sábado, 14 de março de 2015

In Memoriam. Madalena Cabral (Porto, 1922-2015) – a arte da paramentaria

Texto de João Alves da Cunha*


Madalena Cabral, Autoretrato

Madalena Cabral nasceu no Porto em 1922, mas foi na Escola António Arroio em Lisboa que realizou o curso de Artes Decorativas. Começou por dedicar-se à pintura, com maior destaque para a aguarela, que a levou a realizar algumas exposições no Porto e em Lisboa. Em 1948 recebeu o Prémio Henrique Pousão e, quatro anos depois, o Prémio José Tagarro. A sua aguarela Leitura foi adquirida para o acervo do então Museu de Arte Contemporânea de Lisboa. Ensaiou também alguns cartões para tapeçarias para a Manufactura de Portalegre. Em 1952 começou a trabalhar no Museu Nacional de Arte Antiga, onde lançou no ano seguinte as bases do pioneiro Serviço de Educação, orientado para a formação artística e cultural das crianças.
Em 1964, a sua experiência no trabalho com crianças associada à sua participação ativa na vida católica – Madalena Cabral pertenceu à União Noelista Portuguesa, cuja revista Étoile Noeliste foi presença constante em sua casa durante a infância – levou-a a desenvolver uma iniciativa com numerosas crianças que resultou numa exposição, em Lisboa, de desenhos infantis que se destinaram a ilustrar um Evangelho oferecido ao Papa Paulo VI.
Entretanto, os seus conhecimentos sobre têxteis levaram-na a envolver-se na fundação do MRAR (Movimento de Renovação da Arte Religiosa) em 1953, por intermédio de Maria José de Mendonça (1905-1984), também noelista e responsável pela organização da 1ª Exposição de Arte Sacra Moderna que se apresentou, em 1945, no Palácio Galveias, em Lisboa.
Enquanto sócia fundadora do MRAR, Madalena Cabral manteve ao longo dos anos uma participação intensa na vida do Movimento, apresentando conferências, escrevendo artigos e organizando exposições, de que se destaca a intitulada Paramentaria Moderna, realizada em 1964 na Sé de Lisboa.


No biénio 1959-60 foi eleita tesoureira da direção, mas o lugar de destaque de Madalena Cabral situou-se em tudo o que se relacionava com paramentaria, matéria que procurou aprofundar sempre mais e a levou a conhecer Soror Augustina Flüeler (1899-1992), monja do mosteiro de St. Klara, em Stans, na Suíça, que foi a figura de referência na renovação da paramentaria no século XX, com quem permaneceu dez dias no convento, bem como a realizar um estágio numa escola em Estocolmo.
Madalena Cabral tornou-se, assim, na maior especialista sobre o tema em Portugal, confirmada tanto na teoria como numa prática realizada ao longo de década e meia – com a colaboração de Rafaela Zúquete, Luccia Vila Franca, Sereyra Amzalak, Adele Prosérpio e Babette Avilez –, que deu origem a uma vasta obra composta por peças para igrejas como Santo António em Moscavide (Loures) e Santa Isabel, em Lisboa.


Madalena Cabral. 
Paramento para a Paróquia de Santa Isabel

Em 2002, o Museu Nacional de Arte Antiga promoveu o Encontro Ver, Rever. Museus, Educação, em homenagem a Madalena Cabral e ao seu papel pioneiro a nível dos serviços educativos dos museus, trabalho que foi novamente reconhecido em 2013 pela Associação Portuguesa de Museologia, que lhe atribuiu o prémio de Personalidade do Ano na área da Museologia.
Madalena Cabral faleceu no Porto a 24 de Janeiro último. Tinha 92 anos de idade. As pessoas que tocou com a sua voz grossa e contagiou com a sua vida sempre cheia de energia não são possíveis de contabilizar.


*autor da tese O MRAR e os anos de ouro da arquitetura religiosa em Portugal no século XX

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