“…as ovelhas seguem-no porque conhecem a sua voz.” (Evangelho de São João 10, 4 - Domingo IV da Páscoa)
(Ilustração: Michelangelo, A Criação de Adão, na Capela Sistina)
Dizem os pediatras que é na barriga das mães que começamos a reconhecer as vozes da mãe e do pai, e de outros que nos falem habitualmente. Parece que tudo o que é vivo gosta que se lhe fale, e até as plantas e os animais reagem às palavras e a expressões da comunicação humana, como a música, por exemplo. Não sei quem me disse que as plantas que tinha em casa andavam mais viçosas e vivazes desde que começara a falar com elas (é claro que não podia dizer isso às vizinhas senão chamar-lhe-iam “maluquinha”!). E também que as vacas davam melhor leite quando ouviam música clássica! Quantas vezes não experimentámos o acelerar do coração ao ouvir a voz de alguém que amamos? E não é pela voz, mais até pelo modo como dizemos, que revelamos o que vai por dentro de cada um?
Gosto de lembrar o primeiro relato da criação e o modo como Deus cria com a sua palavra: “Haja luz… e águas… e terra… e plantas e animais… e o homem e a mulher.” E também como se foi revelando pela voz com que chamou, escolheu e fez aliança. Chamou os profetas para falarem em seu nome. Enviou o Filho como Verbo feito carne, a Voz feita choro de criança e palavra salvadora: “Levanta-te… vai em paz… os teus pecados estão perdoados… Lázaro, sai para fora... amai-vos como Eu vos amei.” Com que agitação interior escutavam as suas palavras todos os que O ouviam! E como se sentiam reconhecidos e amados mesmo com as suas vidas enredadas e enganadas por mil outras vozes! Aquela voz que dava vista aos cegos, energia aos paralíticos, vida aos mortos prolonga-se na voz dos seus discípulos: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda”, disse Pedro ao paralítico da porta do Templo chamada Formosa!
No meio de tantas vozes, que a instabilidade económica e política propicia, temos sede de confiança. Não bastam vozes esperançosas ou denunciadoras; é preciso que quem fala seja merecedor de confiança. Não se pede que seja perfeito, mas que seja humilde, que seja coerente, que não ceda à corrupção ou ao oportunismo. Que arrisque a vida por aquilo que diz, restaurando a dignidade das palavras, e levando quem escuta a comprometer-se na mudança. Se muitas vozes servem mais para dividir e buscar glórias pessoais, ou para adormecer e fazer crescer a desconfiança, estamos a matar as palavras! Como é a nossa voz de cristãos por entre o imenso ruído de fundo deste tempo? É voz que acolhe, que liberta, que promove, que não julga mas procura salvar? Acreditamos mesmo que a voz de Cristo passa pelos nossos lábios? E como Igreja a palavra precisa encarnar primeiro em nós?
Quando conhecemos a voz de quem nos quer bem e nos estimula a ser mais; voz que suscita diálogo e não adormecimento; voz que lança pontes e abre portas à beleza; voz que é encontro com Deus e nos convoca para mudar o que está mal; também queremos seguir o pastor que nos cativou! Mas o inverso também é verdade!
Dizem os pediatras que é na barriga das mães que começamos a reconhecer as vozes da mãe e do pai, e de outros que nos falem habitualmente. Parece que tudo o que é vivo gosta que se lhe fale, e até as plantas e os animais reagem às palavras e a expressões da comunicação humana, como a música, por exemplo. Não sei quem me disse que as plantas que tinha em casa andavam mais viçosas e vivazes desde que começara a falar com elas (é claro que não podia dizer isso às vizinhas senão chamar-lhe-iam “maluquinha”!). E também que as vacas davam melhor leite quando ouviam música clássica! Quantas vezes não experimentámos o acelerar do coração ao ouvir a voz de alguém que amamos? E não é pela voz, mais até pelo modo como dizemos, que revelamos o que vai por dentro de cada um?
Gosto de lembrar o primeiro relato da criação e o modo como Deus cria com a sua palavra: “Haja luz… e águas… e terra… e plantas e animais… e o homem e a mulher.” E também como se foi revelando pela voz com que chamou, escolheu e fez aliança. Chamou os profetas para falarem em seu nome. Enviou o Filho como Verbo feito carne, a Voz feita choro de criança e palavra salvadora: “Levanta-te… vai em paz… os teus pecados estão perdoados… Lázaro, sai para fora... amai-vos como Eu vos amei.” Com que agitação interior escutavam as suas palavras todos os que O ouviam! E como se sentiam reconhecidos e amados mesmo com as suas vidas enredadas e enganadas por mil outras vozes! Aquela voz que dava vista aos cegos, energia aos paralíticos, vida aos mortos prolonga-se na voz dos seus discípulos: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda”, disse Pedro ao paralítico da porta do Templo chamada Formosa!
No meio de tantas vozes, que a instabilidade económica e política propicia, temos sede de confiança. Não bastam vozes esperançosas ou denunciadoras; é preciso que quem fala seja merecedor de confiança. Não se pede que seja perfeito, mas que seja humilde, que seja coerente, que não ceda à corrupção ou ao oportunismo. Que arrisque a vida por aquilo que diz, restaurando a dignidade das palavras, e levando quem escuta a comprometer-se na mudança. Se muitas vozes servem mais para dividir e buscar glórias pessoais, ou para adormecer e fazer crescer a desconfiança, estamos a matar as palavras! Como é a nossa voz de cristãos por entre o imenso ruído de fundo deste tempo? É voz que acolhe, que liberta, que promove, que não julga mas procura salvar? Acreditamos mesmo que a voz de Cristo passa pelos nossos lábios? E como Igreja a palavra precisa encarnar primeiro em nós?
Quando conhecemos a voz de quem nos quer bem e nos estimula a ser mais; voz que suscita diálogo e não adormecimento; voz que lança pontes e abre portas à beleza; voz que é encontro com Deus e nos convoca para mudar o que está mal; também queremos seguir o pastor que nos cativou! Mas o inverso também é verdade!
(Por indisponibilidade, as duas anteriores crónicas À Procura da Palavra não foram publicadas no blogue; podem ser lidas aqui.)
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