“Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o Reino de Deus.”
(Evangelho de S. Mateus 21, 31 - Domingo XXVI do Tempo Comum)
Quando se vive imerso numa cultura do “nim” só provocações como a de Jesus no evangelho de hoje nos podem fazer acordar. Não propagamos, algumas vezes, uma imagem de Jesus adocicada ou insonsa, que “fica bem” mas é vazia, e sanciona um comportamento de quem parece que “meteu Deus no bolso”? Levar a sério a pequena parábola dos irmãos que o pai pede para irem trabalhar na vinha a vinha, e onde acaba por ir aquele que disse “não”, implica partir o verniz da aparência, denunciar falsas superioridades morais, reconhecer hipocrisias que se apresentam como modelos de virtudes. A proposta de viver na verdade, que Jesus faz, é natural que encontre obstáculos no reino das aparências e dos julgamentos. Porque interroga e aponta mudanças. Convida a ver por dentro. E a viver no presente.
Gosto muito das letras e das canções de Sérgio Godinho. Há muitos anos. Pela força dos seus poemas. Pelo cantar impregnado de vida e pelas interrogações. Como diz numa recente entrevista: “As interrogações que há nas minhas canções são dúvidas. Dúvidas para serem respondidas pelos outros. São interpelações”. É preciso tanta coragem para interpelar como para deixar-se interpelar. O hábito, o preconceito, a soberba, o ar e a prática da superioridade, a rotina da mentira e o culto da aparência impedem o crescimento e o amor. Tudo fica relativo. Canta o Sérgio no último disco: “Não vás dizer que o amor é relativo, se o relativo fosse coisa que se visse não era amor o porque morro e o porque vivo”.
Estaria cheio de boas intenções o filho que disse logo “sim” ao pai. Ou então respondeu por rotina, para “ficar bem na fotografia”, talvez porque havia plateia que interessava impressionar! Talvez até pensasse em ir... lá por alturas do Natal! Quando se é falso vive-se noutra dimensão ou noutro tempo. E acaba por ser fácil imaginar uma “idade de ouro” ou uma vida outra com pessoas ilustres e perfeitas, quem sabe até sendo nós uma delas! Esta é a temática do último filme de Woody Allen, “Meia-Noite em Paris”, uma deliciosa parábola sobre a coragem de viver no presente. Em que o gosto das coisas belas do passado pode ser vivido nesta construção, às vezes dolorosa (serão as dores do parto?), do presente.
Viver na aparência é estacionar na vida. É pôr-se numa redoma, sem pecado, nem necessitado de salvação. Bastando-se a si mesmo. Como Jesus gostava dos que traziam o coração nas mãos. Dizendo não com a boca, e sim com a alma e a vida. Alegrando-se com o encontro com Ele, que é especialista em semear futuros. Revestidos da verdade, ainda que isso não ganhasse audiências, nem boa fama junto dos “muito bem” mas que faz sorrir o bom Deus!
(Comentário aos textos da liturgia católica, publicado na edição da Voz da Verdade de 25.09.2011; imagem copiada daqui.)
(Evangelho de S. Mateus 21, 31 - Domingo XXVI do Tempo Comum)
Quando se vive imerso numa cultura do “nim” só provocações como a de Jesus no evangelho de hoje nos podem fazer acordar. Não propagamos, algumas vezes, uma imagem de Jesus adocicada ou insonsa, que “fica bem” mas é vazia, e sanciona um comportamento de quem parece que “meteu Deus no bolso”? Levar a sério a pequena parábola dos irmãos que o pai pede para irem trabalhar na vinha a vinha, e onde acaba por ir aquele que disse “não”, implica partir o verniz da aparência, denunciar falsas superioridades morais, reconhecer hipocrisias que se apresentam como modelos de virtudes. A proposta de viver na verdade, que Jesus faz, é natural que encontre obstáculos no reino das aparências e dos julgamentos. Porque interroga e aponta mudanças. Convida a ver por dentro. E a viver no presente.
Gosto muito das letras e das canções de Sérgio Godinho. Há muitos anos. Pela força dos seus poemas. Pelo cantar impregnado de vida e pelas interrogações. Como diz numa recente entrevista: “As interrogações que há nas minhas canções são dúvidas. Dúvidas para serem respondidas pelos outros. São interpelações”. É preciso tanta coragem para interpelar como para deixar-se interpelar. O hábito, o preconceito, a soberba, o ar e a prática da superioridade, a rotina da mentira e o culto da aparência impedem o crescimento e o amor. Tudo fica relativo. Canta o Sérgio no último disco: “Não vás dizer que o amor é relativo, se o relativo fosse coisa que se visse não era amor o porque morro e o porque vivo”.
Estaria cheio de boas intenções o filho que disse logo “sim” ao pai. Ou então respondeu por rotina, para “ficar bem na fotografia”, talvez porque havia plateia que interessava impressionar! Talvez até pensasse em ir... lá por alturas do Natal! Quando se é falso vive-se noutra dimensão ou noutro tempo. E acaba por ser fácil imaginar uma “idade de ouro” ou uma vida outra com pessoas ilustres e perfeitas, quem sabe até sendo nós uma delas! Esta é a temática do último filme de Woody Allen, “Meia-Noite em Paris”, uma deliciosa parábola sobre a coragem de viver no presente. Em que o gosto das coisas belas do passado pode ser vivido nesta construção, às vezes dolorosa (serão as dores do parto?), do presente.
Viver na aparência é estacionar na vida. É pôr-se numa redoma, sem pecado, nem necessitado de salvação. Bastando-se a si mesmo. Como Jesus gostava dos que traziam o coração nas mãos. Dizendo não com a boca, e sim com a alma e a vida. Alegrando-se com o encontro com Ele, que é especialista em semear futuros. Revestidos da verdade, ainda que isso não ganhasse audiências, nem boa fama junto dos “muito bem” mas que faz sorrir o bom Deus!
(Comentário aos textos da liturgia católica, publicado na edição da Voz da Verdade de 25.09.2011; imagem copiada daqui.)
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