A Bíblia é um livro de "maus costumes", mas também de bons costumes. Um "catálogo de crueldade", mas também de sensibilidade e generosidade. Céptica, mostra o "pior da natureza humana". Utópica, revela confiança para lá da lógica humana e capacidade de perdão sem limites.
A Bíblia pode ser lida como um tratado de violência, mas também como um tratado de não-violência. Tem histórias de guerra e de paz. Adão e Eva. De traições e fidelidades. Caim e Abel. Dramas e alegrias. Paixões e desilusões. Sansão e Dalila. Alentos e desalentos, da metáfora erótica de Cântico dos Cânticos ao suplício de Job. Ameaças e bem aventuranças. David e Golias. Desespero e esperança, do Egipto à "Terra Prometida". O ferro nas mãos e o fogo nas palavras. Jesus e Barrabás. Intolerância e confiança. Da Sabedoria a Eclesiastes, "tudo tem o seu tempo" e há um tempo para tudo. Para a Vida e para a Morte.
Reduzir a Bíblia a meia dúzia de frases marcadas pelo preconceito religioso é uma desonestidade. Outros pensadores – que não chegam aos calcanhares do Nobel português –, noutros cenários religiosos, já fizeram o mesmo exercício de liberdade. Dizer que a Bíblia "é um manual de maus costumes" é um mau costume, mas uma boa estratégia de vendas.
(excerto de um artigo de opinião na SIC online, que pode ser lido na íntegra aqui)
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