domingo, 18 de maio de 2003

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Muito do desemprego nos últimos meses resulta de falências em série de empresas de média e grande dimensão, muitas delas encerrando aqui para irem abrir em países com mão de obra mais barata. Temos ouvido argumentar, ao nível governamental (cf. “Diário de Notícias” de sexta-feira) que estas falências “dão verdade à situação económica” e conduzem à “transparência do mercado”. Pode ser que assim seja, mas pegar assim em problemas sociais desta gravidade e delicadeza parece-me assemelhar-se àqueles que, normalmente ganhando bem, discutem as estatísticas de desemprego como se de manipulações de laboratório ou operações de contabilidade se tratasse.
Sabemos que a crise não tem as suas origens apenas no último ano e também não ignoramos que a agulha do clima internacional aponta mais para o lado recessivo do que para o expansivo.
Mas, depois de o governo ter dado o mote do “país de tanga” – porventura para conquistar espaço de manobra política – nós não vimos, até ao presente, uma real preocupação social com os efeitos devastadores de políticas económicas que só poderiam conduzir onde conduziram. Mesmo dando de barato que as opções económicas tenham sido as mais adequadas ou, pelo menos, as possíveis, seria necessário que, em simultâneo, se desenvolvesse um esforço multissectorial e articulado de novas respostas que impedissem que milhares de pessoas fossem simplesmente atiradas pela borda do navio fora, por não haver no navio lugar para elas. Porque os 423.595 desempregados são pessoas. E isso talvez precise de ser dito e gritado àqueles que, nos gabinetes, não vêem senão números e estatísticas.
(da crónica de amanhã, no DM)

1 comentário:

Anónimo disse...

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