Na sua crónica deste sábado, no DN, Anselmo Borges pergunta: E se Deus fosse mãe?
Não há dúvida de que Jesus
contribuiu decisivamente para a emancipação feminina. Também São Paulo
reconheceu a radical dignidade de homens e mulheres e refere nomes de apóstolas
- na Carta aos Romanos, por exemplo, escreve: “Saudai Andrónico e Júnia que tão
notáveis são entre os apóstolos.” No entanto, a Igreja Católica é hoje a última
grande instituição machista no Ocidente. Sem uma rápida conversão, ela, que,
sucessivamente, desde o século XVIII, foi perdendo os intelectuais, os
operários e os cientistas, os jovens, acabará por perder as mulheres.
(texto aqui na íntegra)
Ontem, no CM, sob o título Os
sem-abrigo no museu, Fernando Calado
Rodrigues comentava a distribuição de exemplares dos Quatro Evangelhos aos
peregrinos na Praça de São Pedro, com a ajuda de pessoas sem-abrigo, bem como a
visita gratuita aos Museus do Vaticano oferecida pelo Papa a 150 pessoas
sem-abrigo:
“Os mais necessitados são os que
nos dão a Palavra de Deus”, disse o Papa. (...) Desta forma “os mais
carenciados, que geralmente apenas têm acesso à escadaria exterior à colunata
da Praça de São Pedro” tiveram a oportunidade de “apreciar o património
artístico do Vaticano”, de acordo com uma nota divulgada pela Santa Sé.
(texto aqui na íntegra)
Na Voz da Verdade, no
comentário aos textos bíblicos da liturgia católica deste Domingo de Ramos,
Vítor Gonçalves toma a frase do Evangelho de São Marcos, “Verdadeiramente, este
homem era o Filho de Deus” (Mc 15, 39) para escrever sob o título A maior
intensidade:
Entramos na Semana Santa com a
promessa de muito calor! E tudo se conjuga para umas pequenas férias vividas
com intensidade, no calor primaveril, depois da chuva, neve e vento que
pareciam prolongar o inverno. Estes são também os dias de maior intensidade da
liturgia cristã ao celebrar a Páscoa de Jesus na nossa vida. Na força dos
gestos e das palavras que se escutam, reviver os passos de Cristo, do
sofrimento à explosão da vida ressuscitada, não é uma simples memória, nem a
reprodução gasta de ritos ancestrais. É confrontar-nos de novo com o que é
importante e decisivo em ser cristão. A Páscoa, mais do que uma data, é um
dinamismo de vida nova, um princípio de mudança e de transformação do que está
mal e pode ser bem e melhor. Se não nos comprometer com maior intensidade no
crescimento das pessoas e do mundo, como Deus nos mostra em Jesus crucificado e
ressuscitado, talvez o melhor seja mesmo aproveitar uns dias de sol e
praia!
(ilustração reproduzida daqui)
Foi já há quinze dias que li uma
entrevista do filósofo e pensador José Gil ao jornal “i”. E daí retirei esta
expressão “intensidade” para esta partilha de hoje, que ele coloca na definição
de felicidade: “Entendo a felicidade como um terreno que permite todos os
prazeres vividos com a maior intensidade. Nesse aspecto, ser feliz não é um
estado de espírito, mas uma disposição geral que faz com que cada prazer e cada
dor, sejam subordinados ao prazer de existir. […] (A felicidade) deveria ser a
reivindicação de uma vida feliz em comunidade, a predisposição de uma
comunidade para viver intensamente, para existir intensamente. A felicidade não
é egoísta.” Mas a “intensidade” revela-se também quando diz: “já não
distinguimos bem o que é importante do que é acessório”, ou “o mundo tenta
domesticar quem pensa o que não é o pensamento único”, e também, “o amor ainda
salva. Quando deixar de salvar, não é amor”.
Os vários personagens que
encontramos no relato da paixão segundo São Marcos são uma espécie de espelho
para nós: Judas que trai o seu mestre com um beijo, os fariseus que não se
importam em condenar um inocente, Pilatos e Herodes que “lavam as mãos” para
contentarem as multidões, Pedro que nega conhecê-l’O depois de três anos de
caminhos comuns, os soldados que se entregam a uma violência excessiva, as
multidões que O acusam e insultam. São só eles? Com que intensidade vivemos as
paixões que continuam a tocar pessoas tão próximas de nós? Continuamos a
assistir a uma “correcta” distância, como os apóstolos e tantos discípulos? Se
a Páscoa de Jesus é fonte de felicidade para todos, é porque Ele nos mostra que
é possível viver com a máxima intensidade. Chamou-lhe “vida em abundância”,
“rios de água viva”, “há mais alegria em dar do que em receber”, “amai-vos como
Eu vos amei”, “fazei isto em memória de mim”, “vai e não tornes a pecar”, e
tantas outras! E se já sabemos a as palavras, talvez só falte pôr mais
intensidade no que somos e fazemos!
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