No Página 1 de hoje, Manuel Pinto questiona o silêncio mediático sobre o fenómeno religioso.
Um estudo realizado pelo jornalista José António Santos sobre as notícias difundidas pela agência Lusa no ano de 2008 indica que os assuntos de natureza religiosa não chegaram a 1 por cento da produção geral da agência. Ficaram-se por 0,71%, tendo atrás de si apenas dois temas: meteorologia e agenda.
Sabendo-se do peso da Lusa no fornecimento das redacções da generalidade dos media nacionais, fácil se torna compreender uma tomada de posição e de alerta da Igreja Católica, esta semana surgida entre nós. As conferências episcopais de Portugal e de Espanha, através das respectivas comissões especializadas de comunicação social, reunidas em Braga, sugerem que a dimensão religiosa e cristã, que faz parte da realidade social e cultural em que vivemos, está a ser silenciada nos media.
Os bispos chamam a atenção para uma atitude de suspeita sobre a presença do facto religioso cristão na esfera pública e para o desejo de “relegar a dimensão religiosa para o âmbito privado, sem deixar espaço para Deus na opinião pública”.
O tema nem se limita à religião nem será específico dos católicos e eu diria que é, antes de mais, um problema cultural, que ganharia em ser discutido como tal. Para tal, importa encontrar critérios que sirvam como referenciais para o debate e para a acção e que possam ser, digamos assim, conversados entre todos, sejam crentes ou não. Um deles julgo que seja a expressão social da dimensão religiosa, que parece indesmentível.
Outro é a relevância histórica desta componente no forjar da nossa identidade colectiva. Poderíamos acrescentar ainda um factor de equidade – atendendo à visibilidade social e cultural que outros fenómenos da vida das pessoas adquirem no espaço público.
Quanto aos media, parece-me preocupante o silêncio. E não é pelo facto de alguns deles terem cronistas ou transmitirem celebrações que o problema diminui. Porque o que está aqui em causa é a cobertura noticiosa – notícias breves ou contextualizadas, entrevistas, reportagens, investigação jornalística.
Claro que muitos crentes e alguns hierarcas gostariam de ver os media sobretudo como ‘púlpito’. Claro, também, que os crentes e as religiões instituídas precisam de aprender a comunicar muito melhor. Mas nada disso justifica o silêncio, porque o jornalista não é (não deve ser) aquele que fica à espera que a notícia lhe venha parar às mãos.
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