Texto
de José Leitão
Na
próxima quarta-feira, dia 18, realiza-se pelas 18h30 a quarta e última das Conferências
de Maio 2016, promovidas pelo CRC (Centro de Reflexão Cristã), sobre o tema Chamados à Coragem. Dialogar Olhos nos Olhos.
Esta terá a participação de Abdool Vakil, presidente da Comunidade Islâmica de
Lisboa, Helena Valentim, do Graal (que teve um papel de relevo no Escutar a
Cidade, promovido por vários movimentos para escutar os não-crentes como preparação
para o Sínodo Diocesano de Lisboa) e Guilherme d’Oliveira Martins, do CRC.
Este
será o culminar de um conjunto de conferências sobre o tema genérico Misericórdia e Diálogos – Chamados à Coragem.
As
Conferências de Maio de 2016 pretendem ser uma oportunidade para ler os sinais
dos tempos que vivemos, marcados por aceleradas mutações sociais, culturais e
políticas, por conflitos violentos e prolongados, por tragédias humanitárias
que não nos podem deixar indiferentes nem resignados.
Para
o fazermos, convidámos personalidades que respeitamos, cristãos, não cristãos,
crentes de outras religiões, ou não-crentes, porque pensamos que a escuta e o
diálogo são uma exigência para vermos com clareza e lucidez os desafios com que
estamos confrontados, porque acreditamos que todos somos necessários para
assegurar refúgio, hospitalidade e justiça a quem a procura.
Acreditamos
na bondade e ternura de Deus, por todos e cada um dos seres humanos, e por isso
temos de reagir a uma cultura de indiferença, de exclusão e de violência, de
contribuir para uma cultura de inclusão de proximidade, de diálogo olhos nos
olhos.
A
indiferença que rodeia a existência e o agravamento, nos últimos anos, de
múltiplas formas de exclusão na nossa sociedade é em si mesma uma violência
contra os mais vulneráveis, um esmagamento dos seus direitos mais elementares,
e é geradora de violência, a que não nos resignamos.
Como
denunciou o Papa Francisco, em Lampedusa, há uma globalização da indiferença: “A
cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, nos torna
insensíveis ao grito dos outros, nos faz viver em bolhas de sabão, que são
belas, mas são nada, são uma ilusão de futilidade, do provisório, que leva à
indiferença para com os outros, leva até mesmo à globalização da indiferença.
Neste mundo da globalização caímos na globalização da indiferença. Nós nos
habituamos ao sofrimento do outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não
é tarefa nossa.”
A
nossa forma de dizer não à desumanidade, de recusarmos habituarmo-nos ao sofrimento
dos outros, à discriminação de prevenir a e combater a violência, passa pela
coragem de dialogar olhos nos olhos, por recusar o preconceito, por procurar
trabalhar com todos e todas para que norma comum da ação colettiva seja agirmos
uns para com os outros em espírito de fraternidade.
Perante
tanto sofrimento evitável ou ultrapassável, perante tanto desespero, e ausência
de esperança no futuro, somos chamados à coragem de dizer não ao intolerável,
de contribuir com todos e todas para a construção concreta da esperança, de
perceber as múltiplas dimensões da misericórdia.
Todos
temos esse dever, como seres humanos, uns para com os outros, mas os que somos
cristãos, não podemos esquecer o que este ano o Papa Francisco nos recorda: “Jesus
Cristo é o rosto da misericórdia do Pai…a misericórdia tornou-se viva, visível
e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré”.
(Os
vídeos das conferências anteriores estão já disponíveis aqui, num canal youtube;
alguns destaques das últimas duas conferências:
Rui Marques – O drama é que na Síria está a acontecer uma guerra
mundial;
Susana Ramos – Temos de estar à altura destes desafios.
PedroVaz Patto – Temos de dar de comer a quem tem fome e ir à raiz dos problemas.
Maria Julieta Mendes Dias – A recompensa daqueles que servem sem esperar recompensa
Joana Lopes Martins - Repensar a forma como nos organizamos
A
primeira conferência tinha já sido referida aqui.)
José
Leitão é presidente do CRC – Centro de Reflexão Cristã
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