Os
casamentos reais são vistos, frequentemente, como pouco mais do que
acontecimentos das elites, eventos mediáticos, mundanos na sua natureza. O
príncipe Harry e Meghan Markle entenderam que não tinha de ser assim e, entre
outras inovações, convidaram um pastor negro dos Estados Unidos para vir fazer
o ‘sermão’ na cerimónia religiosa. Um sinal de que o pregador tinha algo de especial para dizer é que alguns dos grandes media mundiais transcrevem nas
suas páginas o discurso na íntegra.
O Rev.
Michael Bruce Curry – foi ele o pregador – dirige a Igreja Episcopaliana dos
Estados Unidos, é descendente de escravos e filho de um outro pastor que esteve
bastante envolvido no movimento pelos direitos dos negros. E tem posições bem
definidas, mesmo relativamente à actualidade: está anunciada a sua
participação, na próxima semana, numa manifestação frente à Casa Branca, para
denunciar o slogan de campanha de Trump, “America primeiro”, como uma heresia.
No
sermão, Curry inspirou-se na leitura de uma parte do capítulo 8 do Cântico dos
Cânticos:
Grava-me
como selo em teu coração,
como selo no teu braço,
porque forte como a morte é o amor,
implacável como o abismo é a paixão;
os seus ardores são chamas de fogo,
são labaredas divinas.Nem as águas caudalosas conseguirão
apagar o fogo do amor,
nem as torrentes o podem submergir.
como selo no teu braço,
porque forte como a morte é o amor,
implacável como o abismo é a paixão;
os seus ardores são chamas de fogo,
são labaredas divinas.Nem as águas caudalosas conseguirão
apagar o fogo do amor,
nem as torrentes o podem submergir.
O tema
glosado foi o do poder redentor do amor. O amor que tem poder para ajudar e curar, que tem poder
para mudar o mundo. O amor que, ao realizar-se, exprime a presença do próprio
Deus.
Inspirando-se
em Teilhard de Chardin, quando considerou a invenção do fogo a maior ou uma das
maiores invenções feitas pelas sociedades humanas,
Curry convocou a proposta daquele paleontólogo e teólogo jesuíta: “Se a
humanidade aproveitar a energia do fogo novamente, se a humanidade agarrar
a energia do amor - será a segunda vez na história que descobriremos o fogo”. Foi,
pois este apelo à reinvenção do fogo do amor que lançou na homilia; aquele fogo
que ajudava os escravos da América a acreditar num mundo melhor, cantando, mesmo
no meio das maiores adversidades. O maior de todos os gestos foi o de Jesus
que, por amor, deu a vida pela humanidade, desencadeando um movimento
revolucionário de transformação pelo amor.
Ver e ouvir o sermão aqui
Ler o
texto na íntegra (em inglês) aqui.
[Editado para introduzir a citação relativa a Theilhard de Chardin]
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