terça-feira, 4 de maio de 2010

Sobre a exploração da visita do Papa

A 'devoção' leva muitos media a explorar até ao tutano a vinda de Bento XVI a Portugal. Os títulos não enganam:
Claro que não existe festa sem comércio e os actos públicos e de multidões que caracterizam a visita tonam a exploração comercial praticamente inevitável. Mas não é seguro que se Cristo voltasse e visse esta feira, não pegasse, não digo num chicote para expulsar os vendilhões (Jo 2,13-17), mas não dissesse que o seu Reino não é deste mundo e actuasse em conformidade. No diário 'Página 1' de ontem publiquei, com alusões a este assunto o texto que segue:
"É já visível que a generalidade dos grandes meios de difusão colectiva se preparam para apostar forte na cobertura da viagem do papa a Portugal. Aqui não há direitos exclusivos de transmissão. Todos se podem juntar e até cooperar para fazer da visita um grande acontecimento, dos maiores, se não mesmo o maior deste ano, entre nós.
É claro que o interesse dos media não se deve a uma súbita descoberta da importância da dimensão religiosa e cristã na vida de tantas pessoas. Deve-se em primeiro lugar à percepção de que uma visita papal, com tudo o que a envolve de simbolismo, espectáculo e exotismo, é susceptível de fabricar audiência. O papa (e a visita papal) é uma “marca” que vende e, numa sociedade em que tudo se mercadeja, não se pode desperdiçar a ocasião. É ver como não são apenas as redacções que se mobilizam: bem antes delas, os departamentos de marketing dos media já começaram a trabalhar afanosamente e até os jornais das escandaleiras se entregam devotamente a apregoar um qualquer produto que explore a visita do papa.
Certo é que a dimensão e impacto desta deslocação de Bento XVI a Portugal é indissociável da cobertura mediática, que dá a muitos milhares de pessoas a oportunidade de acompanhar a distância o que se vai passar em Lisboa, em Fátima e no Porto. Importa, porém, considerar que este acontecimento se dá num quadro bastante particular, quer do ponto de vista da sociedade, quer dos media (para já não falar da própria Igreja).
De facto, encontramo-nos mergulhados numa espécie de Inverno sócio-económico e político, marcado por uma crise profunda de valores e por desigualdades cada vez mais gritantes. Em que medida a descrença crescente nas instituições da democracia e a dificuldade de encontrar um sentido para a vida serão marcados por (e marcarão) esta viagem do papa?
No plano mediático, é certo que, apesar da crise, os grandes meios, e em especial a TV, mantêm uma centralidade saliente no quotidiano. Mas os novos media e particularmente as redes sociais disputam um lugar próprio no comentário, no escrutínio, na mobilização e na participação. Esta é uma realidade nova, que não existia, em 2000, aquando da última visita de João Paulo II. Que papel terão estas redes e modalidades de comunicação antes, durante e depois da estadia de Bento XVI em Portugal? Eis o que vale a pena analisar".

1 comentário:

mariahenriques disse...

Pois é assim.O papa está quase a chegar cá ao burgo e os sinais de contentamento pelo poder da igreja romana não podiam ser mais evidentes.O papa está quase aí, os bispos andam numa roda viva, as proibições são constantes, as ofertas são ricas e não param e quanto ao povo, pois dinheiro não tem nem para pagar as virtualhas , mas papa é papa mesmo quando nem há que chegue para papas de sarrabulho.


visita papal paga por 1 igreja que diz que não tem dinheiro, é financiada por câmaras que se têm dinheiro, não deviam. http://bit.ly/dx5IXK