terça-feira, 17 de maio de 2016

O olhar de uma correspondente britânica sobre o catolicismo português

Livro

Susan Lowndes

Catolicismo em Portugal: crónicas de Susan Lowndes, correspondente britânica (1948-1992) é o título do livro que, na próxima quinta-feira, 19, será apresentado na Universidade Católica Portuguesa (UCP), em Lisboa. A obra será apresentada, a partir das 18h, na Sala de Exposições (piso 2 do edifício da Biblioteca) por Leonor Beleza e Luís Bigotte Chorão.
O livro, editado pelo Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR), da UCP, recolhe textos de Susan Lowndes que, durante largos anos, desempenhou as funções de correspondente em Portugal de vários meios de comunicação britânicos e norte-americanos. Foi organizado por Ana Vicentefilha de Susan, que morreu há um ano e que é, aliás, objecto de uma exposição bibliográfica com o título Ana Lowndes Vicente (1943-2015) –  “...venho de uma linhagem de mulheres afirmativas”, que está patente desde ontem na Biblioteca Universitária João Paulo II, e ali ficará até final de Junho.
Na apresentação da obra, Paulo Fontes, do CEHR, destaca que o acervo jornalístico reunido no livro mostra a atenção de Susan Lowndes a “muitas das figuras marcantes do catolicismo social português” do século XX, bem como a membros do episcopado de então. Mas as crónicas revelam, sobretudo, uma “diversificada variedade de aspectos da vida da Igreja e do catolicismo português ao longo do tempo”, como sejam Fátima, a prática religiosa dos portugueses, o movimento associativo católico e iniciativas de animação pastoral e dinamismos de renovação eclesial.

Inclui-se ainda, sobretudo nestes últimos aspectos, as tensões entre o regime do Estado Novo e a Igreja Católica – nomeadamente o Papa Paulo VI e o Vaticano – a propósito de episódios diversos. Entre eles, a carta do então bispo do Porto e Salazar, o papel dos capelães militares, a prisão política de destacados leigos católicos, ou o favorecimento de iniciativas missionárias nos então territórios coloniais portugueses que acabavam por sustentar a “afirmação das autonomias políticas”.
Do mesmo modo, os textos de Susan Lowndes reflectem o “ambiente de contestação social e as crises políticas vividas no período posterior à revolução de 25 de Abril de 1974”, em questões como a legislação sobre o divórcio, o “caso Rádio Renascença”, a liberdade de ensino, o aborto, a transformação social e política da sociedade, os problemas das mulheres, a normalização democrática e as visitas papais a Portugal.

Trata-se de um conjunto de textos, acrescenta Paulo Fontes, que se constitui como “um lugar privilegiado de observação da realidade portuguesa da época” e que mostra sinais contraditórios de um país e de uma Igreja, não deixando de assinalar “sinais de vitalidade do catolicismo ao longo dos anos”, um catolicismo em acelerado processo de recomposição.

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