«Foi a atitude da Igreja oficial que mudou, não nós. Não fomos nós que pedimos um acordo, é o Papa que quer reconhecer-nos».Na entrevista percebem-se dois factos: o processo é tido como pouco provavelmente reversível, dada a fase a que chegou; e o próprio Papa Bento XVI surge na entrevista como empenhado neste processo, criadas que foram as condições - ou pelo menos o clima - para o acordo entre os seguidores de Lefebvre e Roma.
«O que mudou, fez questão de acrescentar Fellay, é que Roma não faz da aceitação total do Concílio Vaticano II uma condição para a solução canónica. Actualmente há em Roma alguns que consideram que uma compreensão diferente do Concilio não é determinante para o futuro de la Igreja, dado que a Igreja é mais do que o Concílio».
Manda a prudência que se atente na posição que Roma vai tomar. Ao que tudo indica, não deverá tardar. O lamentável secretismo que tem caraterizado este processo faz com que os cristãos de base que seguem com atenção o que se passa na Igreja se tenham de limitar aos sinais exteriores - gestos, notícias de encontros, comunicados relativamente anódinos desses encontros. Como se as matérias que estão em jogo não devessem ser debatidas de forma muito mais alargada, independentemente dos passos das conversações que têm ocorrido.
Sem entrar agora na questão do entendimento que esta Sociedade S. Pio X faz da Tradição e, a partir desse entendimento, se posiciona face a questões e decisões fundamentais do Concilio Vaticano II (precisamente no ano em que se comemora o cinquentenário deste acontecimento eclesial), há problemas delicadíssimos e graves que o processo contém, e que se referem ao modo como estão a ser acautelados princípios de equilíbrio e de equidade de diferentes modos de ser e de estar em Igreja.
Mais concretamente: configura-se, nas movimentações em curso, uma cada vez mais nítida assunção da linha conservadora que, em nome de (e inspirada por) uma hermenêutica da continuidade, acaba por fazer a rutura com o lado mais corajoso e criativo do Concílio e promovendo um catolicismo "descafeinizado".
A história mostra que a vida da Igreja nunca coube numa orientação estratégica determinada e que o Espírito não é domesticável por ninguém, por mais alto que se situe na estrutura hierárquica. Uma coisa é certa: não é tranquilizador o espírito que se deteta na entrevista do bispo Bernard Fellay.
(O texto da entrevista encontra-se traduzido em várias línguas. Ver ao fundo da versão em inglês).
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