terça-feira, 31 de maio de 2016

Frederico Lourenço às voltas com Jesus

Livro

Neste livro, um grande intelectual português e um dos nossos maiores classicistas coloca em evidência o que deveria ser um dado cultural inquestionável: “mesmo não acreditando que a Bíblia transmita ‘sem erro’ a palavra infalível de Deus e duvidando, ao mesmo tempo, que a correcta leitura da Bíblia seja relativizar e alegorizar tudo o que lá encontremos que não nos convém, mesmo assim considero o tempo gasto a ler este mais fascinante de todos os livros tempo ganho e (porque não?) infalivelmente bem empregue.”
Frederico Lourenço repetirá esta sua paixão pela Bíblia por diversas vezes ao longo do livro. E esta atitude de reconhecimento pelo valor do texto bíblico é de destacar mais ainda, quanto ela é rara na cultura portuguesa contemporânea. E é de sublinhar ainda mais quando se sabe que o autor se afastou do catolicismo em grande parte por causa da sua homossexualidade, facto que ele recorda de várias formas, em diferentes passagens do livro.
Composto por pequenos ensaios sobre os mais diversos temas, textos e personagens da Bíblia, O Livro Aberto devolve-nos ainda o prazer imenso da leitura de um texto literariamente rico e bem escrito.
Nesse exercício, Frederico Lourenço faz um trabalho (quase) completo: ele lê, desvela, revela, decifra, comenta e interroga o texto bíblico. Usando por vezes a ironia fina, o humor ou entrando em diálogo com o leitor.
O que falta, então? Colocando-se claramente numa posição antagónica da infeliz frase de Saramago, quando o escritor Nobel falou da Bíblia como um “manual de maus costumes”, Lourenço acaba por deixar o leitor frustrado porque não leva o seu exercício até ao fim. Ou seja, fica enredado quase numa tentação próxima da de Saramago: a de recusar a possibilidade da hermenêutica de um texto clássico.
Essa frustração é tanto maior quanto, em alguns momentos, Lourenço entra nesse domínio de forma arguta. Por exemplo, quando, a propósito de algumas visões cristãs mais tradicionais sobre a família, contesta a “ênfase hiperbólica na família enquanto estrutura divinamente sancionada, quando no fundo o que Jesus não parou de dizer foi precisamente o contrário: quem segue a palavra de Deus não quer saber da sua família, porque os laços de sangue não contam para nada: o que conta são os laços espirituais”.

domingo, 29 de maio de 2016

Mais Te encontro, mais Te procuro ainda

Crónicas

Na sua crónica deste Domingo, no Público, frei Bento Domingues fala sobre a teologia, Tomás de Aquino e a Trindade. Sob o título Mais Te encontro, mais Te procuro ainda, escreve:

A teologia é uma vigilância da linguagem para não ceder à ilusão de meter Deus dentro dos nossos conceitos, transformando-O num ídolo. A teologia negativa favorece o humor e a ironia ao criar a boa distância e a boa proximidade.

(Texto para ler aqui na íntegraficam a seguir as ligações para os textos de Bento Domingues dos dois últimos meses:


sábado, 28 de maio de 2016

A responsabilidade de “ter fé”

Crónicas 

No seu comentário aos textos bíblicos da liturgia católica deste Domingo, Vítor Gonçalves escreve, sob o título Com os outros:

É assim que a fé conduz sempre ao amor, não existe por ou para si mesma, e o gesto salvador de Jesus é antecipação da Páscoa oferecida a todos. Grande é a responsabilidade de todos os que nos dizemos “ter fé”. Ela tem de se concretizar em amor concreto e universal, amor que caminha e faz caminhar, amor que perdoa e levanta, que é humilde para pedir e ter esperança.

(Texto para ler aqui na íntegraficam a seguir as ligações para os textos de Vítor Gonçalves dos dois últimos meses:
22 de Maio – “Deus não é solitário”15 de Maio – Os nove (ou nove mil) frutos8 de Maio – Descer para subir1 de Maio – O trabalho e as mães24 de Abril – E se fosse comigo?17 de Abril – Escutar, conhecer e seguir10 de Abril – “Não pescas nada...!”

