(Ilustração de José Miguel Ribeiro em O Meu Primeiro Jesus)
Este é um livro de histórias de personagens misteriosas e aventuras várias: o jovem que foge nu, um leproso a quem não resta senão o desespero de um grito, uma mulher que parte um frasco de bálsamo valiosíssimo, um homem que empresta uma sala para uma última ceia…
Peter Stilwell, director da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, aventurou-se desta vez por territórios onde a teologia se expressa de um outro modo. Ou talvez não. Em A Condição Humana em Ruy Cinatti, a sua tese de doutoramento, Peter Stilwell já fizera da teologia uma narrativa. Agora, em O Meu Primeiro Jesus (ed. Dom Quixote), o autor vai buscar personagens misteriosas ou não identificadas dos evangelhos para contar a história de Jesus.
Ao contrário do que seria de supor num livro para os mais novos – em que a história de Jesus começa invariavelmente pelo Natal –, aqui, a história nasce a partir da memória da morte e ressurreição de Jesus. E o nascimento só ganha sentido com esse acontecimento central que é a Páscoa.
Há um misterioso personagem que assume o papel de narrador e que é identificado com o jovem rico que um dia pergunta a Jesus o que é preciso fazer para ter a vida eterna. É ele que escreve a João Marcos as suas memórias de algumas histórias de Jesus que ele presenciara. A forma como a história é construída, estabelecendo uma relação entre estes episódios, é muito bem conseguida.
O mais surpreendente, neste livro, é mesmo o modo como estas histórias remetem para aquilo que foi a expressão do cristianismo: uma história contada e recontada, de pessoa a pessoa, fazendo de Jesus uma pessoa viva. Não só para quem com ele convivera, como também para quem depois iria acreditar na sua ressurreição. “Entendi então a felicidade de Maria, e acreditei que qualquer coisa de extraordinário tinha acontecido”, diz o narrador, sobre o momento em que correra para o túmulo.
Ao lerem-se estas histórias, vem à memória o poema Agradecimento, que Ruy Cinatti dedicou a Peter Stilwell:
Foste o meu pequenino Peter a quem roubei o “Alifas”, o elefante de trapo. (…)
“Eu quero o meu Alifas, I want my Alifas, give it to me”
Eu já sabia: Tu querias Jesus Cristo e encontraste-o… (…)
E tu recompensaste-me depois mil anos múltiplos…
Ó Padre Peter Stilwell, tu emprestaste-me a tua tese de licenciatura sobre o verdadeiro Deus [visto por Bultmann (…)
esse grande teólogo da Igreja Triunfante, católico protestante e das galáxias!...
Obrigado Peter, beijo-te a face, sou eu que te persigo…
e em ti, um Alifas juvenil, Jesus Cristo de cognome.
É este “Alifas” que Peter Stilwell nos mostra neste seu livro. Com a contribuição das delicadas ilustrações de José Miguel Ribeiro. Um livro que é muito mais que uma obra para crianças e adolescentes.
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