Saramago pode ter posto alguma gente a comprar um livro que tem um título várias vezes menor do que o nome do seu autor. Mas também suscitou o debate em torno de Deus.
Se Deus fosse pura ilusão ou mero vestígio em vias de esquecimento, improvável seria que tantas ondas se levantassem, contra e a favor. Saramago é astuto e, se as suas boutades forem mais do que marketing, como, apesar de tudo, julgo que sejam, não seria improvável que, no fundo, tudo o que diz fosse, também, mais do que a enunciação de uma certeza (essa, afinal, velhíssima e conhecida), a emergência de uma pergunta existencial.
Agora o que parece difícil, entre nós, é fazer um debate sobre Deus e as mediações que o tornam (ou não) presente no mundo e na vida que vão além dos parâmetros que eram referência nos séculos XVIII e XIX.
Algum jornalismo saliva e delira com uns sound bites que se metam com Deus e a religião, mas é preguiçoso a fazer trabalho de casa e a interrogar quem os profere, como faz noutras áreas da vida pública. Pelos vistos o problema não se manifesta apenas por cá, como sublinha a última edição do Observatório da Imprensa, do Brasil, a propósito de um texto há dias publicado no Estado de São Paulo.
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