“Senti a tentação de o abraçar, mas estamos os dois algo trémulos e poderíamos correr o risco de acabar no chão. Apertamos a mão prometendo voltar a ver-nos em breve”. Assim termina a entrevista de Eugenio Scalfari, fundador do diário La Repubblica, ao cardeal Carlo Maria Martini, hoje publicada no El País.
O encontro ocorreu na residência dos jesuítas em Gallarate, na região italiana da Lombardia. Antes de receber o jornalista, o cardeal, reuniu-se com uns 50 sacerdotes procedentes dos arredores de Milão. Queriam escutar as suas palavras de fé e esperança numa sociedade cada vez menos cristã e cada vez mais indiferente, conta Scalfari. E esta indiferença suscitou a primeira pergunta:
“Eugenio Scalfari - Indiferente em relação a quê?
Carlo Maria Martini - Já não há uma visão do bem comum. O sentimento dominante é o de defender os interesses particulares e não os do grupo. Quiçá pensam que são bons cristãos porque de vez em quando vão à missa e fazem com que os seus filhos recebam os sacramentos. Mas o cristianismo não é isso, não é só isso. Os sacramentos são importantes se coroam uma vida cristã. A fé é importante se avança junto com a caridade. Sem a caridade, a fé está cega. Sem caridade no há esperança e não há justiça.
Eugenio Scalfari - O senhor, cardeal Martini, afirmou em muitas ocasiões que a caridade é importante, mas talvez seja necessário definir com exactidão o que quer dizer com esta palavra. Não creio que se limite a fazer o bem ao próximo.
Carlo Maria Martini - Fazer o bem, ajudar o próximo, são desde logo aspectos importantes, mas não são a essência da caridade. Há que escutar aos demais, compreendê-los, inclui-los no nosso afecto, reconhecê-los, romper a sua solidão e ser seus companheiros. Em resumo: amá-los. A caridade anunciada por Jesus é a participação plena na sorte dos outros. Comunhão dos espíritos, luta contra a injustiça”.
O resto da entrevista pode ser lida aqui.
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