(Com a devida vénia ao humor de Luís Afonso, no Público de hoje)
Concluiu-se em Bruxelas outra
cimeira “decisiva” da UE que, mais uma vez, não enfrenta o problema da União –
a demissão da política em relação à finança – e não afronta o sistema
financeiro, que continua a ditar regras e a pôr e dispor da vida de povos
inteiros. Tudo isto é pena, tudo isto é triste. E não é fado.
A cimeira nem sequer foi
capaz, ainda desta vez, de criar um mecanismo simples, como um imposto sobre as
operações financeiras, que na véspera tinha sido de novo retomado pela CIDSE,
rede internacional de agências católicas de desenvolvimento, e pelo presidente
do Conselho Pontifício Justiça e Paz (CPJP), da Santa Sé.
O pedido, noticiado pela agência
Ecclesia, foi justificado pelo cardeal Peter Turkson, do CPJP, como “uma
maneira de trazer a economia e finanças de volta à sua vocação primeira,
incluindo a sua função social”.
No final da reunião
anual do conselho de administração da CIDSE, o cardeal do Gana disse ainda que
tal imposto deveria ser aplicado “com taxas justas, aferidas em proporção com a
complexidade das operações, especialmente no caso das desenvolvidas no mercado
secundário”.
A posição, diz ainda a
Ecclesia, é partilhada pelas 16 organizações católicas de desenvolvimento da
CIDSE na Europa e na América do Norte, nas quais se inclui a Fundação Fé e
Cooperação (FEC), de Portugal.
Segundo o cardeal Turkson, o imposto
sobre transacções financeiras (ITF) “seria muito útil na promoção do
desenvolvimento global e sustentabilidade, de acordo com os princípios de
justiça social e solidariedade”. E acrescentou: “Também poderia contribuir para
a criação de um fundo de reserva mundial para apoiar as economias dos países
atingidos pela crise, bem como a recuperação de seus sistemas monetários e
financeiros.”
John Arnold, bispo auxiliar de
Westminster (Inglaterra), e outros nove bispos europeus presentes na reunião da
CIDSE, pediram aos governos cépticos, como o do Reino Unido, que apoiem a ideia
de um ITF. Chris Bain, presidente da CIDSE, referiu que “a adopção de um ITF a
nível da União Europeia é a coisa certa a fazer”. “O ITF tem o potencial de
reunir fundos para financiar projectos de desenvolvimento e adaptação/mitigação
das alterações climáticas, pondo em prática medidas para mais justiça e
equidade.”
“Os cépticos devem perceber que um
imposto sobre transações financeiras pode iniciar um longo caminho para
estabilizar os sistemas financeiros, ao mesmo tempo que combatem a pobreza
nalguns dos países mais vulneráveis do mundo”, declara Chris Bain.
Várias agências de
desenvolvimento católicas e protestantes uniram-se já para pedir que o ITF
abranja um “quadro alargado de transações” e não se limite às acções cotadas em
Bolsa, para poder servir como um instrumento de “estabilidade, justiça e desenvolvimento
sustentável”.
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