Precisamente porque a leitura do que se vinha e tem vindo a passar nas Honduras não é redutível à lógica do preto e do branco e porque a tensão latente pode levar a resultados lamentáveis é que não deixa de ser surpreendente a tomada de posição da Conferência Episcopal do país, riscando sem hesitações a favor daqueles que o geral da comunidade internacional considera serem golpistas.
A mim espanta-me esta agilidade na tomada de partido, num subcontinente onde os movimentos dos militares na esfera do poder político, ao longo de boa parte do século XX - incluindo nas Honduras até aos inícios dos anos 80 - deveria aconselhar alguma precaução. E o cardeal e arcebispo de Tegucigalpa Oscar Andrés Rodríguez, que esteve em Maio passado em Fátima, não é um hierarca qualquer. Não era ele um dos 'papabile', aquando do último conclave?
1 comentário:
Caro Manuel Pinto
Concordo que a situação nas Honduras é estranhíssima.
1. O argumento para a destituição do presidente não colhe plenamente. Pois que ele pretendia fazer uma consulta sobre se em novembro se haveria de colocar uma 4ª urna para as pessoas dizerem se concordavam com a convocação de uma assembleia constituinte. aparentemente nada tinha a ver com hipotética reeleição, pelo que não percebo de todo porque vem a conferencia episcopal usar esse «argumento».
2. é um facto que todas as instituições do estado entenderam ser ilegal a consulta planeada, e que existiu uma ordem judicial para a detenção do presidente, pelo que em sentido estrito não se pode usar o termo «golpe militar», na medida em que , aparentemente cumpriram uma decisão dos orgaos competentes do estado.
3. no entanto, em vez de o deterem, puseram-no fora do país, o que tem dois significados imediatos: é tal decisão contrária á constituição, como dizem os bispos, e constitui uma subversão senão boicote do mandato judicial.
4. se objectivo é prender presidente, para o qual existirá mandato judicial, não se compreenderá facilmente porque não o deixam voltar.
5. e, face a tantos factos contraditórios, era do mais elementar bom senso que a hierarquia católica se tivesse abstido de tomar partido de forma tão ostensiva (e quanto a mim, com falha de argumento) pois coloca-se numa posição especialmente difícil se a situação se inverter e sobretudo porque nega o seu papel que sempre deveria ter de facilitadora da paz, de conselheira, de intermediária, sem que para tal tivesse de prescindir de pensar e ajuizar livremente os factos.
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