SALMO
Cantai a seiva que sobe das raízes,
O arado do tempo cortando o nevoeiro;
Cantai a vida que sangra e incendeia,
Vós todos que lavrais a terra, tecelões e pedreiros
Entrai na força escondida do desejo,
Domadores de cavalos, aguadeiros,
Pois vossas mãos acenderam candeias
E vossos olhos alumiaram a noite
Trazei à taça da vida nova que se anuncia
Os trapos velhos das dores enterradas;
Joalheiros de dedos magoados,
Vós todos que esperais o parto das sementes
Assinalai a pedra onde caístes
E a madeira em que vos crucificaram:
Porque há música nos ritos da tortura
Que canta o dia novo que não tarda
Enquanto não sabemos o caminho,
Cantemos já o dom de caminhar;
Se estamos juntos não teremos medo:
Alguém no invisível nos espera
Plantemos flores à beira do abismo
Há-de haver no deserto um lugar de água
Alguém que nos chame pelo nome
E nos acolhe ao termo da viagem.
José Augusto Mourão
in O Nome e a Forma
Outras fontes:
Visão: José Augusto Mourão - Ignoto Deo
Pàgina 1: O Vazio Verde.
3 comentários:
Maravilhoso salmo/poema!
Encontrar José Augusto Mourão é encontrá-lo na alegria da música, da poesia, do texto, da palavra e de uma expressividade invulgar que nos conduz ao mais delicado e belo sentido da vida, e nos impulsiona para a vida!
Obrigada Manuel Pinto pelo envio deste link que me fez reflectir bastante!
Um abraço.
Maria do Rosário Sousa
Et lux perpétua... (Requiem de w. A. Mozart).
Um professor que recordo, talvez não tanto pela teoria da literatura, mas por essa "expressividade invulgar". Só ontem vim a saber que partiu... um professor que não esquecerei.
meu anjo e querido amigo, nunca esquecerei de ti.
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