domingo, 20 de maio de 2012
Sem silêncio não há comunicação, mas com silêncio pode também não haver
Convido o leitor a adivinhar quem poderá ser o autor das seguintes afirmações:
“[D]esejo partilhar convosco algumas reflexões sobre um aspecto do processo humano da comunicação que, apesar de ser muito importante, às vezes fica esquecido, sendo hoje particularmente necessário lembrá-lo. Trata-se da relação entre silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas. Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca um certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado. O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo”.
O autor destas reflexões não é conhecido por ser um grande pensador dos processos da comunicação humana, mas isso não significa que o que diz não mereça figurar nos tratados sobre a comunicação e não venha, de facto, de um grande pensador. O excerto é, na verdade, do Papa Bento XVI e faz parte da mensagem que propôs para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se celebra no próximo domingo.
Vale a pena ler o texto na íntegra, visto que apresenta uma dimensão dos processos comunicativos absolutamente crucial para os tempos que vivemos. Depois de, na mensagem de 2011, o Papa ter chamado a atenção para outra vertente essencial – «quando as pessoas trocam informações, estão já a partilhar-se a si mesmas, a sua visão do mundo, as suas esperanças, os seus ideais» - desta vez, convoca o silêncio. Não o silêncio dos pusilânimes, mas o silêncio ativo dos que buscam a verdade, se interrogam , meditam e, por essa via, se colocam à escuta, procuram discernir o que faz sentido e vale a pena, dão espaço e tempo aos outros, aos que verdadeiramente nos questionam.
“Aprender a comunicar é aprender a escutar, a contemplar, para além de falar”, diz ainda o Papa.
Mas, se é verdade que sem silêncio não há comunicação, não é menos verdade que, com silêncio também pode não haver. Depende do sentido em que o silêncio é experimentado. E muitas pessoas, inclusive na Igreja, vivem o silêncio não como experiência desejada e como atitude de escuta do outro, mas como resultado de atos de silenciamento. E não se trata sequer de inimigos, mas de pessoas que pensam de modo diferente.
Sempre que o silêncio é unilateral - ou seja, exigido a outros para que nos escutem - é falso e nega a comunicação. Mais: tenho para mim que é sinal de fraqueza de quem o procura impor.
Que revolução se faz necessária para dar, hoje, nas nossas circunstâncias, substância a estes desafiosos!
(Uma versão mais reduzida deste texto foi publicada no diário digital Página 1 de 14.05.2012)
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1 comentário:
muito, muito bom. vou roubar... ;)
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