Crónicas
Na sua crónica de hoje no Público, frei Bento Domingues refere-se às declarações do prefeito da
Congregação da Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Ludwig Müller, sobre a
necessidade de dar “estruturação teológica” ao pontificado de Francisco. Sob o
título Um prefeito nem sempre é perfeito,
escreve:
Estamos numa situação delicada.
Como vimos, Jesus não tinha nada de teólogo profissional, a sua profissão era
outra. S. Francisco, ainda menos. João XXIII, convocando o Concílio e
neutralizando a vigilância do cardeal Octaviano, do Santo Ofício, deixou o
debate teológico à solta, decisão que nunca mais lhe será perdoada pelos
vigilantes da ortodoxia. (...)
Chegou o Papa Francisco e soltou,
de novo, a palavra na Igreja e manifestou, numa carta à Faculdade de Teologia
de Buenos Aires, a vontade de que os teólogos profissionais cheirassem a povo,
não ficassem isolados numa redoma. Há atrevimentos que se pagam caro.
A ambição do poder de dominar –
também há poder de servir – é presunçosa e ridícula. Quem se julga o centro da
Igreja, perde-se do Espírito de Cristo e pensa que só ele tem a chave da
salvação.
(O texto pode ser lido aqui na íntegra)
No DN de sábado, Anselmo
Borges também se refere às mesmas declarações e acrescenta outros Problemas
de e com Francisco:
Há pouco, Francisco pediu numa
paróquia: "Rezai por mim, que estou já um pouco velho e doente, embora não
demasiado." Neste cenário, o cardeal Walter Kasper mostra-se inquieto e
pergunta: "Será o pontificado de Francisco apenas um breve interlúdio na
história da Igreja?" Felizmente, o papa emérito continua indefectível com
Francisco, disse o irmão, Georg Ratzinger. E o cardeal Maradiaga, que preside
ao grupo dos nove cardeais assessores, afirmou: "Quem diz que estamos num
barco à deriva sabe pouco de navegação e de Francisco."
(O texto pode ser lido aqui na íntegra)
No CM de sexta-feira,
Fernando Calado Rodrigues escreve, a propósito do ano da misericórdia proclamado
pelo Papa Francisco, sobre Os Papas e a cadeia:
O Ano da Misericórdia – que se
iniciará a 8 de Dezembro e se concluirá no dia 20 de Novembro de 2016 – irá
promover várias iniciativas que traduzam a “proximidade e atenção aos pobres,
aos que sofrem, aos marginalizados e a todos aqueles que precisam de um sinal
de ternura”. Estas foram as palavras do arcebispo Rino Fisichella na
apresentação do calendário do Ano Santo, o qual prevê o “Jubileu dos Presos” a
6 de novembro de 2016.
O Papa Francisco quer que, se for
possível, alguns reclusos venham à Praça de São Pedro. Não fará sentido
celebrar a Misericórdia e esquecer um dos ambientes em que ela pode ser mais
benéfica.
(O texto pode ser lido aqui na íntegra)
O comentário de Vítor Gonçalves aos textos bíblicos da liturgia
católica deste domingo tem o título “Foi isso mesmo o que Ele disse…”. Aqui
fica o texto:
Conta uma antiga tradição que,
estando já velhinho o apóstolo São João (a tradição diz que foi o único que não
morreu mártir) lhe vieram perguntar, mais uma vez, sobre o que dizia Jesus. Ao
que teria respondido: “Meus filhinhos, Jesus dizia: “Amai-vos! Amai-vos uns aos
outros!” E insistia, repetindo as palavras. Piedosamente alguém teria comentado
baixinho: “Coitado. Já está senil e repete sempre a mesma coisa!” Mas os
ouvidos do apóstolo ainda não estavam assim tão moucos e ele respondeu energicamente:
“Mas foi isso mesmo o que Ele disse!”
Serve a história para dizer que o
essencial do cristianismo é profundamente simples, e talvez por isso, porque
preferimos complicar em vez de viver a sério o que vale a pena, desculpamo-nos
com o “bric-a-brac” de coisinhas religiosas ou o jeitinho para condenar os
outros em nome de Deus. Como o caso daquele bispo que visitava uma paróquia
perguntou a uma criança que ia fazer a primeira comunhão em que é que se
distinguiam os cristãos. Perante a hesitação da criança apontou para a cruz de
ouro e pedras preciosas que trazia ao peito e quase sussurrou: “Pela cruz,…pelo
sinal da cruz!” Mas teve de engolir as palavras pois a criança, de olhos
brilhantes, e num repente, disse: “Já sei: é pelo amor!” Claro que a cruz é
sinal de um amor até ao fim, mas também foi sinal de muita opressão e
violência, de muito pouco amor!
Quando S. João define Deus como
amor (só possível pela revelação de Jesus), produz-se uma verdadeira revolução
nas ideias comuns sobre Deus. Ele já não é ameaçador e os seres humanos podem
deixar de ter medo. Não é violento e está ao nosso lado para salvar e libertar.
Não quer sacrifícios nem oferendas mas quer-nos a nós como filhos e irmãos.
Quer que permaneçamos no seu amor, este amor oferecido a partir da pobreza e do
despojamento de Jesus. Tão diferente de um amor oferecido a partir do poder, como
aquele que o imperador Frederico da Prússia, ao passar revista às suas tropas e
descobrindo um soldado que tremia de medo dele lhe impõe: “Ordeno-te que não
tenhas medo e que me ames!” É o amor que dá sentido pleno à vida, que faz
existir o outro e o eleva, que não procura retorno e quer sempre a felicidade
do amado. É esta a seiva da nossa existência. Se não é por amor, que sentido
têm o trabalho, os compromissos, os laços, a criatividade, a alegria e a festa,
a justiça e a verdade, a arte, a beleza, a cultura, o rir e o chorar com os
outros, o sofrimento absurdo e misterioso, o sonho e a esperança?
Este é o essencial que parecemos
esquecer, quando ser religioso se torna um assunto mais doutrinal do que uma
experiência de amor, e os ritos e preceitos se tornam obrigações pesadas,
desvinculados de valores, e prolongam um cristianismo triste, cinzento, azedo e
pesado. Permanecer no amor de Jesus é viver com Ele e como Ele, em fraternidade
cada vez maior, numa “alegria completa”. Porque é o essencial, o amor não é
fácil; é o mais difícil, mas sem ele produz-se um vazio que nada consegue
encher. Levar à humanidade o amor sem limites de Deus, e que ele nos ensina a
viver é o essencial do cristianismo. Bem dizia o meu querido Sebastião da Gama:
“Tens muito que fazer? Não, tenho muito que amar!”
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