sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ano Novo - O tempo, nas pequenas como nas grandes coisas



Ouvi dizer a um certo homem douto que o tempo não é senão os movimentos do sol, da lua e das estrelas, e eu não concordei. Porque não serão antes os tempos os movimentos de todos os corpos? Será que, se as luzes do céu parassem e continuasse a mover-se a roda do oleiro, deixaria de haver tempo com que medíssemos as suas voltas e disséssemos, ou que se move durante instantes iguais, ou que umas voltas são mais longas e outras menos, se a roda se movesse umas vezes mais vagarosamente e outras mais velozmente? Ou, dizendo isso, não falaríamos também nós no tempo, ou não haveria nas nossas palavras umas sílabas longas, outras breves, a não ser porque aquelas ressoam durante um tempo mais longo e estas durante um tempo mais breve? Ó Deus, concede aos homens a possibilidade de observarem nas coisas pequenas as noções comuns às pequenas e às grandes coisas.

(Santo Agostinho, Confissões, Livro XI, XXIII, 29; ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda/Centro de Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira; trad. Arnaldo Espírito Santo, João Beato e Maria Cristina de Castro-Maia de Sousa Pimentel)

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