(Este blogue estará com um ritmo intermitente até Setembro)
O Circo Krone, em Munique, onde decorre o congresso Juntos Pela Europa,
quinta-feira de manhã, antes da intervenção do cardeal Kasper
As luzes do Circo Krone, em
Munique (Alemanha) acendem-se e piscam, a arena está montada, a orquestra dá o
tom, mas as acrobacias que se aplaudem são outras: depois da “tragédia” da II
Guerra Mundial e de os antigos inimigos se terem transformado em amigos, é
preciso continuar a mostrar que os 70 anos de paz na Europa não foram “sonho, mas
realidade” e que “a economia é a base da vida mas não é o sentido da vida”.
Foi o cardeal católico alemão Walter
Kasper que, na abertura do congresso Juntos Pela Europa, que congrega dois mil
participantes de uns 40 países, alertou: “A Europa precisa de mais do que de
economia.” Kasper tem sido uma das vozes que, na Igreja Católica, mais tem
apoiado o Papa Francisco no seu desejo de reforma – por exemplo, na questão da
integração dos divorciados na Igreja Católica.
Uma Europa que integrou celtas,
normandos e outros povos deve ser capaz, hoje, de integrar os muçulmanos,
sublinhou Kasper, na sua curta intervenção na abertura do congresso. “Os problemas
do mundo vêm ter connosco; e não são estatísticas, são pessoas com rosto”,
acrescentou.
“Enquanto cristãos, católicos ou
evangélicos, temos de mostrar que somos capazes de mostrar que o amor é mais
forte do que o ódio, para que seja possível vivermos em conjunto na Europa, sem
medo”, disse ainda o cardeal.
No início do congresso, que se prolonga
até amanhã, sábado, foram várias as vozes a insistir na urgência de uma nova
alma na construção europeia. “Depois do ‘brexit”, da semana passada, não podia
haver um melhor momento para dar um testemunho de unidade”, disse Gerhard Proß,
um dos responsáveis da iniciativa.
“Depois do ‘brexit’, o que devemos fazer
a partir do Evangelho?” – perguntava o bispo luterano alemão, Heinrich
Bedford-Strohm, que já presidiu ao Conselho Nacional das Igrejas Evangélicas
(protestantes) da Alemanha.
“A Europa tem necessidade de uma nova
força espiritual, porque não é só a economia que dá força” ao continente,
acrescentou. “Devemos ser capazes de continuar a colocar no centro a dignidade
da pessoa humana e é por isso que devemos continuar a falar de refugiados”,
acrescentou.
A presidente do Movimento dos Focolares,
Maria Voce, acrescentava, na conferencia de imprensa de apresentação da
iniciativa, ontem de manhã: “A tendência para o aumento dos nacionalismos e do
racismo são fruto de uma Europa que esqueceu os seus valores”. Por isso,
acrescentou, é importante os cristãos darem testemunho desses valores.
O Juntos pela Europa é uma rede nascida
em 1999, que junta cerca de 300 movimentos e comunidades cristãs de todo o
continente, pertencestes às Igrejas Católica, Ortodoxa e Anglicana e também às
diferentes Igrejas protestantes.
Neste congresso de Munique, participam
duas centenas de movimentos e grupos. A rede Juntos Pela Europa organizou já iniciativas
em várias cidades europeias, incluindo Bruxelas, onde decorreu, em 2012, um
diálogo com políticos europeus.
Para os políticos e as igrejas cristãs
foi outro dos recados do cardeal Kasper: “A unidade da Igreja é mais importante
ainda, num momento em que a unidade da Europa está em perigo”, disse, ao
referir-se também ao referendo da semana passada, no Reino Unido.
“Não é possível que os nacionalismos
construam novos muros; quem destrói as pontes destrói a paz”, referiu ainda o
cardeal alemão, que citou depois o Papa Francisco: “A Europa é uma construção
em progresso.” Também na Europa, muitos eram cépticos e diziam que nada se
faria, disse o cardeal.
O congresso de Munique faz também referência
ao início da Reforma de Lutero, em 1517 (completam-se no próximo ano cinco
séculos). “Quinhentos anos de separação já são demais”, dizem vários documentos
da iniciativa e repetem muitos dos seus intervenientes. Mesmo se, com os
ortodoxos, a divisão tem quase mil anos, já que o Cisma do Oriente, a primeira
grande divisão da cristandade, se deu em 1054.
No século XVI, a divisão da Igreja deu
visibilidade a um deficiente testemunho do evangelho, disse ainda Gerhard
Proß.
Por isso, hoje, se torna urgente os cristãos serem capazes de dar sinal de
unidade, na diversidade.
O congresso termina amanhã, sábado, com uma
manifestação pública, que inclui música e intervenções de responsáveis de
igrejas, no centro de Munique.
(Texto publicado no Diário de Notícias online)
1 comentário:
Muito obrigada por este comentário. Muito oportuno para o momento em que estamos a viver. Enche-nos de esperança perceber que estas iniciativas tão relevantes encontram apoio e divulgação. Vamos em frente juntos, com coragem. O futuro está nas nossas mãos!
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