sábado, 24 de novembro de 2012

A justiça como rosto social da caridade


Luciano Manicardi, monge do mosteiro de Bose, em Itália, disse esta manhã na Semana Social católica que a justiça é o rosto social da caridade e que a fome, a falta de abrigo e de trabalho "não toleram esperas"“A caridade é amor ao irmão, a justiça é amor dos direitos do irmão”, afirmou, defendendo a complementaridade entre as duas dimensões, uma ideia que, recorda, já vem expressa também na encíclica “Deus Caritas Est”, de Bento XVI.
Manicardi (na foto), autor de vários livros (alguns publicados em Portugal, como "Viver Uma Fé Adulta" ou "A Caridade dá que Fazer") acrescentou que, no Antigo Testamento, “a justiça nasce na ira, na raiva, na indignação perante a injustiça”. E mesmo Jesus “sabe mostrar que a ira é o outro rosto da compaixão”.
A importância destas afirmações destaca-se mais ainda num momento em que, em Portugal e na Europa, o debate, por vezes, opõe as duas dimensões. Se é importante ajudar a minorar a fome de quem tem fome, é igualmente (ou ainda mais...) importante criar estruturas sociais justas que permitam que as pessoas deixem de passar fome. Essas estruturas passam pelo emprego, salário justo, direito ao descanso e às férias, respeito pela dignidade de cada um, equidade e justiça fiscal, funcionamento transparente e eficaz do sistema de justiça.
Esta divisão entre as duas dimensões, defendida por tantos mesmo dentro da Igreja, pode estar no que já aqui chamei “as duas igrejas que nunca se encontram” – e que leva também à secundarização da acção social da Igreja, como ontem lamentava um padre, que tem um lugar de responsabilidade na estrutura de acção social católica.
Nesta Semana Social estão membros de instituições como a Cáritas ou a Comissão Justiça e Paz, de movimentos de operários e trabalhadores cristãos, de grupos como as Conferências de São Vicente de Paulo. Mas onde está, por exemplo, a Associação Cristã de Empresários e Gestores? Onde estão os economistas da Universidade Católica que defendem este modelo de governação baseado nos baixos salários, no desemprego e no poder dos “mercados”? Era importante colocar essas duas igrejas a encontrar-se e debater e a saber ler a doutrina social da Igreja para os tempos que vivemos.
Há outros desabafos que se ouvem entre participantes: a acção social é o parente pobre da acção da Igreja e uma iniciativa como a Semana Social apenas remedeia o que se passa. E há quem lamente que muitos padres não dêem a esta dimensão a mesma prioridade que dão à liturgia ou à catequese.
É verdade que nem sequer da parte do episcopado se vê o mesmo empenhamento que em outras realizações. Apesar de ser iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), apenas alguns bispos passam pela Semana Social – abaixo de Coimbra, por exemplo, não há um único bispo presente. E mesmo o presidente da CEP, cuja participação esteve prevista, cancelou-a por causa de um compromisso na Universidade Católica.
“Se fosse uma semana de liturgia, estaria cá muito mais gente e os padres mobilizavam-se mais”, diz o padre referido, ainda em desabafo, lamentando também a inexistência de grupos de acção social em muitas paróquias do país. Apesar de, ontem, o presidente da CNIS (Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade), padre Lino Maia, ter elogiado o papel desses grupos.
A economista Manuela Silva colocou outra questão: além do testemunho de uma vida pessoal, a Igreja precisa de dar um testemunho comunitário de um outro modo de viver. E como se faz isso hoje? Manicardi respondeu que a qualidade da comunidade foi um dos temas do recente Sínodo dos Bispos sobre a nova evangelização. O então cardeal Ratzinger falava há anos, recordou, do fracasso da catequese nos tempos modernos, com o êxito da educação individualista. É necessário, assim, narrar a vida de um Jesus vivo. "É preciso olhar para o espaço eclesial. Deve voltar a partir-se da vida religiosa para pretender o que significa vida comunitária. E devem formar-se pequenas comunidades, como dizia o cardeal Martini, que saibam dar espaço a grandes valores alternativos ao espaço mundano: primeiro lugar aos pobres, capacidade de reconhecimento da pessoa..."

1 comentário:

a küttner disse...

Sábado 24.11.2012 /23h00, noite dei uma volta com m/ mulher pela cidade.



Em Costa Cabral , uma Pessoa tapada, um frio desconfortável, um cobertor velho, num abrigo de uma paragem de autocarro. Na parte lateral da Casa da Musica, um Homem a cobrir-se com uns cartões, do frio e da humidade! Em todo o lado desolamento.



E na baixa do Porto uns grupos de jovens, todos "numa boa" a beber uns copos e a andar com os seus carros por cima de passeios e a estacionar à balda.

Claro que têm que se divertir, claro que devem andar de carro. Mas, talvez possam beber um pouco menos, irem mais no mesmo carro, por civismo não estacionar onde não devem, e também não urinarem(em todo o lado) e falarem mais baixo!!!!!!!!



. E o que pouparem em menos gasolina, menos copos e mais civismo darem aos sem abrigo que estão ali a seu lado e que fingem que não veem.


Mulheres e homens que dormem ao frio nas ruas do Porto


E...... se o Governo, os municípios, as oposições se marimbem para isto, haja a sociedade civil a mais ajudar...dado que já temos muitos que ajudam...e ninguém esqueça que amanha pode estar do lado errado do lugar!!!!