“É uma beleza!...” – Nossa Senhora da Conceição a ser coroada com a coroa da paz
(pintura em azulejo no antecoro do Convento dos Cardaes)
Fundado por D. Luísa de Távora em
1681, como convento de carmelitas, acolhe, desde 1877, uma comunidade de irmãs
dominicanas e de mulheres com necessidade de apoio. A história do Convento dos
Cardaes conta-se com a resiliência: sobreviveu praticamente intacto ao
terramoto de Lisboa de 1755 e às extinções dos conventos e mosteiros decretadas
pela revolução liberal, em 1834, e pela República, em 1910-11. “Ficou sossegado”,
comenta a irmã Ana Maria Vieira que, desde 1975, tem sido responsável pela
comunidade, pela residência de mulheres e pela recuperação patrimonial do
convento – e que guia a reportagem de Manuel Vilas Boas na TSF (com som de Mézicles Helim)
percorrendo as escadarias, celas, igreja e arte patrimonial deste convento
Discreto por fora e riquíssimo por
dentro, o edifício guarda vários segredos: abrem-se armários e deles saem
pinturas ou retábulos, percorrem-se os corredores ou os claustros e deles
emergem histórias desconhecidas ou esquecidas. Uma delas foi a razão da
sobrevivência do convento, depois da extinção decretada no século XIX: graças
ao facto de ali se acolherem mulheres cegas, o convento pode permanecer aberto;
depois da instauração da República, foram destacados funcionários dos hospitais
civis de Lisboa mas as mulheres “choravam tanto” que as irmãs tiveram de
voltar, com o pedido de que “rezassem baixinho”.
Entre os muitos tesouros artísticos
que o convento guarda, está um painel de azulejos alusivo à coroação de Nossa Senhora da
Conceição com a coroa da paz. La femme européène (a
mulher europeia), comentou um historiador de arte em visita ao convento,
aludindo às doze estrelas que circundam a cabeça de Nossa Senhora, que
inspiraram a bandeira da União Europeia. “É uma beleza”, comenta a irmã Ana
Maria na reportagem, mostrando o seu gosto pelo património que tem à sua guarda
há 42 anos. E que destaca, por exemplo outra pintura alusiva à ressurreição de
Jesus: “Não há Madalena a dizer que [Cristo] não está, não há anjo, não há
soldado estremunhado...” Apenas a luz e os símbolos da paixão. Porque não se
pode representar o irrepresentável, como dirá também a irmã Ana Maria na
reportagem da Visita Guiada conduzida por Paula Moura Pinheiro.
Na mesma reportagem, Ana Maria
Vieira acrescenta: “O interior é que tem valor, o exterior
são aparências.”
(Para conhecer o convento e o seu
património, pode também procurar-se o livro O
Convento dos Cardaes – Veios da Memória, ed. Quetzal)
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