Ilustração: Bernadette Lopez (Berna), reproduzida daqui

Texto anterior no blogue
Eucaristia: a revolução - crónicas de Anselmo Borges

Eucaristia: a revolução

Crónicas

Na sua crónica de hoje no DN, Anselmo Borges escreve sobre Eucaristia: a revolução


O peixe e o pão eucarístico, pintura do séc. II na cripta de Lucina; 
Catacumbas de São Calisto (Roma)

Paradoxalmente, com a interpretação coisista da presença de Cristo, muitos cristãos, indo à Missa e não comungando, vêem-se libertos da urgência da conversão ao projecto de Jesus. Ora, precisamente nesta não conversão é que São Paulo via que "comemos o pão e bebemos o cálice do Senhor indignamente", tornando-nos "réus do corpo e do sangue do Senhor", isto é, culpados da sua morte: de facto, o que ele condena na comunidade de Corinto são as suas divisões e que, enquanto uns comem lautamente e se embebedam, outros passam fome.

(O texto pode ser lido aqui na íntegraficam a seguir as ligações para os textos de Anselmo Borges dos dois últimos meses:
21 de Maio – Uma sociedade ameaçada14 de Maio – Deus, obsoleto?7 de Maio – Quem manda na Igreja?30 de Abril – Os doutores da letra9 de Abril – Laicidade e laicismo2 de Abril – Sobre o radicalismo islâmico.)



Texto anterior no blogue
O ateu e o bispo - crónicas de Fernando Calado Rodrigues

O ateu e o bispo

Crónicas

Na sua crónica de ontem no Correio da Manhã, Fernando Calado Rodrigues recorda, a propósito da morte de Marco Panella, uma carta que o fundador do Partido Radical Italiano escreveu ao Papa Francisco, em Abril, a propósito da viagem do Papa a Lesbos. Com o título O ateu e o bispo, cita o padre Fernando Calado:

 “Escrevo-te do meu quarto no último andar, perto do céu, para te dizer que, na realidade, eu estive contigo em Lesbos, quando abraçavas a carne torturada daquelas mulheres, daquelas crianças, e daqueles homens que ninguém quer acolher na Europa”, dizia Marco Panella, numa carta escrita na cama do hospital e entregue pelo amigo arcebispo ao Papa. Terminava essa carta com a expressão carinhosa italiana: “Ti voglio bene davvero tuo Marco” (Quero-te, muito, de verdade, o teu Marco).
Estas palavras, para além do afeto pelo Papa, demonstram bem que, para lá de tudo o que os separava, os unia a predileção pelos mais desprezados.

(O texto pode ser lido aqui na íntegraficam a seguir as ligações para os textos de Fernando Calado Rodrigues dos dois últimos meses:
13 de Maio – O sonho do Papa [acerca da Europa]; 29 de Abril – Papa e tecnologia22 de Abril – O Papa em Lesbos8 de Abril – A fuga aos impostos1 de Abril – Dia de enganos.)

Texto anterior no blogue


quinta-feira, 26 de maio de 2016

Acção Católica em Fátima, 1956: sinais de uma modernidade nascente

Reportagem

Por causa da consciência que se adquiria em movimentos católicos, vários crentes decidiam-se pela intervenção social e política. Em 1956, fez agora 60 anos, realizava-se a primeira peregrinação diocesana de Lisboa dos movimentos da Acção Católica a Fátima. O contexto era o de um país que vivia os primeiros sinais de desprendimento de atavismos vários e de um catolicismo em que se esboçavam formas novas de participação, que viriam a ter a sua consagração no Concílio Vaticano II. 

Um filme da época registou essa peregrinação a Fátima, a 28 e 29 de Abril. A Igreja, colada inicialmente ao regime por causa das tensões da I República, via nascer no seu interior apelos novos de intervenção social e sinais de modernidade, dos quais os movimentos de Acção Católica eram percursores. Nesta reportagem de Joaquim Franco, na SIC, revisita-se esse filme e colocam-se alguns dos protagonistas dessa peregrinação a desfilar memórias e reflexões, a par dos comentários do historiador Paulo Fontes, sobre o papel da fé e da devoção.
A reportagem pode ser vista aqui.

