Montserrat morreu quinta-feira em Barcelona.
Na apresentação do disco Invocation a la Nuit, escreve Jordi Savall: «'A noite é a salvação da alma', diz-nos o poeta árabe do século X num dos contos das Mil e Uma Noites (História de Doce-Amiga). Uma cifra mágica essas 1001 noites que percorrem a vida como um instante fugaz, um instante que dura menos de 3 anos (exactamente 2 anos e 271 noites). Rapidamente me dou conta de que tive a sorte de viver 20 vezes Mil e uma noites. Noites de infância, cheias de descobrimentos maravilhosos, mas também de noites tristes, escondidas pelos temores da guerra e a incerteza do amanhã. Noites de adolescência marcadas pela descoberta e a aprendizagem do amor, da amizade e o som cálido do violoncelo. Noites claras de uma primavera de 1965 cheia de encontros inesquecíveis, o da amada ideal e o da viola de gamba e suas músicas esquecidas.»
Esta sexta-feira, às 11h da manhã (10h portuguesas), a despedida de Montserrat decorre no Mosteiro de Pedralbes, em Barcelona. O mesmo lugar que Jordi Savall evoca no disco onde invoca as "noites estreladas nos jardins do Mosteiro de Pedralbes onde, com Montserrat Figueras, decidimos fazer juntos a nossa viagem até ao futuro, até essas manhãs ainda incertas mas já cheios de confiança e esperança, decididos a partilhar felicidades e desgraças, músicas e amizades, caminhos e sonhos de toda uma vida".
A voz de Montserrat abria-nos para transparências infindas. Que melhor evocação senão escutá-la?
1 comentário:
Obrigada, António, pela atenção que dá, e transmite, a tudo o que bom e belo mesmo quando triste como é o caso...
Enviar um comentário