“A Cáritas Europa está preocupada com a evolução das políticas
atuais, que considera de solução fácil e a curto prazo não enfrentando os
desafios fundamentais das nossas sociedades”, noticia a agência Ecclesia. Os responsáveis da instituição manifestaram-se mesmo “alarmados” com os efeitos da crise económica sobre os “mais vulneráveis da sociedade”.
No sábado, a propósito das críticas que diversos teólogos
espanhóis têm feito ao poder financeiro internacional, Anselmo Borges recordava,
na sua coluna do DN, a referência de Xabier Pikaza à actual “santíssima
trindade” que nos domina: "A Trindade cristã era formada por Deus Pai, o
Filho Jesus Cristo (que éramos todos os seres humanos) e o Espírito Santo (que
era a comunhão ou amor entre Deus e os seres humanos, entre todos os seres
humanos). Mas agora surgiu uma Trindade diferente, formada por Deus-Capital
(que não é Pai, mas monstro que tudo devora), pelo Filho-Empresa, que não
redime, mas produz bens de consumo ao serviço dos privilegiados do sistema, e
pelo Espírito Santo-Mercado, que não é comunhão de amor, mas forma de domínio
de uns sobre os outros."
A ditadura financeira actual (é disso que se trata) já nem se
esconde atrás de subterfúgios: sexta-feira passada, dois ministros alemães – o
das Finanças e o dos Negócios Estrangeiros – disseram que Grécia e França teriam que cumprir os programas de austeridade (assim chamados, mas que são de austeridade
apenas para alguns). Os povos votam, têm a ilusão de estar a decidir o seu futuro através desse exercício democrático, mas a meia-dúzia de iluminados que nos desgovernam é que pretendem ditar as regras.
Hoje, no Público, ficámos a saber que os salários dos presidentes
das empresas do PSI-20 (as mais importantes do país) subiram 5,3 por cento, ao
contrário dos salários dos trabalhadores, cuja média desceu 11 por cento.
Em Fátima, na tarde de dia 12, o bispo de Leiria-Fátima, António Marto,
disse que “os mercados foram criados para servir a humanidade e não a humanidade para
servir os mercados”. E na homilia da missa com que encerrou a peregrinação de 13
de Maio, o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Cosenlho Pontifício da Cultura, dizia que os cristãos não deviam “ter medo
de sujar as mãos, ajudando os miseráveis da terra” e empenhando-se numa “fraternidade
operativa”.
Uma fraternidade operativa que passa hoje, parece-me, em primeiro
lugar, pela denúncia da usurpação de direitos a que os mesmos mercados e a
ditadura financeira nos tem submetido - tirando cada vez mais gente para o leque dos "miseráveis" da terra - ou os mais vulneráveis, na expressão da Cáritas. A questão da justiça social deve voltar
a ser colocada, desde logo, através do re-questionamento do papel do Estado na redistribuição
da riqueza. Porque se o Estado (e os governos) não serve para isso, então de pouco serve(m). Esse é, seguramente, um dos desafios fundamentais dos tempos que vivemos.
(ilustração: Cáritas Europa)
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