Cartoons sobre Maomé
O que mais me tem impressionado, no debate suscitado pela publicação das caricaturas de Maomé, é a afirmação de que a consideração da sensibilidade do outro, no exercício da liberdade de expressão, constitui uma fraqueza e uma ameaça a essa liberdade.
Sâo condenáveis as violências várias que a este propósito, os sectores radicais islâmicos desencadearam em diversas partes do mundo árabe, como são condenáveis os aproveitamentos do caso das caricaturas para outras "guerras". Mas, ao mesmo tempo, também não pode ser aceitável uma concepção da liberdade erigida em princípio supremo, sem cuidar dos efeitos do seu exercício, sem cuidar da existência de outras formas de ver o mundo e a vida. A existência individual e colectiva decorre de uma procura de equilíbrio entre vários valores fundadores dessa mesma existência, e não da sobreposição de um deles sobre todos os outros.
Custou ver, no debate de há dias do programa Prós e Contras, o especialista de relações internacionais Vasco Rato dizer com toda a clareza que, se para exercer a liberdade de expresão, tivesse de se preocupar com o que outros pensam ou sentem, a consequência seria ficar mudo e quedo, isto é, seria a anulação da liberdade.
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