quinta-feira, 14 de junho de 2018

“O crucifixo numa mão e a enxada na outra”


Foi bispo do Porto num “momento de transição” em Portugal e na Igreja Católica: António Barroso, nascido em Barcelos em 1854, foi bispo do Porto entre 1899 e 1918; antes disso, tinha sido missionário em Angola, Moçambique e Meliapor (Índia). Em 1889, dez anos antes da sua nomeação para bispo do Porto, fez uma conferência na Sociedade de Geografia de Lisboa, partindo da sua experiência na missão de São Salvador do Congo, na qual criticou diversos comportamentos de colonos portugueses em África e defendeu a presença de mulheres (religiosas) nas missões católicas.
A conferência, onde também advogou que o missionário deveria ter o crucifixo numa mão e a enxada na outra, valeu-lhe acusações várias de diversos sectores, quer católicos, quer políticos.
Perseguido depois pela I República, por causa da sua oposição às normas da Lei de Separação, Barroso foi bispo num tempo de passagem de um mundo rural para a primeira industrialização, como recorda Paulo Fontes, director do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR), da Universidade Católica. A nação perdera o Brasil e tentava redefinir-se com o seu império africano, o país procurava olhar para o futuro, apareciam novos sectores urbanos e novos protagonismos e sociabilidades.
No próximo dia 31 de Agosto, completa-se um século sobre a data da morte de António Barroso, aos 63 anos. Na iminência da sua beatificação, cujo processo já foi iniciado, a Universidade Católica Portuguesa levou a efeito um colóquio científico sobre a sua personalidade. Aqui pode ouvir-se uma entrevista (12 minutos) de Manuel Vilas Boas ao director do CEHR, a propósito desse colóquio, sobre a personalidade de António Barroso.

(foto acima reproduzida daqui)

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