"É uma sentença ilógica. Abre-se caminho para pessoas em busca de dinheiro"
Gianni Gennari, teólogo e comentador do jornal Avvenire, dos bispos italianos, não vê "nenhuma racionalidade" na decisão tomada nesta segunda-feira pelo Supremo Tribunal norte-americano que rejeita a imunidade diplomática reivindicada pelo Vaticano, permitindo até que o Papa seja chamado a depor como testemunha ou como acusado nos casos de pedofilia. A entrevista saiu no “La Stampa” de 29 de Junho. Apareceu traduzida em português aqui.
De agora em diante, o Vaticano irá responder pelos abusos do clero?
Que uma coisa aconteça é um fato, mas não é dado que ela seja justa. Hegel se equivocou: "Nem todo o real é racional". Os juízes do tribunal dos EUA têm o direito de chamar a Santa Sé a julgamento por um crime cometido por um cidadão norte-americano, ou de outro Estado, só por ser padre? Um padre é um dependente jurídico do Vaticano? E por quê? Mesmo que viva no Pólo Sul? Mesmo se atropelar um pedestre de carro? Mesmo se roubar uma marmelada no supermercado? Que relação jurídica existe, para o direito norte-americano, entre um padre e o seu bispo quando se trata de ações totalmente pessoais e como tais incontroláveis?
A Santa Sé se sente cercada?
Vivemos um tempo de "zombarias" singulares. O limite da racionalidade parece ter sido superado. A menos que a pretensão se fundamente só no fato de que esse Papa, entristecido, reconheceu, de um lado, o horror cometido por padres como um pecado e, pela lei do Estado, também como um crime, e alguém queira se aproveitar disso para fazer dinheiro. Justamente o fato de ter decidido pela tolerância zero, por ter levado a sério as partes das vítimas seria pretexto para punir quem se recusa a proteger os réus e os entrega à justiça?
A linha defensiva da Igreja está ruindo?
Sim. Deve-se dizer, porém, que a tese defensiva de que "todo bispo é Papa em sua casa" é uma concepção ilógica da defesa, que já fez muitos danos. Todo cidadão adulto é o responsável único pelos seus atos e se, para realizá-los, usa prerrogativas de tipo associativo, como as eclesiais, comete um segundo delito, que deve ser punido com as leis da associação falsamente colocada em jogo e, assim, caluniada e prejudicada. Se nos tempos do caso Craxi, ou do caso Greganti, a polícia italiana não só tivesse entrado com força na sede do PSI e do PCI, mantendo todos presos por 10 horas, mas também tivesse escavado os túmulos de Nenni, Togliatti e Berlinguer para "procurar provas" dos crimes financeiros, além disso certos, o que se teria dito?
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