termina a sua viagem ao México visitando Ciudad Juárez, vale a pena recuperar a crónica de Alexandra Lucas Coelho sobre Peter e Betty, que vivem naquela que é uma das cidades mais violentas do mundo. Com o título Se Cristo fosse vivo, escrevia:

Conheci Peter e Betty em 2010. Ele tinha 87 anos, ela 76.
Viviam num bairro pobre da cidade mais violenta do mundo. Não eram marido e mulher, nem parentes, mas algo que eu nunca tinha visto num par: camaradas de casa, de luta e de Deus. Peter crescera na Chicago de Al Capone, fora piloto na II Guerra, sobrevoara Nagasáqui depois da bomba, tornara-se padre carmelita. Um dia partiu para a América Latina onde encontrou Betty, que crescera no Iowa entre 13 irmãos, era freira e enfermeira da Ordem da Misericórdia, trabalhava com os índios nas montanhas do Peru. Juntos percorreram o continente, entre combates e ditaduras, até que nos anos 1990 foram viver para Ciudad Juárez, fronteira do México com a cidade texana de El Paso. Essa semana em que os conheci foi igual à anterior e à seguinte em Juárez, corpos furados de balas ou sem cabeça, mulheres violadas, tiroteio, raptos, tortura, extorsão. Peter e Betty não viviam em Juárez apesar disto, mas por isto. A vida deles era, a cada dia, abraçar os vivos e honrar os mortos. 
(texto para continuar a ler aqui)


Domingo, no Público, frei Bento Domingues escrevia, sob o título Tanta misericórdia já aborrece:

À saída de uma Igreja em Braga, um senhor, que eu não conhecia, veio directo a mim, indignado: eu já não posso com tanta misericórdia! Sem suspeitar o que dali podia vir, pedi-lhe alguma para mim. Explicou-se. Como bom e velho bracarense, sou católico, desde pequeno. Aprendi a doutrina na família e na igreja, onde também casei. Tenho filhos e netos. A minha mulher educou-os bem, raramente falto à missa e pertenço a várias confrarias.
Sendo assim, disse-lhe que não precisava da misericórdia de ninguém. Sorriu e acrescentou: sei quem é e conheço as suas ideias. Quero desabafar.
(texto para continuar a ler aqui)


Sexta, no CM, Fernando Calado Rodrigues escrevia sobre A ilha da reunião:

O Papa Francisco e o Patriarca Cirilo, da Igreja Ortodoxa Russa, encontraram-se hoje em Havana, Cuba. Nos anos 60, esta ilha foi o palco da tensão mais grave entre as duas superpotências de então – os Estados Unidos e a União Soviética – colocando o mundo à beira da guerra nuclear. Na altura João XXIII contribuiu para que prevalecesse a paz. E, há pouco tempo, o Papa Francisco conseguiu que Cuba e os EUA reatassem relações diplomáticas suspensas há mais de cinquenta anos.
(texto para continuar a ler aqui)


Sábado passado, no DN, Anselmo Borges escrevia, sob o título Viver:

E aí estão três tarefas para a espiritualidade: dar-se conta do viver; agradecer por a Vida nos fazer viver, nos vivificar: vivemos graças à Fonte da Vida; vivificarmo-nos, darmos vida uns aos outros, na compaixão e na ajuda mútua para nos libertarmos. Lá está o poema zen: "O que é o mar? O que permite o peixe nadar. O que é o ar? O que permite o pássaro voar. O que é o Nada e o Vazio? A Vida que te faz viver." "Vejo a ervita entre as gretas do pavimento. Donde lhe virá a força para abrir passagem entre o asfalto?" "Palpo aqui uma Presença latente/Não sei quem é. /Mas brotam lágrimas de agradecimento." Então, o que é morrer senão sair para dentro da Vida verdadeira, definitiva e eterna: "vida no seio da Vida da vida"?
(texto na íntegra aqui)


No comentário aos textos bíblicos da liturgia católica de Domingo passado, Vítor Gonçalves escrevia sobre Livros livres:

Entramos em Quaresma em ambiente de luta e de escolha. Ler e pensar são dois grandes presentes de qualquer livro. E a Bíblia continua a ser um dos mais interpeladores. Se nas suas palavras, e nas de muitos livros lidos, vislumbrarmos como Deus nos ama livres e responsáveis, a Páscoa acontecerá todos os dias!
(texto na íntegra aqui)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Pessoas que são um caminho para Deus

Estas pessoas são um caminho para Deus. Jean Vanier, fundador d’A Arca e do Movimento Fé e Luz, prémio Templeton no ano passado, explica, em entrevista ao programa Setenta Vezes Sete, porque é que as pessoas com deficiência são pessoas da festa e do coração e são capazes, por isso, de ensinar e de ser um caminho para Deus.
Nesta emissão, várias pessoas com deficiência dizem porque foi importante, para elas, encontrar uma comunidade. E responsáveis da Casa de Betânia (que se inspira n’A Arca) e do Movimento Fé e Luz falam da experiência de acompanhar estas pessoas e dos desafios que a sua situação ainda coloca à Igreja e aos cristãos.



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Deus é o Existirmos, e Isto Não Ser Tudo - apresentação de livro esta terça-feira, em Lisboa