Um grupo de ateus entendeu lançar uma campanha publicitária através dos autocarros londrinos (a que “aderem”, pelos vistos, os “autobus” de Barcelona e, brevemente, os de Madrid e de Itália) para dizer que provavelmente Deus não existe e que é melhor gozar a vida, despreocupadamente. Reconhecendo que os ateus devem ter a mesma liberdade de expressão que os crentes (e vice-versa), dois motivos de reflexão me suscita a iniciativa.
Não deixa de ser interessante constatar a cautela com que aventa que Deus não existe. Se “provavelmente” Deus não existe, pela mesma lógica, provavelmente Deus existe. Por aqui, portanto, estamos conversados.
Por outro lado, nenhuma companhia de aviação ousaria lançar uma operação pública para seduzir os consumidores a utilizar os seus voos após uma catástrofe aérea. Ora, que sentido faz anunciar às pessoas que podem esquecer essa ‘coisa’ de Deus e gozar a vida, se o estrondo da crise ecoa e perpassa por todo o lado, deixando o comum dos mortais inquietos?
Entendo, por isso, que, pela substância e pelo contexto, a campanha não está famosa.
Mas ver estes ateus em acção e a ligar a crença ao desprazer e à tristeza de vida é matéria sumarenta para o jornalismo dominante que dá cartas nas nossas redacções. Como soe dizer-se, o assunto tem todos ou quase todos os ingredientes para ser noticiado e explorado até à exaustão. Dá imagens interessantes e títulos chamativos. Suscita ainda o gozo – não a fruição para que aponta a campanha, mas a chacota, que é o nível a que alguns meios jornalísticos conseguem chegar, em matéria de cultura religiosa.
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