“Todo o apoio financeiro dado aos bancos e toda a desregulamentação laboral favorável às empresas e aos empresários não revertem a favor da criação de mais postos de trabalho, muito menos da valorização do trabalho digno e justamente remunerado.” A denúncia está no comunicado final do encontro da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos, de Portugal, e da HOAC – Hermandad Obrera de Acción Católica, de Espanha, cujas direcções reuniram de 6 a 9 de Fevereiro, no Seminário de Almada.
No documento, os responsáveis da LOC/MTC e da HOAC afirmam que as suas convicções de trabalhadores cristãos, “fundamentadas nos Evangelhos e na Doutrina Social da Igreja”, dizem que “o reconhecimento prático dos direitos sociais serve de barómetro da qualidade democrática de uma sociedade, porque mede também o grau de aplicação da justiça”. E acrescentam: “É preciso afirmar com convicção no momento actual que a defesa dos direitos sociais é um dever de justiça. Dever vinculado à afirmação de um princípio básico de humanidade, o destino universal dos bens, que João Paulo II concretizou de uma forma que tem hoje um grande valor para orientar a nossa vida e ação: ‘As necessidades dos pobres devem ter preferência sobre os desejos dos ricos: os direitos dos trabalhadores, sobre o aumento dos benefícios’.”
No dia em que largos milhares de pessoas se manifestam em Lisboa contra a precariedade, vale a pena atentar no que dizem as direcções dos movimentos de Acção Católica Operária da Península Ibérica. Sobre as medidas que estão a ser tomadas por toda a Europa, escrevem que elas apenas levam “ao equilíbrio dos défices, através de políticas de cortes em direitos sociais (educação, saúde, habitação e outros apoios sociais).”. Pelo contrário, observam ainda as direcções dos dois movimentos, “não se aplicam outras medidas que podiam levar a um aumento de proveitos financeiros para o Estado, como sejam impostos sobre as grandes fortunas e todas as transações financeiras, combate à fraude fiscal e à economia paralela”. E concluem: “É imperativo que o apoio financeiro aos bancos e às empresas seja fiscalizado de forma a ser garantida a manutenção e criação dos postos de trabalho e a sustentabilidade social e familiar dos trabalhadores.”
No comunicado, a LOC/MTC e a HOAC manifestam ainda “muita preocupação” com “as altas taxas de desemprego existentes em cada país” – quase 14 por cento em Portugal, mais de 22 por cento em Espanha. “Esta multidão de desempregados é empurrada para a pobreza e a exclusão social, onde a sua dignidade não é reconhecida e a realização pessoal e familiar é cada vez mais difícil de acontecer.”
As taxas de desemprego entre os jovens são também preocupantes, lê-se no comunicado, que acrescenta ainda referencias aos imigrantes e à saída de empresas para outros países, bem como às condições de trabalho cada vez mais “precárias e fragilizadas: são as constantes revisões da legislação laboral que retiram direitos alcançados em concertação social e contratação colectiva; são os contratos desregulados, os horários flexíveis, os tempos de trabalho incertos, a redução dos salários e o despedimento individual e colectivo facilitado.”
Perante a falta de confiança, os dois movimentos propõem-se “ajudar a criar uma nova consciência, uma nova mentalidade, uma nova cultura, uma nova maneira de pensar, sentir e actuar, que contrarie o ambiente de desmotivação, de alheamento e de medo vivido pelos trabalhadores e pelos cidadãos empobrecidos”.(Foto de Francisco Duarte Marujo)
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