quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Em defesa da Amazónia e da Casa Comum

Bispos brasileiros condenam extinção de reserva amazónica, dias depois de o Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu terem publicado um documento conjunto assinalando o Dia de Oração pelo Cuidado da Criação.


O Patriarca Bartolomeu e o bispo católico Geraldo Majella Agnelo, durante a cerimónia 
da bênção das águas, que abriu o simpósio Religião, Ciência e Ambiente, 
em Manaus (Amazónia, Brasil), em Julho de 2006 (foto © RSE)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou esta terça-feira, dia 5, uma nota em que manifesta um “veemente repúdio” pelos decretos que extinguem a Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca). A decisão governamental afronta a Constituição Federal, considera a presidência da CNBB, pelo facto de não consultar os povos indígenas.
Os bispos acrescentam que esta decisão evidencia a lógica de mercado que tem sido adoptada no Brasil, “em detrimento da vida, da dignidade da pessoa e do cuidado com a Casa Comum”. E exemplificam: “Políticas governamentais de incentivo às hidrelétricas, à mineração e ao agronegócio, com flexibilização de licenças ambientais, anulam os esforços em prol de sua preservação”, considera a CNBB.
A nota dos bispos em defesa da Amazónia, intitulada “Viver a vocação de guardiões da obra de Deus”, pode ser lida na íntegra aqui e pede a “revogação revogação integral dos decretos de extinção da Renca”.
Também a Rede Eclesial Pan-Amazónica (Repam), integrada no Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (Celam), que reúne todas as conferências episcopais da região, repudiou a decisão governamental brasileira. E, apesar de o Presidente Michel temer ter anunciado há dias a revisão de um dos decretos em causa – que abre uma reserva amazónica à exploração mineira – acabou por manter a extinção da Renca, que agora foi condenada pela CNBB.
Esta situação surge no contexto da celebração do terceiro Dia de Oração pelo Cuidado da Criação, assinalado no passado dia 1 de Setembro, pela primeira vez, com uma mensagem conjunta do Papa Francisco e do Patriarca Bartolomeu, de Constantinopla.
No documento, que pode ser lido aqui na íntegraFrancisco e Bartolomeu relacionam as trágicas consequências das mudanças climáticas com a situação das populações mais vulneráveis: “O ambiente humano e o ambiente natural estão a deteriorar-se conjuntamente, e esta deterioração do planeta pesa sobre as pessoas mais vulneráveis. O impacto das mudanças climáticas repercute-se, antes de mais nada, sobre aqueles que vivem pobremente em cada ângulo do globo. O dever que temos de usar responsavelmente dos bens da terra implica o reconhecimento e o respeito por cada pessoa e por todas as criaturas vivas. O apelo e o desafio urgentes a cuidar da criação constituem um convite a toda a humanidade para trabalhar por um desenvolvimento sustentável e integral.”

Por isso, o Papa e o Patriarca ortodoxo dirigem a “quantos ocupam uma posição de relevo em âmbito social, económico, político e cultural” um “apelo urgente”, no sentido de prestarem “responsavelmente ouvidos ao grito da terra e a cuidar das necessidades de quem está marginalizado, mas sobretudo a responder à súplica de tanta gente e apoiar o consenso global para que seja sanada a criação ferida”.
Apesar de a questão ecológica e do cuidado com a Casa Comum não ser ainda uma preocupação de muitas pessoas – incluindo de muitos crentes e católicos –, começam a surgir algumas iniciativas. Uma delas será assinala no próximo dia 16, com a apresentação, em França, do Selo Igreja Verde, uma iniciativa ecuménica que reúne a Conferência Episcopal católica, Federação Protestante, Assembleia dos Bispos Ortodoxos e Conselho das Igrejas Cristãs na França.
Martin Kopp, coordenador do grupo de trabalho sobre o clima na Federação Protestantediz que o objectivo do Selo Igreja Verde é incentivar as paróquias a uma “conversão ecológica”, no âmbito da harmonia ecuménica que se vive no país.
Sobre a encíclica Laudato Si, a associação ambientalista Campo Aberto acaba de publicar, no seu sítio na internet, um conjunto de textos que resultaram da jornada promovida pela organização, no Porto, em Outubro passado. Os textos podem ser lidos aqui.


(No seu último disco, o brasileiro Chico César inclui uma música intitulada Os Reis do Agronegócio, em que fala de um dos aspectos referidos pelos bispos brasileiros e que pode ser escutada aqui a seguir.)


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