quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Peter e Betty, misericórdia e aborrecimento, os livros e o viver

Crónicas

No dia em que o Papa Francisco termina a sua viagem ao México visitando Ciudad Juárez, vale a pena recuperar a crónica de Alexandra Lucas Coelho sobre Peter e Betty, que vivem naquela que é uma das cidades mais violentas do mundo. Com o título Se Cristo fosse vivo, escrevia:

Conheci Peter e Betty em 2010. Ele tinha 87 anos, ela 76.
Viviam num bairro pobre da cidade mais violenta do mundo. Não eram marido e mulher, nem parentes, mas algo que eu nunca tinha visto num par: camaradas de casa, de luta e de Deus. Peter crescera na Chicago de Al Capone, fora piloto na II Guerra, sobrevoara Nagasáqui depois da bomba, tornara-se padre carmelita. Um dia partiu para a América Latina onde encontrou Betty, que crescera no Iowa entre 13 irmãos, era freira e enfermeira da Ordem da Misericórdia, trabalhava com os índios nas montanhas do Peru. Juntos percorreram o continente, entre combates e ditaduras, até que nos anos 1990 foram viver para Ciudad Juárez, fronteira do México com a cidade texana de El Paso. Essa semana em que os conheci foi igual à anterior e à seguinte em Juárez, corpos furados de balas ou sem cabeça, mulheres violadas, tiroteio, raptos, tortura, extorsão. Peter e Betty não viviam em Juárez apesar disto, mas por isto. A vida deles era, a cada dia, abraçar os vivos e honrar os mortos. 
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Domingo, no Público, frei Bento Domingues escrevia, sob o título Tanta misericórdia já aborrece:

À saída de uma Igreja em Braga, um senhor, que eu não conhecia, veio directo a mim, indignado: eu já não posso com tanta misericórdia! Sem suspeitar o que dali podia vir, pedi-lhe alguma para mim. Explicou-se. Como bom e velho bracarense, sou católico, desde pequeno. Aprendi a doutrina na família e na igreja, onde também casei. Tenho filhos e netos. A minha mulher educou-os bem, raramente falto à missa e pertenço a várias confrarias.
Sendo assim, disse-lhe que não precisava da misericórdia de ninguém. Sorriu e acrescentou: sei quem é e conheço as suas ideias. Quero desabafar.
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Sexta, no CM, Fernando Calado Rodrigues escrevia sobre A ilha da reunião:

O Papa Francisco e o Patriarca Cirilo, da Igreja Ortodoxa Russa, encontraram-se hoje em Havana, Cuba. Nos anos 60, esta ilha foi o palco da tensão mais grave entre as duas superpotências de então – os Estados Unidos e a União Soviética – colocando o mundo à beira da guerra nuclear. Na altura João XXIII contribuiu para que prevalecesse a paz. E, há pouco tempo, o Papa Francisco conseguiu que Cuba e os EUA reatassem relações diplomáticas suspensas há mais de cinquenta anos.
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Sábado passado, no DN, Anselmo Borges escrevia, sob o título Viver:

E aí estão três tarefas para a espiritualidade: dar-se conta do viver; agradecer por a Vida nos fazer viver, nos vivificar: vivemos graças à Fonte da Vida; vivificarmo-nos, darmos vida uns aos outros, na compaixão e na ajuda mútua para nos libertarmos. Lá está o poema zen: "O que é o mar? O que permite o peixe nadar. O que é o ar? O que permite o pássaro voar. O que é o Nada e o Vazio? A Vida que te faz viver." "Vejo a ervita entre as gretas do pavimento. Donde lhe virá a força para abrir passagem entre o asfalto?" "Palpo aqui uma Presença latente/Não sei quem é. /Mas brotam lágrimas de agradecimento." Então, o que é morrer senão sair para dentro da Vida verdadeira, definitiva e eterna: "vida no seio da Vida da vida"?
(texto na íntegra aqui)


No comentário aos textos bíblicos da liturgia católica de Domingo passado, Vítor Gonçalves escrevia sobre Livros livres:

Entramos em Quaresma em ambiente de luta e de escolha. Ler e pensar são dois grandes presentes de qualquer livro. E a Bíblia continua a ser um dos mais interpeladores. Se nas suas palavras, e nas de muitos livros lidos, vislumbrarmos como Deus nos ama livres e responsáveis, a Páscoa acontecerá todos os dias!
(texto na íntegra aqui)

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