terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Mais uma cimeira “decisiva” que não enfrenta O problema




(Com a devida vénia ao humor de Luís Afonso, no Público de hoje)

Concluiu-se em Bruxelas outra cimeira “decisiva” da UE que, mais uma vez, não enfrenta o problema da União – a demissão da política em relação à finança – e não afronta o sistema financeiro, que continua a ditar regras e a pôr e dispor da vida de povos inteiros. Tudo isto é pena, tudo isto é triste. E não é fado.
A cimeira nem sequer foi capaz, ainda desta vez, de criar um mecanismo simples, como um imposto sobre as operações financeiras, que na véspera tinha sido de novo retomado pela CIDSE, rede internacional de agências católicas de desenvolvimento, e pelo presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz (CPJP), da Santa Sé.
O pedido, noticiado pela agência Ecclesia, foi justificado pelo cardeal Peter Turkson, do CPJP, como “uma maneira de trazer a economia e finanças de volta à sua vocação primeira, incluindo a sua função social”.
No final da reunião anual do conselho de administração da CIDSE, o cardeal do Gana disse ainda que tal imposto deveria ser aplicado “com taxas justas, aferidas em proporção com a complexidade das operações, especialmente no caso das desenvolvidas no mercado secundário”.
A posição, diz ainda a Ecclesia, é partilhada pelas 16 organizações católicas de desenvolvimento da CIDSE na Europa e na América do Norte, nas quais se inclui a Fundação Fé e Cooperação (FEC), de Portugal.
Segundo o cardeal Turkson, o imposto sobre transacções financeiras (ITF) “seria muito útil na promoção do desenvolvimento global e sustentabilidade, de acordo com os princípios de justiça social e solidariedade”. E acrescentou: “Também poderia contribuir para a criação de um fundo de reserva mundial para apoiar as economias dos países atingidos pela crise, bem como a recuperação de seus sistemas monetários e financeiros.”
John Arnold, bispo auxiliar de Westminster (Inglaterra), e outros nove bispos europeus presentes na reunião da CIDSE, pediram aos governos cépticos, como o do Reino Unido, que apoiem a ideia de um ITF. Chris Bain, presidente da CIDSE, referiu que “a adopção de um ITF a nível da União Europeia é a coisa certa a fazer”. “O ITF tem o potencial de reunir fundos para financiar projectos de desenvolvimento e adaptação/mitigação das alterações climáticas, pondo em prática medidas para mais justiça e equidade.”
“Os cépticos devem perceber que um imposto sobre transações financeiras pode iniciar um longo caminho para estabilizar os sistemas financeiros, ao mesmo tempo que combatem a pobreza nalguns dos países mais vulneráveis do mundo”, declara Chris Bain.
Várias agências de desenvolvimento católicas e protestantes uniram-se já para pedir que o ITF abranja um “quadro alargado de transações” e não se limite às acções cotadas em Bolsa, para poder servir como um instrumento de “estabilidade, justiça e desenvolvimento sustentável”.

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