O facto de o autor ser membro da equipa deste blog (e fica assim feita a competente declaração de interesses) não pode inibir a referência a uma obra que acaba de ser publicada e que é certamente um acontecimento editorial, no seu âmbito. Refiro-me a "Deus Vem a Público: Entrevistas sobre a transcendência", cujo autor é o jornalista do Público e um internacionalmente premiado especialista em assuntos religiosos - António Marujo.
A obra, de quase 500 páginas, reúne aquele que é o primeiro volume de uma série de entrevistas com nomes cimeiros das religiões, da filosofia, da teologia, da cultura, da ciência, da política, da arte ... Entre outros: Abbé Pierre, Aga Khan, Aloísio Lorscheider, Andrea Riccardi, Bronisław Geremek, Dalai Lama, Erri de Luca, Eugen Drewermann, Gianfranco Ravasi, Gianni Vattimo, Godfried Danneels, Hans Küng, Irmão Roger de Taizé, Jacques Arnould, Jacques Gaillot, Jean-Yves Calvez, Johann Baptist Metz, José António Pagola, Joseph Comblin, Jordi Savall, Juan José Tamayo, Juan Masiá, Jürgen Moltmann, Lavinia Byrne, Leonardo Boff, Raimon Panikkar, Rino Fisichella, Timothy Radcliffe.
Muitos destes documentos testemunham sobre o pensamento oficial, sobre a heterodoxia, sobre o olhar original, o testemunho de vida, a busca de sentido. Todos eles se interrogam sobre esse mistério que é Deus, que continua a ocupar e mobilizar energias na nossa contemporaneidade.
Ler o livro é, assim, atravessar universos plurais de surpresa e abrir-se a encontros inesperados. Nestas entrevistas - e transcrevo um excerto da introdução do autor - "se debatem cortinas de dogmas que por vezes tolhem a possibilidade de um debate sério e mais rico sobre muitas das questões que a Deus e à humanidade dizem respeito. Ou revela-se o espantoso empenhamento radical de mulheres e homens na construção de uma «parábola de comunhão» para a casa comum da família humana. Ou ousa-se propor novos horizontes aos modos de olhar.
Esta obra que, juntamente com o segundo volume que se anuncia - bem poderá ser vista como o compêndio de uma carreira com mais de 20 anos a acompanhar o fenómeno religioso no mundo actual - constitui, de algum modo, um desafio a todos, sejam crentes ou não crentes, porque não remete para um qualquer universo esotérico, mas para as grandes e incontornáveis perguntas do nosso viver pessoal e colectivo. desse ponto de vista, é susceptível de abrir horizontes de desanuviamento para um mundo encerrado em si mesmo e carente de chaves para reinventar o futuro.
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