Texto anterior no blogue
Sobre a boa economia - recensão ao livro Redescobrir a Árvore da Vida, de Luigino Bruni, por Eduardo Jorge Madureira

terça-feira, 24 de maio de 2016

Sobre a boa economia

Livro

Na sua crónica Os dias da semana, publicada no Diário do Minho de Domingo passado, Eduardo Jorge Madureira Lopes escreve sobre o livro de Luigino Bruni, Redescobrir a Árvore da Vida. Um economista lê o Livro do Génesis. Aqui fica o texto, com o título Sobre a boa economia:

Ao contrário do que sucede com os astrofísicos, cujas teorias não modificam a órbita dos planetas, os economistas e as suas teorias condicionam fortemente as escolhas económicas e, portanto, a vida de cada um. A constatação é do economista italiano Luigino Bruni, coordenador do projecto Economia de Comunhão. O autor de Redescobrir a Árvore da Vida. Um economista lê o Livro do Génesis – obra apresentada na terça-feira, na comunidade de leitores de S. Lázaro, pelo seu tradutor, José Alberto Bacelar Ferreira – estabelece, por isso, uma correlação entre a crise financeira e económica que temos vivido e as teorias económicas em voga nos últimos decénios.
Luigino Bruni, professor de Economia Política e editorialista do jornal Avvenire, constata que, nos anos mais recentes, os melhores departamentos universitários de Economia do mundo foram-se enchendo de economistas cada vez mais matemáticos e, simultaneamente, com uma formação humanística cada vez mais escassa. Esses economistas – contra os quais deveriam estar imunizadas as universidades católicas – podem perceber de modelos hiper-especializados, mas são, geralmente, incapazes de ter uma visão de conjunto do sistema económico; não conseguem, portanto, articular os modelos com a realidade económica e social.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Dialogar olhos nos olhos, um apelo à coragem

Texto de José Leitão

Na próxima quarta-feira, dia 18, realiza-se pelas 18h30 a quarta e última das Conferências de Maio 2016, promovidas pelo CRC (Centro de Reflexão Cristã), sobre o tema Chamados à Coragem. Dialogar Olhos nos Olhos. Esta terá a participação de Abdool Vakil, presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, Helena Valentim, do Graal (que teve um papel de relevo no Escutar a Cidade, promovido por vários movimentos para escutar os não-crentes como preparação para o Sínodo Diocesano de Lisboa) e Guilherme d’Oliveira Martins, do CRC.
Este será o culminar de um conjunto de conferências sobre o tema genérico Misericórdia e Diálogos – Chamados à Coragem.
As Conferências de Maio de 2016 pretendem ser uma oportunidade para ler os sinais dos tempos que vivemos, marcados por aceleradas mutações sociais, culturais e políticas, por conflitos violentos e prolongados, por tragédias humanitárias que não nos podem deixar indiferentes nem resignados.
Para o fazermos, convidámos personalidades que respeitamos, cristãos, não cristãos, crentes de outras religiões, ou não-crentes, porque pensamos que a escuta e o diálogo são uma exigência para vermos com clareza e lucidez os desafios com que estamos confrontados, porque acreditamos que todos somos necessários para assegurar refúgio, hospitalidade e justiça a quem a procura.
Acreditamos na bondade e ternura de Deus, por todos e cada um dos seres humanos, e por isso temos de reagir a uma cultura de indiferença, de exclusão e de violência, de contribuir para uma cultura de inclusão de proximidade, de diálogo olhos nos olhos.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Amoris Laetitia em debate

Agenda

Um debate sobre a exortação apostólica do Papa, Amoris Laetitia (Alegria do Amor),  que é dedicada à família, decorre este sábado, a partir das 15h00, no Convento de São Domingos, em Lisboa. Participam os casais Ana Cordovil e Jorge Wemans e Tomás Caldeira Cabral e Mónica Azevedo e, ainda, frei Bento Domingues.

O debate, organizado pelo Instituto São Tomás de Aquino (ISTA) e pelo movimento internacional Nós Somos Igreja, terminará antes das 18h30, hora a que será celebrada eucaristia, na igreja do convento (R. João de Freitas Branco, 12; metro: Alto dos Moinhos).

Texto anterior no blogue
O olhar de uma correspondente britânica sobre o catolicismo português - "Catolicismo em Portugal", de Susan Lowndes