Bispos brasileiros condenam extinção
de reserva amazónica, dias depois de o Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu
terem publicado um documento conjunto assinalando o Dia de Oração pelo Cuidado da
Criação.
O Patriarca Bartolomeu e o bispo católico Geraldo Majella Agnelo, durante a cerimónia
da bênção das águas, que abriu o simpósio Religião, Ciência e Ambiente,
em Manaus (Amazónia, Brasil), em Julho de 2006 (foto © RSE)
A Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB) divulgou esta terça-feira, dia 5, uma nota em que manifesta um
“veemente repúdio” pelos decretos que extinguem a Reserva Nacional de Cobre e
seus Associados (Renca). A decisão governamental afronta a Constituição
Federal, considera a presidência da CNBB, pelo facto de não consultar os povos
indígenas.
Os bispos acrescentam que esta
decisão evidencia a lógica de mercado que tem sido adoptada no Brasil, “em
detrimento da vida, da dignidade da pessoa e do cuidado com a Casa Comum”. E
exemplificam: “Políticas governamentais de incentivo às hidrelétricas, à
mineração e ao agronegócio, com flexibilização de licenças ambientais, anulam
os esforços em prol de sua preservação”, considera a CNBB.
A nota dos bispos em defesa da
Amazónia, intitulada “Viver a vocação de guardiões da obra de Deus”, pode ser
lida na íntegra aqui e pede a “revogação revogação
integral dos decretos de extinção da Renca”.
Também a Rede Eclesial
Pan-Amazónica (Repam), integrada no Conselho Episcopal Latino-Americano e do
Caribe (Celam), que reúne todas as conferências episcopais da região, repudiou
a decisão governamental brasileira. E, apesar de o Presidente Michel temer ter
anunciado há dias a revisão de um dos decretos em causa – que abre uma reserva amazónica à exploração mineira – acabou por manter a extinção da Renca,
que agora foi condenada pela CNBB.
Esta situação surge no contexto da
celebração do terceiro Dia de Oração pelo Cuidado da Criação, assinalado no
passado dia 1 de Setembro, pela primeira vez, com uma mensagem conjunta do Papa
Francisco e do Patriarca Bartolomeu, de Constantinopla.
No documento, que pode ser lido
aqui na íntegra, Francisco e Bartolomeu relacionam
as trágicas consequências das mudanças climáticas com a situação das populações
mais vulneráveis: “O ambiente humano e o ambiente natural estão a deteriorar-se
conjuntamente, e esta deterioração do planeta pesa sobre as pessoas mais
vulneráveis. O impacto das mudanças climáticas repercute-se, antes de mais
nada, sobre aqueles que vivem pobremente em cada ângulo do globo. O dever que
temos de usar responsavelmente dos bens da terra implica o reconhecimento e o
respeito por cada pessoa e por todas as criaturas vivas. O apelo e o desafio
urgentes a cuidar da criação constituem um convite a toda a humanidade para
trabalhar por um desenvolvimento sustentável e integral.”
Por isso, o Papa e o Patriarca
ortodoxo dirigem a “quantos ocupam uma posição de relevo em âmbito social,
económico, político e cultural” um “apelo urgente”, no sentido de prestarem
“responsavelmente ouvidos ao grito da terra e a cuidar das necessidades de quem
está marginalizado, mas sobretudo a responder à súplica de tanta gente e apoiar
o consenso global para que seja sanada a criação ferida”.
Apesar de a questão ecológica e do
cuidado com a Casa Comum não ser ainda uma preocupação de muitas pessoas –
incluindo de muitos crentes e católicos –, começam a surgir algumas
iniciativas. Uma delas será assinala no próximo dia 16, com a apresentação, em
França, do Selo Igreja Verde, uma iniciativa ecuménica que reúne a Conferência
Episcopal católica, Federação Protestante, Assembleia dos Bispos Ortodoxos e Conselho
das Igrejas Cristãs na França.
Martin Kopp, coordenador do grupo
de trabalho sobre o clima na Federação Protestante, diz que o objectivo do Selo Igreja
Verde é incentivar as paróquias a uma “conversão ecológica”, no âmbito da
harmonia ecuménica que se vive no país.
Sobre a encíclica Laudato Si, a associação ambientalista Campo
Aberto acaba de publicar, no seu sítio na internet, um conjunto de textos que
resultaram da jornada promovida pela organização, no Porto, em Outubro passado.
Os textos podem ser lidos aqui.
(No seu último disco, o brasileiro Chico César inclui uma música intitulada “Os Reis do Agronegócio”, em que fala de um dos aspectos referidos pelos bispos brasileiros e que pode ser escutada aqui a seguir.)
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