Narciso Machado, juiz-desembargador jubilado, escreve um texto no Público, no qual sustenta que "na proibição da ordenação de mulheres viola-se o sentido da igualdade cristã entre homens e mulheres".
Nem esta opinião é nova nem a oposição terminante da hierarquia da Igreja o é. Não importa muito se estamos a favor ou contra. Mas importa que o texto em causa não é panfletário, é argumentado e traduz um sentimento que cresce e que, muito provavelmente, se traduzirá numa prática corrente, em futuro mais próximo ou - o mais provável - mais distante.
Por muito que as posições oficiais pretendam fechar o assunto pela via regulamentar, nem por isso ele desaparece da agenda das preocupações de um sem-número de católicos. Parafraseando o velho ditado, e ao contrário de outros tempos, "Roma locuta, causa [non] finita" (O Vaticano falou, a questão [não] terminou).
É é precisamente por isso - por ser matéria disputada e longe de poder ser calada - que se torna preocupante que, nas recentes Novas Normas sobre os Delitos mais Graves, a Congregação para a Doutrina da Fé tenha criado a ideia de que a ordenação sacerdotal de mulheres se equipara, de algum modo, em gravidade, ao abuso sexual de menores e à pedofilia. O abuso e a exploração sexual serão sempre matéria grave, hedionda e criminosa, enquanto que os normativos sobre a ordenação de mulheres são assunto pendente e passível de ser revisto, noutras circunstâncias que não as presentes.
Por essa razão, colocar deste modo o assunto (da ordenação) releva também de uma arrogância perante o futuro que não deixa de ser chocante do ponto de vista da humildade cristã.
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