Não restam para mim dúvidas de que, em casos desta natureza, há quem se delicie em ver a Igreja a sangrar. E tomara a esses que não recuperasse dos golpes. A realidade talvez não lhes faça a vontade, porque o bom senso aconselha a distinguir o que não pode ser confundido. Também neste caso, não se pode tomar a nuvem por Juno.
Mas que a Igreja se põe a jeito, lá isso põe. Desde logo por pretender que estes são casos individuais, de "pecadores" que traíram a sua fé e esqueceram a doutrina. O número de casos e a extensão do fenómeno aí estão para mostrar que não é assim.
Mal iríamos se a resposta se limitasse a uma espécie de agravamento do regime disciplinar. Tenho para mim que se torna fundamental reflectir, ao menos sobre estes quatro pontos:
- - Os direitos e a dignidade das vítimas, nomeadamente quando crianças pequenas e, maxime, quando portadoras de deficiência;
- - a política do segredo e do encobrimento, confundida com serviço à Igreja, e que mais não é,neste tipo de casos, do que protecção da ilegalidade e do crime;
- - o lugar e a dignidade da sexualidade e o papel do seu exercício saudável e responsável numa vida equilibrada, por parte de todos os cristãos, sejam clérigos ou não;
- - a promoção e participação num debate mais largo, envolvendo diferentes instituições sociais que se confrontam com o problema dos abusos sexuais.
Não é coisa pouca o que está em jogo. É "apenas" a credibilidade.
Em linguagem evangélica: se o sal perder a força, é melhor ser deitado fora e ser pisado pelos homens (Mt 5.13b).
1 comentário:
Olá
Venho agradecer os vossos 2 textos sobre este assunto.
O do Manuel Pinto aqui no Blogue.
O do António Marujo no Público: A maior crise da Igreja Católica dos últimos 100 anos
Um abraço a ambos pela coragem e pela lucidez das intervenções.
A minha confiança está em Deus revelado em Jesus Cristo e, através de Gente como vós, a confirmo.
Muito Obrigada.
Votos de Santa Páscoa!
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