"Nova evangelização: confissão de uma perplexidade"
Respigo de um texto do jurista e deputado do PSD Paulo C. Rangel um texto vindo a lume no Público de hoje, que começa por considerar
"Um dos grandes acontecimentos culturais dos últimos anos foi, sem dúvida, o Congresso Internacional para a Nova Evangelização, que a Igreja de Lisboa acaba de acolher e organizar. Trata-se de um marco na nova atitude cultural e pastoral da Igreja Católica portuguesa, só possível devido ao carisma de D. José Policarpo (...)".
E apresenta um dos seus motivos de perplexidade:
"A procissão - nomeadamente pela sua inumerável adesão - constitui uma afirmação inquestionável de presença da Igreja na cidade. Presença impressionante, devendo suscitar, como pacificamente parece ter suscitado, o respeito geral pela fé e pela crença de cada um e pelo direito a manifestá-la no espaço público. Presença que, sem considerandos de oportunidade pastoral e ambiente teológico, seguramente se mostra útil. Útil, numa sociedade como a portuguesa, onde uma larga maioria de católicos é relegada para um oprimente silenciamento mediático. Útil também, porque frequentes vezes se esquece e se esconde o respeito e a tolerância com que essa larga maioria assiste, quotidianamente, à publicitação maciça de concepções e opiniões alternativas ou até contrárias às suas. Um sinal paradoxal, todavia. Paradoxal, porque a linguagem e a ordem simbólica daquela manifestação religiosa - por mais ternura e afeição que possa congraçar - parece aquém do ambiente e da oportunidade da "nova evangelização". Parece, aliás equivocamente, fazer convergir a dinâmica e o apelo místico de Fátima com uma conjuntura de crise e de incerteza generalizada. Paradoxal, porque a procissão evoca uma tradição mais rural do que urbana, releva mais duma pastoral do passado do que do futuro e convoca mais uma "confirmação da fé" (ainda que uma fé plural e diferenciada) do que uma "reevangelização". Paradoxal, porque a linguagem usada foi estritamente tradicionalista, pouco apta a despertar os cidadãos hoje dispersos, podendo ter tingido a visibilidade e a intencionalidade cardial do congresso. E de pouco valerá um paralelo, que já vi esboçado, com as experiências multitudinárias protagonizadas por João Paulo II. Estas, mesmo quando fiéis depositárias de uma conservação da tradição - e é um assumido sobrevivente do chamado catolicismo "progressista" que o escreve -, relevavam de uma interpelante linguagem de proximidade, de uma simbologia inovadora, de um gesto humanamente cativante. Também aqui o testemunho pode valer mais do que a doutrina.".
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