Música
O Magnificat em Talha Dourada, de Eurico
Carrapatoso, será tocado e cantado esta
noite na Igreja da Graça, a partir das 21h30, depois de a mesma peça ter
sido ouvida, sábado passado, na Igreja do Coração de Jesus, num concerto
integrado no festival Primavera na Cidade e que foi também uma homenagem ao
arquitecto Nuno Teotónio Pereira. A peça foi escrita em 1998, em comemoração
dos 500 anos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Lê-se na
folha distribuída sábado passado: “O Magnificat
é uma homenagem ao barroco, o estilo onde triunfa o movimento, as espirais
inebriantes, o puro concerto dos sentidos que cruza várias referências
conferindo à obra uma folia estilística que faz lembrar uma ‘tapeçaria de
Arraiolos de múltiplas cores e padrões’, nas palavras do próprio autor.”
Eurico
Carrapatoso diz, aliás, que esta é, provavelmente, a sua obra dilecta. Para
quem a escuta, a peça torna-se harmoniosamente dilecta, colocando em diálogo
peças de inspiração popular portuguesa e a linguagem barroca. Esta é claramente
assumida pelo autor: “O espírito de Bach paira sobre a obra, tal como, no
princípio, ‘o espírito pairava sobre as águas’”, escreve. E como “‘barroco’ é
uma palavra de origem portuguesa”, Carrapatoso decidiu homenagear o estilo que,
“glorificando o movimento, o delírio e a dinâmica, transforma a música em pura
alegria de viver”.
Mas não se
pense que a referência portuguesa é apenas uma inspiração remota. Esta
contribui para dar intensidade à escuta e à forma como os sentidos reagem ao Magnificat. Temas como “Virgem da Lapa”,
“Ó meu Menino” ou “José embala o menino” são docemente recriados. O diálogo
entre as duas referências musicais fica estabelecido entre o maior lirismo das
melodias portuguesas e a maior ornamentação de temas como Quia Respexit, Et misericordia,
Deposuit ou Suscepit Israel.
O concerto
desta noite tem a participação do Coro de Câmara da Universidade de Lisboa e da
Orquestra Académica da Universidade de Lisboa, dirigidos por João Aibéo e com a
solista Ana Paula Russo.
Uma versão
em disco, editada há pouco mais de dez anos e cuja capa se reproduz acima,
regista a execução da peça ao vivo, em Agosto de 2000, no Festival dos Capuchos
(ed. Dargil).
(o texto
inclui a reprodução de um artigo publicado em Março de 2006, na revista
Além-Mar, disponível aqui)
Texto anterior no blogue
O frade que não acredita no Papa, mas crê num mundo de irmãos - apresentação do quarto volume de antologia das crónicas de frei Bento Domingues no Público
1 comentário:
Pena saber deste acontecimento no próprio dia...
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